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Prefeitos no Trento apoiam cidadania de descendentes

Embora reconheçam o aumento do fluxo de trabalho nos escritórios municipais, decorrente da cidadania italiana reconhecida a descendentes residentes no exterior, o olhar no futuro e o foco no desenvolvimento falam mais alto para alguns gestores na Itália. Pelos menos para os prefeitos dos municípios trentinos de Roncegno Terme e Altopiano della Vigolana, assim como para a empresa de turismo Alpe Cimbra, com sede em Folgaria, zona de montanhas na província de Trento. A matéria, publicada no portal Dolomiti, assinada pelo jornalista Luca Andreazza, destoa da campanha contra a cidadania italiana iures sangunis, que vem sendo perpetrada por grande parte da imprensa italiana. Leia a seguir.


Cidadania de descendentes, há quem aposta no turismo

“Em dois anos mais de mil brasileiros visitaram os lugares de Irmã Paolina. Um mercado potencial interessante”.

Da regeneração da floresta destruída por Vaia à exposição permanente, o Planalto da Vigolana aposta no turismo de raízes e na figura de Irmã Paolina, que emigrou para o Sul do Brasil aos 10 anos com a família e com outros 18 grupos de Vigolo Vattaro. Em 2002 foi proclamada padroeira dos emigrantes trentinos por João Paulo II, a primeira no Trentino e no Brasil.

TRENTO. “Para muitos é a viagem de uma vida, chegam a ficar durante 3 semanas para descobrir o território e o próprio passado”. Afirma Daniela Vecchiato, diretora da empresa de turismo Alpe Cimbra. Um destino que aposta decisivamente no “Turismo de Raízes”, segmento que procura estimular as chegadas de descendentes de emigrantes trentinos ao estrangeiro. “Então, naturalmente, eles aproveitam a estadia para visitar muitas zonas do Trentino e da Itália”.

De Samone a Roncegno Terme em Valsugana até o planalto de Vigolana, alguns municípios do Trentino possuem um cartório paralelo. Somam-se aos moradores os descendentes de emigrantes trentinos que ao longo dos anos solicitaram a cidadania italiana. Não há benefícios para o território, mas as secretarias municipais ficam por vezes sobrecarregadas com os documentos.

“Uma carga de trabalho importante - palavras de Mirko Montibeller, prefeito de Roncegno Terme, ao portal de notícias italiano Dolomiti - hoje recebemos os documentos de solicitação entre 2005 e 2008: uma média de cem solicitações por ano que temos que processar” (Artigo aqui). De qualquer forma, no Trentino não haveria alarmismo, enquanto a pressão no Vêneto, com muitos municípios lutando para dar seguimento aos pedidos, desencadeou o debate sobre a questão do ius sanguinis (Artigo aqui).
 
Uma área do Trentino busca, no entanto, transformar o que poderia ser uma criticidade administrativa numa motivação de férias. Este é o significado do turismo de raízes. Muitos Pro Locos movem-se nesta direção e entre as entidades mais convencidas em seguir este caminho está a empresa de turismo Alpe Cimbra, com um plano de longo prazo, apoiada pela ATA (Agenzie Territoriali d'Area).

“Nos últimos dois anos interceptamos mais de 1.000 descendentes que chegaram a Vigolana”, diz Vecchiato. “Um número muito elevado por ter iniciado este projeto recentemente. Para este número devemos então considerar que algumas pessoas não se registraram como descendentes, quando visitaram a terra natal da Irmã Paolina”.

O ponto de partida, de fato, é Irmã Paolina. Amabile Visintainer nasceu na cidade de Vigolo Vattaro em 1865 e emigrou aos 10 anos para o sul do Brasil, com sua família e outros 18 grupos de Vigolo Vattaro. Com o passar dos anos tornou-se Irmã Paolina, proclamada padroeira dos emigrantes trentinos, em 2002, por João Paulo II.

