Investimentos europeus para a AL devem voltar a crescer, diz BID
Por Márcia Freitas
Depois de três anos em queda, os investimentos diretos europeus na América Latina deverão iniciar uma recuperação neste ano, segundo um novo relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
De acordo com o escritório europeu do BID, que elaborou o relatório, existe uma combinação de fatores que devem contribuir para essa recuperação.
"Por um lado, a América Latina depende muito da situação da economia mundial, que tem apresentado melhoras. Por outro lado, a região tem apresentado mais estabilidade política e econômica recentemente e as economias voltaram a crescer. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), esse crescimento deve chegar a quase 5%. Esse é um fator importante", afirma Ziga Vodusek, um dos autores do relatório.
O estudo do BID analisou o fluxo de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDEs) do ponto de vista dos países investidores com base em dados coletados em oito países: Espanha, Portugal, Itália, Grã-Bretanha, Holanda, Suíça, França e Alemanha.
Desde 2000 vinha sendo registrada uma queda de IDEs para a América Latina. Segundo um recente estudo feito pela Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), o fluxo de investimentos caiu pela metade entre 2001 e 2003, de US$ 84 bilhões para US$ 42 bilhões. Na Ásia e no Pacífico, por exemplo, a queda foi bem menor, de US$ 107 bilhões para US$ 99 bilhões.
Liquidez
Essa queda tão acentuada na América Latina pode ser atribuída a uma combinação de fatores globais, regionais e locais.
Por um lado, houve queda do fluxo de IDEs em um nível global e particularmente de países desenvolvidos para países em desenvolvimento.
Essa desaceleração se deveu principalmente à queda de liquidez nos mercados de ações, comparada aos índices registrados nos anos 90, o que fez com que houvesse menos recursos para investimento.
Por outro lado, diversos países da América Latina passaram por um processo de privatização e liberalização dos mercados que atraiu níveis recordes de investimento durante os anos 90. Em 1998, por exemplo, entre os países emergentes, o Brasil ficava atrás apenas da China como recipiente de IDEs.
A partir do final dos anos 90, essas reformas terminaram ao fim, contribuindo para uma redução no fluxo de investimentos. Ao mesmo tempo, alguns países, como o Brasil e a Argentina, passaram por crises econômicas, ajudando a acentuar essa queda ainda mais.
Segundo o estudo do BID, a situação no Brasil, que se iniciou com a desvalorização do Real em 1999, foi um dos eventos mais determinantes na redução do fluxo de investimento europeu a partir de 2000.
Serviços
Mas nem todos os países da América Latina foram afetados por uma redução acentuada no fluxo de investimentos diretos. O México, por exemplo, não foi tão afetado.
Ziga Vodusek explica que os IDEs vão para a América Latina por uma série de razões. "Existem investimentos que buscam mercado, investimentos que buscam recursos e investimentos que buscam eficiência", afirma.
Nos países do Mercosul, por exemplo, a concentração de investimentos no setor de serviços é particularmente forte. No Brasil, no perído entre 1997 e 2000, 81% de todos os IDEs foram no setor de serviços.
Como o setor de serviços é bastante afetado pelas situações de instabilidade locais, isso explicaria em parte a redução acentuada de investimento direto em alguns países latino-americanos.
"No México, os investimentos são feitos buscando uma plataforma de exportação. Isso explica em parte por que o país não foi tão duramente afetado pela queda no fluxo de investimentos", diz Vodusek.
Exportação
"No Mercosul, por causa da desvalorização na moeda de alguns países, houve essa mudança no que diz respeito aos setores mais beneficiados por investimentos diretos. Isso levou a maior competitividade na indústria manufatureira. Então há mais investimentos nesse setor", afirma Vodusek.
Esse aumento da competitividade no setor manufatureiro acabou gerando novos investimentos. No setor automobilístico, por exemplo, esses novos investimentos envolveram empresas como a Volkswagen no Brasil e a Peugeot-Citroën na Argentina.
Segundo o estudo do BID, pode haver uma oportunidade para que a América Latina atraia investimentos mais diversificados, que busquem eficiência e tenham como objetivo estabelecer uma plataforma de exportação.
Para isso, no entanto, segundo Ziga Vodusek, é preciso que haja mais progresso na busca pela competitividade.
"Essa competitividade é obviamente uma questão estrutural. Para isso, é preciso investimento em infra-estrutura, melhorando o sistema de educação, ciência e tecnologia. Ao mesmo tempo, é preciso manter a política econômica estável."
Vodusek diz também que a integração regional e o estabelecimento de acordos de livre comércio como a Alca ou acordos bilaterais, como o firmado entre o Chile e os Estados Unidos, e o Mercosul e a União Européia, devem contribuir para que a região se transforme em uma plataforma para exportação, fazendo crescer os investimentos diretos.
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