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A sabedoria da cabra: uma viagem musical nas falas dos judeus italianos

Uma viagem musical nas falas dos judeus italianos desde a renascença até os nossos dias (mas não se assustem, não faremos uma coisa muito longa) Atualmente, pensando nos judeus da Itália, pensamos a uma comunidade pequena, cujos números pareceriam significar pouco quer seja no plano nacional quer seja no contexto mais geral do mundo judaico. Mas, a historia judaica se entrelaça indissoluvelmente, da mais de dois mil anos, com a historia dos povos e dos territórios da Itália.

Em Roma, atualmente, vive a comunidade judaica com maior longevidade do mundo, lembrando um tempo quando ainda o Templo de Salomão se erguia em Jerusalém, e a longa historia da diáspora judaica não se podia sequer imaginar; o sul da Itália, antes que a “expulsão” dos territórios espanhóis de 1492 não se expandisse até a Sicilia e ao nosso sul, hospedou judeus de enorme cultura, capazes de representar a ponte para a Europa das grandes correntes do pensamento judaico que estava se desenvolvendo no Oriente Médio e nos territórios de denominação árabe (e foram famílias italianas, originarias do sul da Itália, a dar na Idade Media a faísca que fez crescer e proliferar no centro da Europa o grande mundo do judaísmo ashkenazita); da Renascença em diante, o norte da Itália continuou a hospedar centenas de comunidades capazes de fundir, no seu interior, as memórias antigas dos judeus romanos com os novos chegados, os prófugos sefarditas dos territórios espanhóis e do mediterrâneo, mas também os judeus alemães e do leste europeu que por mais vezes tentaram nesta o naquela corte italiana um refugio contra as perseguições sofridas em outros lugares.

Esta é uma historia de pessoas, de culturas, de música, de línguas. Nas tantas comunidades italianas viveram idiomas, falas locais, verdadeiros e próprios dialetos nascidos pela mistura de memórias, experiências, exílios; muitas vezes cimentados pela experiência dos guetos, que por durante dois séculos mantiveram os judeus de muitas cidades italianas em uma apertada, forçada, convivência. E se do judaico-romanesco ainda hoje não falta quem se esforça em mante-lo vivo – de escrever poesias, de recitar comedias, de falá-lo – de outras línguas ricas e preciosas estamos arriscando de perde-las. Encontra-se ainda, por sorte, especialistas e estudiosos do bagitto, filho além que do hebraico e do livornes dos judeus que o falavam, mas também e, sobretudo do castelhano dos antepassados daqueles mesmos judeus. Mas do ghettaiolo que era falado em Ferrara, do qual algumas palavras estão ainda nas memórias da minha família, acho que atualmente é difícil encontrar rastros. E o mesmo poderia ser dito das falas locais da Toscana, do Veneto, do Piemonte e assim por diante...

Este concerto move-se entre as rimas da ceia Pasqual como “Khad Gadya”, o cabrito (que se torna a cabra, alias a crava, em uma versão piemontesa) que lhe da o título, entre poesias renascentistas da Emilia hebraica, faladas em judaico-florentino, canções em bagitto livornes e em judaico romanesco, passando por cantos no antigo yiddish que na Renascença viu, justamente na Itália, a impressão dos seus primeiros volumes. Mas é sobretudo uma viagem divertida, por vezes comovente, capaz de lançar um olhar vivo sobre um pedaço da nossa historia, longe de folklorismos e de recordações chorosas do “tempo que foi”. E antes de ter feito gnossescialòm, ou seja três passos para trás e modìm, ou seja ter agradecido, esperamos ter conseguido fazer para todos – até para os gnearini e as bachurod; em suma, para todo o gnolàm que vai querer nos gnainare e ouvir, uma bela simchà.

Informações

Data: quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Horários: 18:00

Local: Sala Italia - Av. Pres. Antônio Carlos, 40/4

Organizado por: Instituto Italiano de Cultura do Rio de Janeiro

entrada franca