Parmalat volta a operar todas as unidades
A Parmalat Brasil retomou as atividades de sua fábrica em Santa Helena de Goiás (GO), a última das nove unidades da empresa no País que faltava recolocar em operação.A produção foi reiniciada em virtude de um contrato de exportação de 1,5 mil toneladas mensais de leite em pó para a Europa, explicou ontem em Porto Alegre o presidente da empresa no Brasil, Nelson Bastos, no cargo desde o dia 15 de abril.
Bastos viajou ao Rio Grande do Sul para participar de uma sessão da Comissão de Agricultura da Assembléia Legislativa gaúcha sobre a situação da Parmalat e também para tentar iniciar a resolver o problema da unidade de Carazinho. A unidade é a mais importante no recebimento de leite para a Parmalat no Brasil. Até o ano passado, antes de estourar o escândalo contábil na matriz italiana, a indústria trabalhava com 1,2 milhão de litros diários - mais da metade dos 2,3 milhões captados em todo o País até então. Hoje, o volume gira em torno de 350 mil litros.
"Carazinho é hoje o nosso maior problema de abastecimento no Brasil. Estou no Rio Grande do Sul para fazer com que os produtores acreditem na gente e nos forneçam mais leite", diz Bastos, sócio-diretor da Íntegra, consultoria especializada em reestruturação de negócios, indicada pela matriz para gerir a empresa no Brasil após o final do processo de intervenção da Justiça brasileira nas operações nacionais da Parmalat .
Para atrair de volta os fornecedores, a Parmalat iniciou em março um programa de pagamentos quinzenais e, a cada cinco litros vendidos, o produtor recebe adiantado por um. "Voltando a fornecer para a empresa, no quinto mês o produtor vai recuperar o que a Parmalat lhe deve. E por enquanto estamos proibidos de pagar os produtores que não nos fornecem", argumenta Bastos. Segundo ele, já estão operando normalmente as unidades de Garanhuns (PE) e Ouro Preto D'Oeste (RO). Em Itaperuna (RJ), unidade sob a intervenção do governo estadual onde são fabricados os produtos Glória, Bastos calcula que a atividade está por volta de 65% da capacidade instalada e a empresa deve retomar a gestão nos próximos meses.
Em todo o País, a captação de leite hoje é de aproximadamente 750 mil litros por dia e a meta é dobrar o volume até o fim do ano. Os produtos lácteos correspondem a 50% do faturamento da empresa no País - cifra que chegava a R$ 130 milhões mensais antes da crise e, em maio, foi de R$ 39 milhões. Segundo informações de Bastos, as fábricas de biscoitos, sucos e produtos vegetais também estão caminhando para a normalidade.
Mesmo dobrando o volume de leite até o fim do ano, Bastos admite que a empresa vai operar com uma captação inferior a 2,3 milhões de litros diários, como ocorria até meados de 2003. "A Parmalat sempre teve prejuízos no Brasil. A administração anterior da trabalhava com o objetivo de obter 'market share'. Nossa meta é geração de caixa operacional. E esperamos concretizar esse planejamento a partir de setembro. Trabalharemos com o volume de leite que nos dê resultados", afirma.
Segundo Bastos, o trabalho para recuperar a empresa "de uma crise importada" levou à necessidade de diminuir 67% das despesas. "Cortamos despesas em áreas administrativas como presidência, diretores, gerências executivas. Tínhamos, por exemplo, um contrato para serviços de fotocópias que nos custava R$ 90 mil por mês. Baixamos para R$ 3 mil", diz.
Bastos afirma que o papel da nova gestão é "arrumar a empresa para depois se chegar a um acordo com os credores", que depois poderão optar, se for o caso, pela venda de alguns ativos. Segundo ele, as dívidas operacionais são "de alguns poucos milhões de reais" e, com os bancos, cerca de R$ 500 milhões. Dia 2 de julho é a data marcada para que a Parmalat entregue a documentação necessária para a Justiça apreciar o pedido
Notícias Relacionadas