Estrelas italianas debatem futuro da astronomia no Brasil
O Rio de Janeiro abrigará no final de maio uma constelação de expoentes da astronomia, entre os quais dois cientistas italianos, que estão entre os mais conceituados da área. O evento A Glimpse into the Future of Astronomy, que integra a comemoração dos 180 anos do Observatório Nacional (ON), reúne os cientistas responsáveis por alguns dos maiores projetos da ciência para a próxima década. Cobrindo, literalmente, todo o espectro de possibilidades tecnológicas - do rádio ao raio-x -, o montante de conhecimento em jogo envolve um investimento de mais de 10 bilhões de dólares.
Entre os convidados, os italianos Roberto Gilmozzi, atual líder da divisão de telescópios do Observatório do Sul da Europa (ESO entidade que congrega 13 nações européias), e Riccardo Giovanelli, Ph.D e professor de astronomia da Universidade de Cornell, EUA. Ambos desembarcam no Brasil para apresentar dois ambiciosos projetos que envolvem a consecução dos maiores e mais precisos telescópios já construídos pelo homem.
Perscrutando o espaço
Em astronomia, tamanho é documento. Desde os primeiros experimentos do fiorentino Galileu Galilei no final do século XVI, os telescópios foram refinados e cresceram a uma escala colossal. Instrumentos ópticos de grande porte permitem ver objetos estelares mais foscos e produzem imagens mais nítidas, em resoluções nunca antes sonhadas pelos precursores da ciência das estrelas. Atualmente, os maiores telescópios para a luz no espectro visível e no infravermelho possuem espelhos com 8 a 10 metros de diâmetro. Entretanto, com o investimento e o tempo certos, os homens por trás do design de tais engenhos acreditam que é possível construir equipamentos até dez vezes maiores do que os atuais.
É o caso de Roberto Gilmozzi, que durante anos esteve à frente do projeto do VLT (ou Very Large Telescope), instalado pela ESO no deserto do Atacama, o mais avançado instrumento para a observação austral em atividade. Construído com recursos de diversos países europeus, além do Chile, o VLT é um complexo de quatro telescópios cujas lentes individuais medem 8,2 metros de diâmetro e podem trabalhar simultaneamente ou de forma independente.
Assim como os maiores telescópios da atualidade, como o Keck Observatory, o Hubble e o Very Large Array, o VLT incorpora a mais alta tecnologia que a nossa civilização tem para oferecer. Se traçarmos a gênese de cada uma de suas partes, descobriremos que, no final das contas, foram necessárias milhões de pessoas para trazê-lo ao mundo., afirma Gilmozzi.
Mas, de acordo com o cientista italiano, principal responsável pelos projetos da ESO, o feito não é o bastante. A nova proposta do órgão para auscultar as profundezas do cosmo, o E-ELT (European Extremely Large Telescope), prevê um espelho com 42 metros de diâmetro, capaz de observar o universo com uma qualidade de imagem superior até mesmo à do Hubble, que não sofre distorções atmosféricas por estar em órbita da Terra.
Com um orçamento previsto de 800 milhões, o E-ELT será capaz de perscrutar a composição da atmosfera de planetas extra-solares (aqueles que orbitam outras estrelas), uma proeza impensável mesmo para os mais modernos instrumentos disponíveis. Além disso, instrumentos ópticos dessa magnitude podem fazer avançar significativamente o conhecimento astronômico, permitindo estudos detalhados sobre as origens do cosmo, a melhor compreensão dos buracos negros, e o possível desvendamento de mistérios como a natureza e distribuição da matéria escura um tipo de matéria nunca detectada mas que permeia o universo, segundo predições do atual modelo cosmológico.
No outro lado do espectro, Riccardo Giovanelli dirige a construção do Cornell Catltech Atacama Telescope (CCAT), idealizado em consórcio com cinco instituições norte-americanas e européias. O projeto, previsto para 2013, ambiciona concretizar-se como o maior telescópio de sua categoria no mundo. O CCAT diferencia-se dos instrumentos ópticos por esquadrinhar os céus no espectro de ondas muito curtas, de comprimento inferior a um milímetro; um método especialmente efetivo para retratar fenômenos que não emitem luz visível, a exemplo das ondas de rádio produzidas por astros diversos.
O telescópio, a ser localizado a mais de 5,000 metros de altitude, também no deserto de Atacama, permitirá a observação do processo de formação de estrelas e planetas a partir de discos de gás e poeira, bem como determinar a composição de nuvens moleculares que são o berço das estrelas. Segundo o astrônomo italiano, o instrumento de 25 metros de diâmetro e custeado em $100 milhões, é uma evolução natural do interesse da Universidade de Cornell na prospecção do cosmos, e o corolário de sua própria carreira, dedicada à ciência dos astros por mais de 30 anos.
Tanto Gilmozzi quanto Giovanelli abrem, respectivamente, o ciclo de palestras nos dois dias de evento; 27 e 28 de maio. Além do E-ELT e o CCAT, outros projetos a serem apresentados no Observatório Nacional incluem o Thirty Meter Telescope (TMT), da Caltech, o Giant Magellan Telescope (GMT), do Carnegie Observatories, e o novo telescópio espacial James Webb Space Telescope, substituto do famoso Hubble, que tanto contribuiu para a área durante os últimos 20 anos, entre outros.
O encontro A Glimpse into the future of Astronomy é promovido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, como o apoio da prefeitura o Rio de Janeiro e entidades de fomento à pesquisa, como a Faperj. O evento abre o ciclo de comemorações dos 180 anos da astronomia no Brasil, representados pela criação do Observatório Nacional. No dia seguinte (29), o ON organiza uma segunda reunião; New Astronomy: The Data Challenge, que tem como objetivo rever a atual infra-estrutura de TI disponível no Brasil e promover a efetiva atuação do país na astronomia em âmbito internacional.
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