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Maria Montessori: vida, método e livros

A italiana Maria Montessori é a criadora do método educacional Montessori, inserido no sistema pedagógico no início do século XX e que ainda hoje é adotado por milhares de creches, escolas primárias e secundárias, em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Maria Montessori nasceu em Chiaravalle, em 31 de agosto de 1870, a poucos quilômetros de Ancona (Marche), na Itália. Filha única de uma família culta, seu pai, Alessandro Montessori, era funcionário público e sua mãe, Renilde Stoppani, professora primária. Pela parte materna, Maria Montessori era sobrinha de Antonio Stoppani, abade e naturalista, autor do livro “Il Bel Paese”, que para ela era uma referência cultural. Para seguir o pai, a família transfere-se primeiro para Florença e depois para Roma, que recentemente se tornara a capital da Itália.

Vivaz e inteligente, desde criança Maria Montessori mostrou interesse pelas artes e pelo teatro. Logo ela descobre que tem talento para a matemática e pensa em uma carreira científica. Finalmente, superando muitos obstáculos, matricula-se na Faculdade de Medicina da Universidade La Sapienza, em Roma. Em 1896 ela torna-se uma das primeiras mulheres na Itália a se formar em Medicina, com uma tese experimental em neuropsiquiatra intitulada "Contribuição clínica para o estudo das alucinações de conteúdo antagônico". Posteriormente, forma-se também em pediatria, no Hospital Infantil de Roma.

O filho Mário

Nos primeiros anos após a formatura, sua vida está em pleno andamento: ganha bolsas e prêmios e acaba trabalhando com Giuseppe Ferruccio Montesano, um dos fundadores da neuropsiquiatria infantil italiana, que se torna seu parceiro. Juntos, os dois trabalham na clínica psiquiátrica da Universidade de Roma, onde se dedicam à recuperação de crianças com problemas mentais, os chamados "anormais".

Maria Montessori e o seu filho Mario Foto: Reprodução

Maria e Giuseppe tornam-se um casal e em 31 de março de 1898, aos 28 anos, ela dá à luz seu único filho a quem chama de Mario. Não é um evento feliz: os dois não se casam e Maria Montessori confia o bebê a uma enfermeira e depois a uma família. Frequentemente vai visitá-lo, mas sempre anonimamente. Quatorze anos depois, Maria o tira do internato e o leva consigo, apresentando-o como seu sobrinho e restabelecendo um vínculo que parecia perdido.

As origens do método educacional

O Método Montessori tem raízes profundas na vida e nas experiências realizadas pela cientista. Primeiro o trabalho com crianças "anormais", depois a inspiração derivada do trabalho de Jean-Marc-Gaspard Itard e Edouard Séguin sobre a possibilidade de inserção na comunidade dessas crianças, com um percurso educativo adequado. 

Sua intuição era que o problema das crianças neurastênicas não se originava de fatores médicos, mas pedagógicos. A abordagem, feita por Itard e Séguin, era científica e baseada na observação e experimentação. 

Maria Montessori, jovem Foto: Reprodução

Assim, em 1898 ela apresenta os resultados de suas primeiras pesquisas com crianças "anormais": graças ao seu método, elas conseguiram passar no exame público escolar normal. Seus estudos tiveram grande sucesso e se transformaram em uma série de palestras. Quando a médica se torna diretora da Escola Ortofrênica, que antes era o asilo para crianças, ela tem a oportunidade de refinar sua abordagem.

A primeira Casa dei Bambini 

Terminado o trabalho com as crianças problemáticas, o interesse de Montessori passa a abranger todas as outras. De acordo com seu pensamento, a escola educa a criança de forma incorreta, estimulando apenas superficialmente suas habilidades intelectuais.

