UIL

2005 passou sem deixar saudades

Apesar do aumento das exportações em dólares, a rentabilidade do setor caiu muito. A seca, a valorização cambial e a restrição às transferências de crédito fizeram com que o setor amargasse um dos piores anos da história recente. Nesse sentido, o setor exportador se despede de 2005 sem ficar com saudade.

Em 2005, a indústria gaúcha sofreu um intenso processo de desaceleração, em especial, as empresas com produção voltada para a exportação. No cenário nacional, a valorização da moeda doméstica provocou um aumento dos preços dos produtos nacionais comparativamente com os produtos estrangeiros, o que tirou competitividade do produto brasileiro.

Associado a isso, a invasão dos produtos asiáticos, principalmente chineses, no mercado internacional, deprimiu os preços internacionais a níveis quase que impraticáveis por economias que operam de acordo com regras claras de mercado.

No âmbito regional, as restrições impostas pelo Governo do Estado às transferências de crédito de exportações no início do ano vieram a piorar a situação das empresas exportadoras. A impossibilidade da utilização dos créditos, associada com a menor rentabilidade das exportações, fizeram com que setores tipicamente exportadores, como o calçadista, fossem os que registrassem o maior número de demissões durante o ano.       

Muitos poderiam argumentar que as perdas que a economia gaúcha sofreu são semelhantes ao resto da economia nacional em relação aos efeitos negativos derivados do processo de valorização cambial.

Todavia, essa argumentação não é válida. A economia gaúcha sofre mais que a média nacional pois apresenta uma participação muito alta nas exportações nacionais, considerando-se os dados históricos. Além disso, a pauta de produtos exportados pelo Estado revela um número de bens substitutos maior que a pauta de produtos exportados por nossos pares, o que torna as vendas gaúchas mais vulneráveis a variações de preços. 

Assim, enquanto as exportações brasileiras cresceram 23,1% no acumulado de janeiro a novembro, as exportações gaúchas cresceram apenas 5,02%. Com menor expansão, a participação do Estado nas exportações nacionais diminuiu. Esse resultado se deve às adversidades que abateram o mercado exportador gaúcho já explicitadas, mas também do crescimento das exportações de Minas Gerais e Espírito Santo (minério de ferro), da Bahia (derivados de petróleo e material de transporte) e do Mato Grosso (complexo de soja e complexo de carnes). Soma-se ainda o fato de produtos como o minério de ferro e petróleo terem apresentado reajuste no seu preço em dólar, o que contribuiu para manutenção ou, até mesmo elevação, das exportações de alguns estados.

No caso do Rio Grande do Sul, outro fator importante para a frustração sobre as receitas das exportações proveio da estiagem que abateu o Estado nos primeiros meses de 2004. A soja que historicamente assumiu papel de destaque nas exportações gaúchas sofreu uma diminuição de colheita muito expressiva (em torno de 56% em relação à safra passada), o que, certamente, prejudicou as exportações potenciais. A

Apesar do bom desempenho do setor de carnes, as perdas provocadas pela estiagem, principalmente evidenciadas no complexo da soja, levaram o agronegócio a registrar um resultado quase 30% menor do que o verificado no mesmo período de 2004. Além disso, os produtos gaúchos perderam espaço em mercados importantes como o americano, o japonês e, especialmente, o chinês. Vale ressaltar que a China tem sua demanda por produtos do RS muito concentrada na soja. Dessa forma, pode-se dizer que a escassez de oferta gaúcha foi o principal fator que explica a diminuição de nossas exportações para aquele país.

Em termos setoriais, química e máquinas e equipamentos foram os que mais se destacaram, apresentando grande crescimento relativo e absoluto. Os setores de couros, artefatos e calçados, bem com o setor têxtil e de vestuário e acessórios ainda apresentaram crescimento, porém mais tímido do que o verificado em outros anos. Todavia, vale salientar um aspecto muito importante: o aumento das exportações é verificado quando avaliado em dólares. Em todos esses, porém, as exportações quando medidas em Reais diminuem de forma acentuada, dada a grande valorização do câmbio, evidenciando as quedas de rentabilidade sofridas pelo setor exportador.

Percebe-se que na comparação com o mesmo período do ano anterior, apesar de no conjunto a indústria de transformação ter aumentado sua quantidade exportada, setores como couros e artefatos, móveis, produtos de madeira, fabricação de produtos de fumos e editorial e gráfica apresentaram queda na quantidade exportada. As exportações gaúchas (in quantum) foram 6,4 % menores que as verificadas no mesmo período do ano passado, enquanto o Brasil obteve crescimento de 12,4% nas quantidades exportadas em 2005.       

Nesse contexto, o que fez as exportações gaúchas em valores ainda aumentarem foram os preços em dólares, com elevação de aproximadamente 12,2% - superior à média nacional, que foi de 9,5%. A perspectiva de um câmbio um pouco melhor, a elevada demanda externa, com a projeção de um crescimento acentuado no cenário internacional, reforça a tese de que 2006 será um ano melhor, pois 2005 passou sem deixar saudades.