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Qua ancora se parla talian: Aqui ainda se fala italiano

Por Graziela Andreatta

Língua utilizada pelos italianos que chegaram na Serra (RS) e descendentes tende a desaparecer.

Nas mesas de carteado do Bar dos Vermelhos, como é conhecida a Lancheria Bertuol - que recebeu esse nome por causa da cor do cabelo dos donos -, apenas um traço da cultura italiana não reina mais absoluto: o vinho foi substituído pela cerveja. Tirando isso, ninguém pode negar que aquele é um típico "bar de gringo". Localizado no centro da região administrativa de Forqueta (a 15 km do centro de Caxias do Sul), é possível identificá-lo de longe pelos gritos, os porchis e as batidas firmes, acompanhadas de gargalhadas muito altas cada vez que o jogador lança uma carta que ele sabe que o adversário não pode superar.

Do lado de dentro, parece o cenário de um lugar onde o tempo congelou para manter a cultura, enquanto o mundo do lado de fora corria. As mesas de madeira e as cadeiras com assento de palha abrigam homens na faixa dos 50 anos que jogam os jogos que aprenderam dos pais, vindos da Itália, na mesma língua que eles usavam para se comunicar: lori i parla talian.

- E ti, te capissi talian? - questiona de imediato Pedrinho Barbante, 54 anos, ao conversar com o Pioneiro, repetindo a pergunta quase obrigatória feita pelos descendentes de italianos mais antigos aos mais jovens.

No entanto, a resposta que ele adoraria receber, um si, tende a se tornar cada vez mais rara. É que a língua falada aqui, que se convencionou chamar de talian, é uma mistura de todos os dialetos, predominantemente o vêneto, falados pelos imigrantes que se estabeleceram na região. Mas ela não é usada em nenhum outro lugar do mundo. Nem na Itália, onde os dialetos já se misturaram com o italiano oficial do país.

A professora e pesquisadora Cleodes Piazza Ribeiro diz que a tendência é de que o mesmo ocorra na região e que, em 50 anos aproximadamente, não se fale mais o dialeto. A explicação para isso é simples: a língua é dinâmica e modifica-se ou morre conforme o uso. Como o dialeto não é mais necessário à comunicação, porque os descendentes de italianos agora falam português, ele deve cair em desuso.

- Uma língua que não é usada para a comunicação está fadada ao esquecimento. Ela morre. Foi assim com o latim e vai ser assim com o dialeto aqui da região - explica.

Para Cleodes, ficarão as canções - que não fazem apenas parte do repertório de velhos saudosistas e arrebanham um bom número de grupos musicais jovens - e os provérbios. Os ditos falados e repetidos na colônia devem resistir ainda por algumas gerações - se não de todos os descendentes, pelo menos os daqueles que pararam o tempo nos carteados do Bar dos Vermelhos.