Circolo Italiano San Paolo, 95 anos
"O Circolo Italiano San Paolo tem como finalidade manter alto e respeitado o nome da Itália, guardando suas tradições e cultivando seu idioma, incentivando o relacionamento entre os italianos aqui residentes, através das suas manifestações, com o devido respeito por este nobre e hospitaleiro País".
Início do século passado. São Paulo. A imigração italiana já fazia sentir a sua força e participava ativamente do desenvolvimento sócio, econômico e cultural daquela que se configurava a cidade mais importante do Brasil. Nos mais diferentes bairros, espalhavam-se italianos e descendentes das mais diferentes regiões como no Brás, os napolitanos;no Bom Retiro os abruzzesi e assim por diante.
São Paulo já se encaminhava para se tornar, nos dias atuais, a terceira maior cidade italiana fora do Brasil. A colônia crescia e a atávica necessidade de preservar, cultuar e viver com mais intensidade as tradições, as lembranças e os assuntos da terra de origem se intensificava. Muitas coletividades não tinham sede própria e as reuniões e festas tinham de ser realizadas em sedes de outras entidades.
Apesar da boa vontade, as pessoas, em especial os jovens, não se sentiam muito à vontade, tudo era feito mais ou menos de improviso. Nem sempre as peculiaridades da etnia eram respeitadas. Por isso, começou a surgir a idéia de se constituir uma entidade, que efetivamente representasse os elementos da italianidade.
Até que os irmãos Berti, Vincenzo e Lionello, convidaram à casa deles, um grupo de amigos para discutir a idéia da projetada associação. Naquela histórica noite, todos se declararam decididos a fundar um novo "clube", que se chamaria "Circolo Italiano". Nesta reunião se falou muito, e as palavras se transformaram em sementes.
Outras reuniões aconteceram, cada vez mais freqüentes, e com novas participações, até que, na noite de 13 de abril de 1911, em Assembléia, determinou-se a fundação do Circolo Italiano em São Paulo, formando-se o primeiro conselho diretivo e nomeados os primeiros sócios beneméritos.
Não foi fácil encontrar um lugar para a sede. Era necessário um salão de festas, uma biblioteca, uma sala para secretaria e diretoria, um salão de jogos, bar e serviços. Finalmente, em um sobrado da rua Boa Vista, número 85, dá-se início à vida circolina. Mesmo que em um pequeno espaço, a sede oferecia, aos seus associados, muito conforto e dava a possibilidade de organizar alegres bailes que deixavam todos muito satisfeitos.
O Com. Vincenzo Frontini assume a Presidência com o contrato da nova sede praticamente em mãos: De fato, o instrumento para aquisição da "palazzina" da Rua São Luiz é assinado em 6 de dezembro de 1923.
No início de 1924, começa-se a reforma da nova sede, que, um ano depois, em 3 de janeiro de 1925, é inaugurada com um grande baile de gala. O desenvolvimento das atividades continua normalmente e, por muitos anos, o Circolo vive momentos de glória, até o início dos anos 40, quando, com a Segunda Guerra Mundial, passa por uma mudança jurídica e isso leva a Assembléia a aprovar em 1942 a suspensão temporária de suas atividades.
Esta situação manteve-se inalterada até o final de agosto de 1950, quando as atividades puderam recomeçar.
Em 1952 começa então a funcionar a sede na Rua São Luiz, depois de ter sido fechada por 10 anos e finalmente a grande família do Circolo volta a se reunir. Em 1953, a Assembléia Geral do Circolo nomeia uma nova direção, tendo Emídio Falchi como presidente.
Após três meses de estudos, conclui-se a necessidade de uma nova sede, no mesmo terreno da Rua São Luiz. Seria um moderno edifício, que se chamaria Edifício Itália.
Tendo em vista o atraso das construções do Edifício Itália, os "circolini" começam a pensar no projeto de uma nova sede para o Circolo Italiano, mais cômoda e ampla e que respondesse a todas as suas exigências sociais e representativas. Foi então nomeada uma comissão para examinar as propostas apresentadas pelos corretores de imóveis.
Na noite de 24 de novembro foi aprovada pela comissão e pela diretoria, a proposta relativa à aquisição da "palazzina" da Avenida Higienópolis (hoje sede do Consulado Geral da Itália) sendo apresentada e discutida na Assembléia Ordinária dos Sócios, com quase unânime aprovação.
Nesta elegante sede, começam a ser realizados jantares periódicos e celebrações. O salão de festas é colocado a disposição para realização de reuniões culturais ou beneficentes Quando nasceu a idéia de fundar uma associação italiana diferente daquelas outras já existentes, a coletividade chamada de colônia, sentia-se preparada para a vida social na metrópole.
Mas hoje, de maneira contundente, a força e a expressão da comunidade italiana são materializadas pelo edifício Itália que, curiosamente, foi planejado por um arquiteto suíço, professor da universidade Mackenzie. o Circolo ainda possui uma sede campestre
Na verdade, como destaca matéria publicada no número 23 da revista da universidade, poucas construções na cidade têm mais a cara de São Paulo que o Edifício Itália. Idealizado pelo Circolo Italiano, com projeto de um suíço, ele ganhou status de ponto turístico e tornou-se marco da cidade.
Além da arquitetura vanguardista e do visual privilegiado que oferece principalmente à noite, quando se olha do último andar conquistou o paulistano, e até os estrangeiros, com a gastronomia italiana do restaurante Terraço Itália, especializado em comida italiana, claro. Símbolo da imigração italiana, o edifício inaugurado em 1965 foi projetado por Adolf Franz Heep, que passou no Brasil boa parte da sua vida, deixou sua marca em vários edifícios da cidade e a influência do seu estilo em muitos outros arquitetos, pois deu aulas de 1958 a 1965, na cadeira de Projetos da Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie.
O Itália, com torre projetada por Heep na esquina da Avenida Ipiranga com Rua São Luiz, tem 168 metros de altura, 46 pavimentos (e subsolo), 245 salas comerciais, 14 elevadores (para 20 pessoas) que servem todos os andares, mais dois exclusivos do Circolo Italiano.Tem 52.000 m2 de área construída em lote de 2.382 m2 , 4.003 janelas, 6.000 m2 de vidro, e abriga população flutuante de 25.000 pessoas 1.000 visitantes, em média, por dia. O edifício abriga, além da sede do Circolo Italiano, o Teatro Itália, com 350 lugares.
Segundo dados fornecidos pelo engenheiro Renato Cecchi, o síndico do edifício que participou da construção, foram utilizados na obra 14.000 m3 de concreto, 150.000 sacos de cimento, 3,5 milhões de tijolos e 20.000 toneladas de ferro. A obra de Heep nunca foi muito difundida nacionalmente mas ganhou tese de mestrado em 2002 A Obra de Adolf Franz Heep no Brasil do arquiteto Marcelo Barbosa, formado em 1984, na FAU do Mackenzie. Pode ser considerada uma das maiores pesquisas do trabalho de Heep. É a melhor fonte para quem quer saber sobre o arquiteto e sua obra".