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A delicadeza e a intimidade de Petite Messe Solennelle, de Gioacchino Rossini, pelas vozes do Coro da Osesp

Pela segunda vez este ano, o Coro da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) ganha o palco da Sala São Paulo, para uma série de três concertos dentro da Temporada 2008 da Osesp. Para as apresentações dos dias 13, 14 e 15 de novembro, o grupo traz uma das últimas grandes obras de um dos mais importantes compositores italianos da história - Petite Messe solennelle, de Gioacchino Rossini.(leia, abaixo, a história do autor e da obra)

Com regência de Naomi Munakata, o Coro da Osesp será acompanhado pelo pianista Fernando Tomimura e pelo organista Nelson Silva. As vozes solistas ficam por conta de Elayne Casehr, soprano; Silvia Tessuto, contralto; Marcos Thadeu, tenor; Saulo Javan baixo-barítono.

Repertório

Petite Messe solennelle
Formação: quarteto vocal solista, coro, piano, órgão
Duração aproximada: 90 minutos
Ano da composição: 1863

Serviço:

Coro da Osesp
Naomi Munakata, regente
Quinta, 13/11 (21h); Sexta, 14/11 (21h) e Sábado, 15/11 (16h30).
Preços: de R$ 18 a R$ 40
Aposentados, pessoas acima de 60 anos, estudantes e professores da rede pública estadual pagam 1/2, mediante comprovação
Estacionamento: 610 vagas (592 comuns e 18 para Portadores de Necessidades Especiais) - R$ 8.
Sala São Paulo (1294 lugares)
Praça. Júlio Prestes 16 (11) 3223-3966.


Sobre Gioacchino Antonio Rossini

Nasceu em 1792 na cidade italiana de Pesaro. Para escapar da pobreza, seu pai cogitou castrá-lo. Com isso, a voz do garoto não mudaria durante a adolescência e ele poderia continuar como cantor no coro da igreja. A mãe, porém, foi contra.

O próprio Rossini gostava de contar essa história aos amigos, explicando como escapara de se tornar um castrati. "Quando criança, eu tinha uma bela voz", recordava ele. "Meus pais me faziam cantar no coro da igreja. Foi quando um tio, barbeiro de profissão, convenceu meu pai da oportunidade de impedir a mudança de minha voz, pois assim me tornaria uma fonte de renda segura para toda a família", contava.

Se Rossini quase se tornara um virtuose do "bel canto" pelas mãos do próprio tio, seria por meio de outro barbeiro que a posteridade se lembraria dele. Sua ópera O barbeiro de Sevilha é uma das mais conhecidas e mais executadas de todos os tempos. No entanto, ela é apenas uma das mais de trinta óperas compostas por Rossini ao longo da vida. De todas elas, apenas Guilherme Tell alcançou popularidade parecida.

Rossini compôs a primeira ópera aos 18 anos. Seu grande sucesso de público veio logo, aos 21 anos, com a montagem, em Veneza, de Tancredo, uma das óperas "sérias" deste que foi um mestre das composições cômicas. Ao lado de O barbeiro de Sevilha, obras como Cenerentola e La gazza ladra, que também exibem a inegável verve e o domínio de Rossini no gênero, acabaram ofuscando a parte mais sóbria de seu trabalho. As óperas Otello e Semiramide, por exemplo, hoje estão praticamente esquecidas.

Em 1824, o compositor visitou Beethoven em Viena e este recomendou-lhe que esquecesse o repertório mais sóbrio e escrevesse outras óperas parecidas com o então já célebre O barbeiro de Sevilha. "Para a ópera séria, seu talento não presta", opinou Beethoven.

Ao contrário da maioria dos compositores românticos, Rossini conseguiu ganhar um bom dinheiro com sua música. Com freqüência, escrevia óperas sob encomenda. Entre outros contratos, trabalhou para o Scala de Milão, para a Ópera Italiana, para a Ópera de Viena e a Ópera de Nápoles. Nesse período, em oito anos de trabalho, chegou a compor nada menos de vinte obras líricas. Dizia-se, na época, que existia uma "febre rossiniana" na Europa. O escritor Stendhal comparava-o a Napoleão. Um conquistara a Europa com canhões; o outro, com a música.

Aos 31 anos, Rossini mudou-se para a França, onde assinou um polpudo contrato com a Academia de Música de Paris, sob patrocínio do próprio rei, que o nomeou "primeiro compositor real" e "inspetor geral de canto". Repentinamente, aos 37 anos, anunciou que se aposentaria e deixou de compor. Era julho de 1830. Uma revolução fazia Rossini retornar para a Itália, abandonando Paris e a música.

Em 1845, ficou viúvo. Um ano após a morte da soprano Isabella Colbran, sua primeira esposa, Rossini casou-se com Olympe Pélissier, que organizaria, na casa do marido (já de volta a Paris), célebres reuniões com a elite cultural e intelectual francesa. Rossini e Olympe ficariam juntos até a morte. Perto do final da vida, Rossini voltaria a compor algumas peças para voz e piano. Mas, a essa altura, sua contribuição para a música já estava devidamente consolidada.

Viveu os últimos 40 anos de vida quase ociosamente. Como um príncipe, desfrutava da fortuna que amealhara no período de maior atividade. Nessa época, tornariam-se célebres os banquetes que oferecia aos amigos, sempre regados a bom champanhe, pratos sofisticados e frases espirituosas, outra das marcas registradas de Rossini.

