Italiana Mensageira da Paz entra na luta contra a tuberculose
Mensageira da Paz das Nações Unidas desde 1998, autora das Cartas de Sarajevo, crônicas do impacto da guerra entre as crianças da Bósnia, a escritora e jornalista italiana Anna Cataldi se une agora à luta mundial contra a tuberculose. A Organização Mundial da Saúde nomeou-a embaixadora da Aliança Pare Tuberculose. Ela trabalhará no sentido de conscientizar o mundo do sofrimento provocado pela doença entre os refugiados, emigrantes, pobres e grupos desfavorecidos.
Embora dificilmente mereça a atenção da mídia, em 2005 se produziram 8,8 milhões de novos casos de tuberculose. A enfermidade mata 4.400 pessoas por dia, ainda que seja tratável e previsível há mais de meio século.
A Aliança Stop TB, vinculada à Organização Mundial da Saúde, é uma rede de mais de 500 organizações internacionais, paises, doadores dos setores público e privado, pacientes e organizações governamentais e não governamentais. Seu objetivo consiste em eliminar a tuberculose como problema mundial de saúde pública.
Ao saber da notícia, Cataldi agradeceu à Aliança pela oportunidade lutar em nome de quem padece dessa enfermidade. O ex-secretario-geral das Nações Unidas, Kofi Annan elogiou Anna Cataldi por sua devoção e infatigáveis esforços Ela tem sido uma mensageira ativa. Tem viajado por lugares difícies, como Afeganistão e Somática, para dar apoio, alento e esperança aos desesperados que não podem fazer-se ouvir.
Em 1998, para comemorar o 50º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a italiana lançou um projeto de distribuição de uma versão infantil da declaração, com formato de passaporte. Em março de 2007, idealizou e participou na organização de uma exposição fotográfica sobre a tuberculose, que teve lugar na sede da ONU e foi visitada por mais de 100 mil pessoas.
Leia, abaixo, um trecho de In Letters from Sarajevo Voices of a besieged city, de Anna Cataldi, Element Books, 1994. (Tradução da versão inglesa: Santos da Casa.)
Sarajevo, 26 de Dezembro de 1992
Querida Tia,
Não te escrevíamos há séculos porque nada, nem sequer um pássaro, podia entrar ou sair de Sarajevo. O aeroporto foi encerrado, bem como a estrada de Kiseljak, onde os combates têm sido ferozes tudo isto significa que nem uma grama de comida entrou em Sarajevo. Parece impossível que ninguém nos ajude, não podemos acreditar. Há tiroteio por todo o lado e mesmo os que estão do nosso lado castigam-nos ao nada nos trazer para comer. Mas já ninguém consegue pensar com sensatez e seja o que for que venha a suceder temos que o aceitar pois não temos alternativa. Por aqui a situação não muda e o mais insuportável de tudo é que nada mexe. Estivemos sem água e electricidade durante três semanas. Foi terrível. No Verão não demos tanta importância à situação, estava calor e os dias eram longos, mas agora faz muito frio. O frio vai direito aos ossos mesmo que vistas três camisolas, três pares de meias e três pares de calças. Pessoas vagueiam como zombies, andam pela cidade mexendo em caixotes do lixo, buscando água e lenha. E já ninguém parece reparar nas explosões à nossa volta ou nas balas dos snipers, pois só uma ideia atormenta as pessoas: alimentarem-se e aquecerem-se. Todas as árvores da cidade, em todos os parques, avenidas, cemitérios, foram cortadas; assim, além de ser uma cidade bombardeada e queimada, seremos também uma cidade sem árvores. E ninguém mexe um dedo. Nos hospitais, velhos e crianças sofrem atrozmente com o frio pois não há cobertores suficientes nem mesmo para eles. É terrível, terrível. Há momentos em que penso enlouquecer e interrogo-me como é que outras pessoas arranjam forças para continuar...
Nadira
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