“Ela foi a primeira santa do Trentino e do Brasil”, diz Paolo Zanlucchi, prefeito de Altopiano della Vigolana. “É um símbolo de profunda devoção para milhares de pessoas que emigraram para a América do Sul e para os seus descendentes, que são mais de 2 milhões, ainda profundamente ligados às suas raízes e aos seus antepassados. Este projeto também despertou o interesse do Ministro Antonio Tajani que o elogiou com uma carta".

O objetivo é criar uma oferta cultural de “memória” que promova o conhecimento da história familiar e da cultura de origem para os oriundos trentinos e os trentinos residentes no exterior. “É um projeto ambicioso que funciona em múltiplos níveis”, destaca Zanlucchi. “Na verdade, não devemos esquecer que o povo trentino emigrou no passado porque aqui havia pobreza. É necessário redescobrir a marca do passado e refletir sobre o crescimento da nossa sociedade”.

Em Vigolana, a casa de Santa Paolina já é destino de peregrinações, que podem ser visitadas mediante solicitação às freiras. As relíquias da santa são encontradas, porém, no Brasil dentro da casa geral da congregação em São Paulo e Nova Trento no santuário a ela dedicado, no Trentino na Catedral de Trento e na igreja de Vigolo Vattaro.

Nos últimos meses, por exemplo, foi inaugurado o jardim de raízes, espaço localizado numa zona devastada e gravemente afetada pela tempestade Vaia. Aqui suas árvores são dedicadas às famílias que partiram de Vigolana para o Brasil, no final do século XIX. Mesmo antes, foi concebida uma exposição permanente na antiga Biblioteca do edifício do antigo Hospital de S. Rocco, cujo modelo organizacional (voluntários leigos) e finalidade (cuidados e assistência a idosos, indigentes) inspiraram o primeiro núcleo da ordem de Santa Paulina.

 “O turismo de raízes é uma grande oportunidade e procuramos criar uma oferta turística para promover as férias no Trentino aos nossos compatriotas no estrangeiro e permitir-lhes conhecer a história familiar e a cultura de origem através de eventos e roteiros”, continua a diretora da empresa de turismo Alpe Cimbra. “Os descendentes têm grande interesse pelo território de origem: organizam festas muito identitárias, estudam italiano, falam dialeto e possuem um vínculo muito estreito pelas histórias contadas pelos seus antepassados”.

Um segmento que Vigolana assiste com extremo interesse. “Permite-nos oferecer experiências autênticas de contato com o território e estimula o turismo eco sustentável porque valoriza zonas menos conhecidas e menos frequentadas com grandes fluxos”. Um mercado ainda a ser construído. “Não existem operadores turísticos específicos e não existem canais de promoção direcionados, mas no Brasil existem iniciativas importantes para transmitir esse projeto de promoção e contação de histórias”. Com os números em mãos, há uma área de influência potencial de 80 milhões de pessoas.

"Um milhão e 800 mil turistas chegam à Itália todos os anos vindos do Brasil. Alpe Cimbra pode se tornar uma das paradas da viagem italiana. Pelo menos 5 mil brasileiros ficam ou passam pelo Trentino todos os anos." A cidade natal de Santa Paulina é destino de peregrinações e as Irmãzinhas presentes em Vigolana registravam 150 visitas por ano de brasileiros que chegavam desorganizados. Os fluxos cresceram consistentemente.

La Vigolana também oferece um percurso em 16 etapas para apresentar Vigolo Vattaro aos tempos de Santa Paolina e, ao mesmo tempo, dar a conhecer a sua história e o seu território. O visitante olha os lugares com os olhos de Santa Paolina quando criança, para uma viagem no tempo, através de uma série de tabelas localizadas nos diversos locais de interesse a partir das quais pode ser reenviado para páginas específicas de aprofundamento via QR código com texto traduzido em três idiomas (italiano, português, inglês).

“Ainda estamos no início de um projeto que, no entanto, já trouxe resultados. Um trabalho que envolve relacionamento e construção de relacionamentos”, finaliza Vecchiato.

Leia aqui a matéria em italiano