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Cidadanias italianas de brasileiros lotam cartórios de Verona

O crescente fluxo de trabalho gerado aos cartórios de pequenos municípios na Itália, decorrente de processos de reconhecimento da cidadania italiana por direito de sangue de ítalo-brasileiros, tem gerado protestos no país. Matérias semanais na imprensa italiana, especialmente em jornais das regiões norte e nordeste, dão voz a prefeitos que defendem mudanças na lei do ius sanguinis, inconformados com a alta demanda de transcrições de documentos e outros tramites em suas comarcas. 

O aumento de pedidos de cidadania italiana em municípios da planície veronesa, chamada de Bassa Veronese pelos seus habitantes, localizada ao sul de Verona, é tema de notícia publicada na edição digital do jornal italiano L’Arena, assinada pela jornalista Paola Bosaro, nesta segunda-feira (08/07). Leia a seguir. 


Brasileiros, aumento exponencial de pedidos de cidadania italiana na Bassa

Os cartórios dos pequenos municípios estão em colapso.

A província de Verona é tentadora para os bisnetos brasileiros. Contudo, os cartórios dos pequenos municípios estão em colapso. Na verdade, há alguns anos, os pedidos de reconhecimento da cidadania italiana, por descendência, segundo o critério do ius sanguinis, por parte de cidadãos brasileiros vêm aumentando constantemente.

No país sul-americano existem centenas de milhares de descendentes de ancestrais italianos que partiram em busca de fortuna, entre o final do século XIX e o início do século XX. Muitos deles eram venezianos, vindos de zonas rurais e montanhosas. Estes netos e bisnetos de emigrantes veroneses, depois de terem permanecido em silêncio durante muito tempo, afirmam agora a sua italianidade, sobrecarregando os gabinetes municipais que têm a obrigação de emitir a cidadania italiana no prazo de apenas 30 dias.

O objetivo final

O objetivo dos brasileiros é vir para a Europa para estudar ou trabalhar nos Estados Unidos ou no Canadá, graças ao passaporte italiano que dá direito de circular nesses estados. “Até ao momento temos atendido aos pedidos, graças à grande disponibilidade dos nossos funcionários, mas se os pedidos da América do Sul continuarem a chegar a este ritmo seremos obrigados a fazer com que os funcionários trabalhem mais para os brasileiros do que para os residentes". Este é o comentário de Loreta Isolani, prefeita de Roverchiara, uma das mais indignadas com uma situação que agora se tornou insustentável. Em seu município existem 2.600 habitantes; os cidadãos italianos por jus sanguinis no exterior, especialmente os brasileiros, são mais de 400, com uma incidência de quase 19 por cento. “Temos uma pessoa que trabalha nos Registros e no Estado Civil; por causa desses reconhecimentos ela está sobrecarregada", continua Isolani. “A concessão da cidadania é apenas o primeiro passo, depois devemos acompanhar estas pessoas ao longo da vida com a obrigação de transcrever mudanças de residência, casamentos, divórcios, nascimentos de filhos, todos os atos que devem obrigatoriamente ser registrados no Município, até as mortes".

Outro município particularmente assediado é Bonavigo. A pequena autarquia local, de apenas 2.000 habitantes, tem 28 por cento de residentes no estrangeiro, o que equivale a 568 cidadãos. O país que mais solicita registros é, também neste caso, o Brasil. “Temos atualmente 200 processos pendentes: é muito. Não podemos avançar desta forma: ou alteramos a lei sobre o jus sanguinis ou corremos o risco de retirar recursos aos nossos concidadãos. Esses novos italianos não têm interesse na nossa nação”, acrescenta o prefeito Ermanno Gobbi.

Tanto Isolani quanto Gobbi relataram suas dificuldades ao prefeito de Verona, Demetrio Martini. Em Legnago existem atualmente 40 procedimentos em curso, a incidência de pedidos é menor: são 1.561 em 25.468 habitantes, o que equivale a 6 por cento.

A explosão de casos

O Registro de Italianos Residentes no Exterior (AIRE) mostra um aumento exponencial de inscrições nos últimos anos. “São números insuficientes que não descrevem completamente a realidade dos italianos no exterior porque nem todos, uma vez cidadãos, se inscrevem no AIRE", afirma Riccardo Giumelli, professor de sociologia da Universidade de Verona e estudioso dos italianos no mundo.

“Na Mesa Redonda Técnica sobre Turismo de Raízes foi estimado um número que varia entre 80 e 90 milhões de descendentes de emigrantes no mundo". Os escritórios de advocacia que seguem essas práticas recorrem cada vez mais ao TAR. Por enquanto, pelo menos em Bassa, isto não está a acontecer, mas os prefeitos pedem ajuda ou o sistema corre o risco de explodir.

L’Arena/ Paola Bosaro - 08/07/2024
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