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Acusado boicota tribunal

Padre que responde por genocídio diz que júri da ONU não tem validade

O primeiro sacerdote católico que enfrenta acusações de genocídio ante um tribunal internacional, o ruandês hutu Athanase Seromba, negou-se a se apresentar no julgamento diante do Tribunal Penal Internacional para Ruanda (TPIR) em Arusha (Tanzânia). Também não foram à sessão outros acusados, que incluem os ex-chefes do Exército e da polícia paramilitar de Ruanda, o major general Augustin Bizimungu e o general Ndindiliyamana.

Os advogados de defesa acusaram o tribunal de ser parcial, dizendo que servia aos interesses do atual governo ruandês - dominado pela minoria tutsi - e de ''seus aliados ocidentais''.

Segundo a ata de acusação, Seromba manteve reuniões com outros líderes locais do povoado de Kivumu, na província de Kibuye, para ''preparar e executar um plano de extermínio da população tutsi'', que em Ruanda representava 14% contra 85% hutu. Essas reuniões foram celebradas depois da morte, no dia 6 de abril de 1994, do presidente Juvenal Habyarimana, cujo avião foi derrubado por um foguete quando ia aterrissar na capital. Nelas se decidiu concentrar a população tutsi de Kivumu na paróquia de Nyange, da qual Seromba era o principal responsável.

Mais de 2 mil pessoas lotaram a igreja, que a partir do dia 15 de abril foi submetida a ataques regulares por parte de militares e milícias Interahamwe, na presença do pároco. Finalmente, o sacerdote mandou derrubar a paróquia com máquinas escavadeiras e os poucos sobreviventes foram mortos. Terminado o massacre, segundo a peça de acusação, Seromba ordenou às milícias que ''limpassem o lixo'', referindo-se às centenas cadáveres.

Ruanda era o país mais cristão da África, com 60% da população católica. Segundo a organização African Rights, existem ''fortes evidências de que líderes das igrejas anglicana, metodista, presbiteriana e católica estiveram implicados no genocídio''. No total, entre 500 mil e um milhão de tutsis e hutus moderados, de acordo com diferentes fontes, morreram assassinados com machetes e armas de fogo por milícias extremistas, soldados e pela própria população civil.

Um terceiro acusado, o bispo anglicano Samuel Musabyimana, morreu por doença em 2003 no Centro de Detenção de Arusha. Seromba, que beira os 40 anos, é o único dos 63 detidos pelo TPIR que se entregou voluntariamente ao tribunal. O sacerdote se encontrava amparado desde 1997 na dioceses italiana de Florença, de onde proclamou sua inocência e foi respaldado pelo Vaticano.

A então promotora do TPIR, Carla del Ponte, pediu sua extradição, mas Roma alegou que devia mudar suas leis para permitir a detenção. Finalmente, a pressão sobre as autoridades eclesiásticas foi muita e Seromba se entregou no dia 7 fevereiro de 2002 ''para responder a todas as acusações''.