Quando morreu, em 13 de novembro de 1868, deixou uma fortuna em seu testamento. Como não tivera filhos, grande parte do dinheiro foi destinada, por vontade expressa dele, à fundação da Villa Rossini, instituição beneficente que passou a abrigar músicos aposentados e sem recursos financeiros. A herança também serviu para a criação da Fundação Rossini, em Pesaro, sua cidade natal, entidade que até hoje detém a guarda de seu acervo musical. Por fim, no testamento, Rossini instituiu um prêmio anual, destinado a incentivar a carreira de compositores na França.

Sobre a obra Petite Messe Solennelle

Aos 75 anos, depois de ter se aposentado à mais de 30 anos, Rossini, se lança numa nova aventura, escrever uma missa para quatro solistas, coro misto, dois pianos e harmonium. Escreveu em Passy em 1863, por solicitação do conde Pillet-Will por intermédio de sua esposa Louise. A primeira apresentação aconteceu na capela privada de seu hotel localizado na Rua Montcey em Paris, a 14 de março de 1864.

Filippo Filippi, crítico musical de "la Perseveranza", escreveu a 29 de março de 1864:

"Desta vez Rossini supera-se, que alguma pessoa poderia dizer o que importa da ciência e da inspiração. A fuga é digna de Bach para a erudição. Verdi com um entusiasmo menos evidente em sua carta ao Conde Arrivabene datada de 3 de abril de 1864: Rossini, nestes últimos tempos fez progressos e estudou. Estudou o quê? De minha parte, eu o aconselharia a desaprender música e escrever um outro Barbeiro".

"Cette fois, Rossini s'est surpassé lui-même, car personne ne saurait dire ce qui l'emporte, de la science et de l'inspiration. La fugue est digne de Bach pour l'érudition." Verdi fait part d'un enthousiasme moins prononcé dans une lettre au comte Arrivabene du 3 avril 1864 : "Rossini, ces derniers temps, a fait des progrès et a étudié ! Etudié quoi ? Pour ma part, je lui conseillerais de désapprendre la musique et d'écrire un autre Barbier."

Rossini designou a Petite Messe, como sendo seu "último pecado da velhice". Como que se redimindo por ter negligenciado o Criador em uma boa parte de sua fecunda obra, destinando a esta obra uma dedicação especial, ele escreveu o seguinte:

"Meu Deus; está concluída esta pobre e pequena missa. Será que é música sacra mesmo o que eu acabo de fazer ou música sagrada? Eu nasci para escrever ópera buffa, tu sabes bem! Um pouco de silêncio, um pouco de coração, tudo está lá. Seja benigno comigo e me receba no paraíso.

"Bon Dieu; la voilà terminée, cette pauvre petite messe. Est-ce bien de la musique sacrée que je viens de faire, ou bien de la sacré musique ? J'étais né pour l'opera buffa, tu le sais bien ! Peu de silence, un peu de coeur, tout est là. Sois donc béni et accorde-moi le Paradis."

O título da obra já é uma brincadeira, visto que Petite Messe (pequena missa), nada tem de pequena, porque ela dura aproximadamente 90 minutos, resumindo em todos os gêneros, uma candura e uma grandeza profunda que só pode emocionar.

Na sua partitura original, Rossini anotou que a obra deveria ser para um efetivo de "12 cantores de três sexos: homens, mulheres e castrados, seriam suficientes para uma apresentação: sendo 8 para o coro, 4 para os solistas, num total de 12 cherubins. Deus me perdoe pelas considerações. Doze são os apóstolos na célebre pintura de Leonard. Senhor apaga tu mesmo, porque eu afirmo que não haverá Judas no meu almoço, e que os meus cantarão somente no meu almoço e que os meus cantarão com amor teus hinos!"

Após um ensaio, depois da composição privada, a obra foi adaptada para orquestra no verão de 1867, por medo que a primeira apresentação acontecesse somente após sua morte. No entanto é a forma original a preferida até os dias de hoje. Foi apresentada publicamente seis meses após sua morte nas comemorações do seu 77o. aniversário de nascimento. No mesmo ano, as duas versões foram editadas.

Esta Missa é verdadeiramente um testamento musical de Rossini, porque não foi seguida por nenhuma obra importante,anão ser pequenas peças de circunstância, como o hino a Napoleão III, composto para a exposição de Paris. Ele colocou nessa sua obra toda a sua sabedoria, todo o seu fervor e sua audácia: por trás da simplicidade das formas, da modéstia de seu efetivo da a clareza, demonstra uma subtileza muito nova em Rossini. Colocou nela um olhar melancólico pelo passado, mas com uma roupagem com olhos para a modernidade.

A partitura está dividida em duas partes bem distintas, com 7 partes cada uma. A primeira formada pelo Kyrie e pelo Gloria com suas subdivisões, e a segunda pelo Credo, um Prélude religieux instrumental tocado durante o Ofertório, Sanctus, Salutaris e o Agnus Dei.

Ao contrário do Stabat Mater, que é impetuoso e passional, a Petite Messe, escolheu a delicadeza e a intimidade. As nuances fortes para trechos como o início do Gloria e do Cum Sancto Spiritu; as partes extremas do Credo são ligadas tematicamente; o solene Prelúdio religioso; as aclamações do Sactus e do Hosanna do Sanctus e os últimos compassos do Dona nobis pacem proclamado sobre um mi maior triunfal.

Rossini intitulou de Petite Messe "Solennelle", porque efetivamente são marcantes os tempos de marcha e tempos majestosos. Estes tempos imponentes são banhados por raios ensolarados, raios de verão que passam timidamente através das folhas das árvores, mas sem deixar de apresentar-se de forma jovem ardente de grande claridade. (Texto disponibilizado pela Nova Philarmonia - http://novaphilarmonia.multiply.com/)