Italianos foram os que mais reemigraram
Listas de saída de estrangeiros arquivadas no Memorial do Imigrante, em São Paulo, revelam que o retorno ao local de origem ou a reemigração eram muito comuns entre as pessoas que imigravam para o Brasil no início do século XX. Os dados foram pesquisados pela historiadora Ilana Peliciari Rocha. "O estudo mostra que o fluxo migratório era dinâmico, apesar da intenção oficial de fixar os estrangeiros no território nacional", destaca.
A historiadora analisou as listas de saída de estrangeiros que embarcavam em navios no porto de Santos, em 1908, além dos números oficiais de entrada e saída de imigrantes entre 1890 e 1920, para dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. "Dos 190 mil imigrantes que entraram em São Paulo entre 1906 e 1910, 91% deixaram o Brasil", aponta. "Em 1908, há registro de 30.093 saídas, sendo 26.843 na terceira classe dos navios, onde viajavam a maioria dos imigrantes".
Dos estrangeiros que saíram pela terceira classe, 58% retornavam ao seu local de origem e 40% imigravam para outros países. Entre os imigrantes, 53% integravam núcleos familiares (cônjuges e filhos). "Apesar de a maioria das saídas serem de homens na faixa etária produtiva, havia 31% de crianças com menos de dez anos de idade", conta Ilana. "A política oficial de imigração pretendia fixar as famílias no Brasil, mas estas continuaram a participar dos fluxos migratórios".
Dos 15.753 imigrantes que retornaram ao país de origem, 10.101 eram italianos. Porém, a maior taxa de retorno foi registrada entre os portugueses (83%). "A maioria deles vinha e voltava de Portugal sozinhos", explica Ilana. "A historiografia do período registra que as idas e vindas de portugueses ao Brasil eram muito freqüentes". No total de viagens de terceira classe, 10.974 eram de imigração para outros países.
Oportunidades
Entre os 5.296 espanhóis que deixaram o porto de Santos em 1908, 74% migraram para outros países, principalmente a Argentina e os Estados Unidos. "Em relação aos italianos e portugeses, o movimento migratório de espanhóis era mais recente, impulsionado principalmente pelas restrições a imigração impostas na Itália em 1901 e 1902", ressalta Ilana. "Como as condições da Espanha na época eram mais difíceis, eles preferiam buscar oportunidades em outros países".
De acordo com a pesquisadora, a análise dos números desmente a idéia de que o retorno e a reemigração estão associadas a um fracasso da fixação dos estrangeiros no Brasil, especialmente na lavoura de café. "Ao longo de todo o processo migratório no início do século XX se observa um fluxo constante de entrada e saída", explica. "Esse mesmo dinamismo também é verificado dentro da Europa, e estaria associado à busca de novas oportunidades", explica.
Entre 1901 e 1905, as saídas de imigrantes representaram 87% das entradas, número que caiu para 51% entre 1911 e 1915. Ilana aponta que a maioria das saídas registradas em 1908 ocorreu nos meses de outubro, novembro e dezembro, após a colheita do café, que acontecia em setembro.
"Como a maioria dos imigrantes trabalhava na lavoura cafeeira, é provável que tenham usado o dinheiro recebido para empreenderem uma nova viagem". Ao mesmo tempo, apenas 3,4% dos viajantes pagaram a passagem com o auxílio financeiro para retorno fornecido pelo governo e pelos consulados. "Este dado mostra que a situação do imigrante no Brasil, a princípio, não era tão miserável ou precária".
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