UIL

O naufrágio do Principessa Mafalda, o Titanic Italiano

A história do luxuoso transatlântico que naufragou nas costas da Bahia, em 1927, e pôs fim ao destino de centenas de imigrantes italianos.

O Principessa Mafalda, construído na primeira década do século XX, recebeu o nome da filha do rei da Itália Vítor Emanuel III. Com 147 metros de comprimento e 9.210 toneladas, a sua viagem inaugural ocorreu em 1909. Moderno, luxuoso e rápido, era capaz de realizar a viagem entra a Itália e a Argentina, em 14 dias. As famílias ricas uruguaias, argentinas e brasileiras utilizavam o navio, frequentemente, em viagens para a Europa. Além disso, a embarcação, dada a sua dimensão, conduzia centenas de imigrantes. 

Em uma amena tarde tropical de outubro de 1927, a Principessa Mafalda navegou em direção às Ilhas dos Albrolhos, no litoral do estado da Bahia. O transatlântico rumava para o Rio de Janeiro, com destino final em Buenos Aires, na Argentina. O navio, que tinha uma carreira relativamente monótona desde o seu lançamento em 1908, estava prestes a entrar para a história como um dos piores desastres marítimos da o século XX e sem dúvida a maior perda de vidas em um acidente marítimo no hemisfério sul.

O Principessa Mafalda foi construído em 1908 para o Lloyd Italiano, nos estaleiros de Riva Trigoso, perto de Gênova. Posteriormente, com a fuão da empresa, passou a pertencer ao Navigazione Generale Italiana (NGI).

Sob o comando do experiente Capitão Simon Guli, de 55 anos, deixou as Ilhas de Cabo Verde com destino ao Rio de Janeiro no dia 18 de outubro de 1927, com 971 passageiros e 288 tripulantes.

Na tarde do dia 25, ao se aproximar da Ilha de Abrolhos, no litoral do Brasil, ela passou pelo navio a vapor Blue Star "Empire Star" sob o comando do Capitão C.R. Cooper. Apenas dez minutos depois, eles receberam um sinal de SOS, informando que havia problemas no motor. Eles viraram o navio e encontraram o transatlântico danificado com os barcos içados. Centenas de passageiros lotavam o convés superior em pânico, alguns pulando no mar. Alguns barcos desmoronavam, outros eram inundados por pessoas em pânico. Parecia que o único problema era um eixo de hélice quebrado que deixou água para a casa de máquinas como resultado do qual algumas caldeiras explodiram. Quando o navio se assentou um pouco com uma ligeira inclinação para bombordo, o pânico estourou e a tripulação se ocupou em acalmar os passageiros, em vez de tentar salvar o navio. De qualquer forma, a tripulação do Empire Star estava tentando resgatar o máximo de pessoas possível. Posteriormente foram auxiliados por outras embarcações que chegaram ao local. O navio permaneceu flutuando por 4 horas e 20 minutos.

Imagens do Principessa Mafalda, em seus Dias de Glória.

O resultado final foi que 314 pessoas morreram afogadas, em grande parte italianos que ocupavam a Terceira Classe, provavelmente imigrantes com destino para o Brasil e a Argentina.  

Navegação

O Principessa Mafalda levantou âncora em Gênova, em 11 de Outubro de 1927. Transportou 300 toneladas de carga, incluindo 600-700 malas postais. O navio também tinha 250.000 liras de ouro do governo italiano destinadas ao governo argentino. Este foi carregado a bordo por cinco guardas armados.

A empresa informou, logo após o acidente, que a lista de passageiros era composta por três passageiros da Primeira Classe, 10 da Segunda Classe e 9 da Terceira Classe para o Rio de Janeiro, sendo 6 da Primeira Classe, 4 da Segunda Classe e 48 da Terceira Classe para Santos, sendo dois da Primeira Classe , quatro da Segunda Classe e 48 da Terceira Classe com destino a Montevidéu e, finalmente, 41 passageiros da Primeira Classe, 55 da Segunda Classe e 711 da Terceira Classe com destino a Buenos Aires.

Segundo a Embaixada da Itália no Rio, estavam incluídos na Terceira Classe 212 "estrangeiros". Eram 118 sírios, 38 iugoslavos, dois austríacos, um suíço, um argentino, um uruguaio e cinquenta cidadãos espanhóis. Isso pode significar que o restante era de italianos emigrando para a Argentina e o Brasil.

Presságios

A Principessa Mafalda estava em sua 90ª viagem de ida e volta para a Argentina, quando partiu de Gênova no dia 11 de outubro de 1927. Normalmente, a viagem para Buenos Aires levava 17 dias, com escalas intermediárias em Barcelona, San Vicente nas Ilhas de Cabo Verde, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu. Retrospectivamente, a empresa marítima anunciou que esta 90ª viagem seria a última da Mafalda, nesta rota, e que a embarcação seria deslocada para a rota Gênova-Alexandria - sendo substituída pelo Augustus.

O desastre do Principessa Mafalda foi o maior jamais ocorrido nas costas brasileiras.

A esposa do capitão Guli, mais tarde, relatou que seu marido sentiu que a viagem terminaria mal e que ele havia pedido para ser transferido para fora do navio. A imprensa italiana afirmou que o navio estava em más condições e que isso era conhecido nos círculos de seguro marítimo de Londres. A companhia de navegação negou, afirmando que sua liberação das autoridades italianas de emigração era válida até 1929.

Porém, a última viagem do Mafalda corroboraria a opinião da crítica. Os problemas a bordo tornaram-se evidentes, assim que o navio deixou o Mediterrâneo. Um passageiro presenciou o carregamento de uma biela sobressalente (una biela) em Gênova, que interpretou como um sinal de que os problemas já eram evidentes. O navio saiu de Gênova às 17 horas, 5 horas atrasado.

Deixou Barcelona muitas horas depois da hora programada de partida (embora a explicação para este atraso não seja revelada). O navio parou várias vezes em alto mar. A certa altura, o navio ficou imóvel por 30 horas. O navio estava muito atrasado, com a chegada ao Rio supostamente na manhã do dia 25. Naquela altura, o Mafalda ainda estava bem longe da costa norte do Brasil. Houve vários outros problemas na rota, incluindo bombas que não funcionavam, falta de água nos banheiros e vasos sanitários e uma falha no sistema de refrigeração que resultou em toneladas de comida sendo despejadas no mar.

Os passageiros da terceira classe já estavam assustados com os comentários da tripulação. A situação agravou-se no dia 23, quando alguns passageiros concluíram que o navio estava a encher-se de água e foi convocado um bote pelo capitão. No dia seguinte, havia um outro bote e o navio estava com uma inclinação de 7º a 10º para bombordo. Hoje o Principessa Mafalda repousa sob uma profundidade de aproximadamente 250 metros. (Fonte: http://www.principessamafalda.freeservers.com)