Em 1907, a educadora começa a experimentar o método com crianças "normais", pela primeira vez, em uma pequena creche em Roma dedicada a crianças da classe trabalhadora, com idades entre dois e cinco anos. Assim começa a aventura da "Casa dei Bambini", no bairro de San Lorenzo, onde os pequenos ficavam de manhã à noite, incluindo as refeições, porque os pais trabalhavam.

No início, as crianças não estavam felizes. Foi então que Montessori começou a ensinar os mais velhos a cuidar da casa e a ajudar a professora nas tarefas diárias. Ele então introduziu materiais, quebra-cabeças e exercícios de manipulação.

La Casa dei Bambini, 1907 Foto: Reprodução

Os resultados foram surpreendentes: as crianças se sentiram atraídas pelas atividades que ela introduziu e sempre mostraram melhor capacidade de concentração e construção.  Com o tempo, a educadora acrescentou exercícios do cotidiano, como limpar e vestir-se ou cuidar da horta: aos três e quatro anos as crianças já se interessavam em aprender essas atividades. E quanto mais independentes elas se tornavam, mais sua autoestima aumentava e os problemas de disciplina desapareciam por conta própria.

Embora fossem pequenas para ir à escola, as crianças expressavam o desejo de aprender a ler e contar. Em seguida, a médica criou para eles uma série de materiais de desenvolvimento com os quais as crianças de quatro e cinco anos aprenderam rapidamente a ler e escrever, mas também a somar, subtrair, multiplicar e dividir.

Suas conquistas foram aclamadas em todo o mundo científico e foi assim que as “Casa dei Bambini” se multiplicaram.

A marginalização de Maria Montessori

É com o embate entre Maria Montessori e Benito Mussolini que o método educacional experimentará um período de declínio. Em 1934, foi ordenado o fechamento de todas as escolas Montessori na Itália, assim na Alemanha e na Áustria. Foi então que a médica decidiu fugir com o filho Mario e se mudou para Amsterdã. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, ela estava na Índia para ministrar um curso: foi presa pelos britânicos, que, no entanto, permitiram que ela continuasse seu trabalho pedagógico.

Após a guerra, a médica voltou para a Europa e em 1947 para a Itália, onde foi recebida no Parlamento. As escolas Montessori reabriram em todo o mundo e ela foi indicada três vezes ao Prêmio Nobel, mas nunca o ganhou. Ela morreu em 6 de maio de 1952, na Holanda, com 81 anos. 

Maria Montessori: o método

O método educacional idealizado por Montessori deriva de uma série de experimentos e aprimoramentos feitos por ela, ao longo do tempo, e é fundamentado na crença de que a criança deve ser deixada livre para seguir seus instintos, indo buscar a atividade e o trabalho de que necessita, de acordo com seu estágio de desenvolvimento.

Os pais que praticam homeschooling são frequentemente inspirados por esta abordagem educacional.

Dessa forma, a criança desenvolve suas habilidades psíquicas e intelectuais de acordo com seus ritmos individuais e com prazer, sem recorrer a recompensas ou punições.

Nas “Casa dei Bambini” (dos 3 aos 6 anos), tudo isto se traduz na 'liberdade de fazer', explorar e movimentar-se, o que não se transforma, no entanto, em caos porque imperam a ordem, o respeito e a autodisciplina.

Em particular, o método enfatiza as atividades sensoriais e motoras da criança, que devem ser desenvolvidas por meio de 'Exercícios de Vida Prática' (vestir-se, lavar-se, comer, etc.) e material didático cientificamente organizado. Cada criança é livre para escolher a que se dedicar seguindo seus próprios ritmos, sem ser forçada pelo adulto.

Tudo é pensado para estimular o interesse dos aprendizes em todas as áreas do conhecimento, desde as atividades da vida prática até as mais abstratas, como álgebra e geometria. O material educativo acompanha a criança na descoberta de algo novo, ajudando-a a desenvolver a autocorreção do erro e a concentração.

Veja aqui as obras publicadas por Maria Montessori (em italiano)