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O Adeus

Por Scyla Bertoja - bertoja@terra.com.br

No norte da Itália, na região chamada Valsugana, pertencente à Província de Trento, numa pequena cidade de 720 habitantes, a quase 1.000m de altitude, conheci pessoas cuja lembrança jamais se apagará de minha memória. Dentre elas, muitos possuem  num local  mais acima, a 1.500m, pequenas casas, de pedra em sua maioria, onde se instalam somente no verão. Levam as vacas de leite e as cabras, para aproveitar as pastagens. Lá eles cortam feno duas vezes durante a estação e o  guardam para o inverno. A vida é simples lá em cima.

Mesmo no verão,  à noite precisa-se da lareira ou outro tipo de aquecimento. Até a década de oitenta não havia luz elétrica. Um tipo de lampião à gás era utilizado para iluminar as reuniões de amigos e vizinhos que conversavam e cantavam até tardas horas nas cozinhas aquecidas pelos fogões ou lareiras.

Nas refeições sempre  o minestrone, a polenta, a luganega, a salada e o queijo. E o vinho para aquecer. Da última vez em que lá estive, não resisti ao desejo de criar uma história. Primeiramente deveria ser um conto. Depois virou poesia. Porque há uma verdadeira conspiração: a paisagem, as pessoas do local, a vida simples, a flora alpina, os momentos mágicos. Imaginei que um dos membros destas famílias um dia deixou sua casa e também seu refúgio nas montanhas e só muitos anos mais tarde voltou, já no fim da vida, como acontece, às suas origens.Sua casinha não era de pedra, mas de madeira tosca.

Tentei interpretar numa poesia, hipoteticamente, os seus sentimentos enquanto subia pela estradinha que serpenteava por entre a vegetação à beira do abismo, à medida que se aproximava do lugar tão amado. Porque ali vivera, a seu modo de homem simples, momentos da mais pura felicidade. Na minha ficção poética, ao chegar, ele fala com a casa. Título:  L'Addio, O Adeus.

"era la fine di Marzo e ancor pioveva
sono arrivato per l'ultima volta
anche se solo per um quarto d'ora
com te volevo stare
e da vicino il tuo legno toccare

piangeva il cielo e tutta la natura
sembrava di capire il mio dolore
ad ogni svolta, ad ogni capitello
gridavano i ricordi nascosti nel mio cuore
ad ogni trato di strada un gran silenzio
e quella fredda pioggia a bagnare la valle

ed ancora più su, ti ho vista, che aspettavi

Casetta mia, il tempo ormai ci ha vinti
e ha lasciato i suoi segni
sul tuo rustico legno
la ruggine divora il tuo cancello
soffrono il giglio, la genziana e l'alpina stella

restano i pini che orgogliosi ti circondano
come soldati col capello e penna
come se dentro te ancor ci fosse
il corpo morto del suo Capitano.

Osservazione: Il "Capitano" é personaggio della canzone "Il testamento del Capitano" (N.A.)