Descendentes de imigrantes de Schio: a busca continua
A partir dos resultados de pesquisas e levantamentos apresentados durante o 2º Encontro dos Descendentes dos Imigrantes de Schio no Brasil, realizado no Centro de Documentação e Memória da Unesp (Cedem), agora já é possível constatar que o número de descendentes de imigrantes dessa comune do Veneto tende a crescer mais ainda no Brasil.
Estudos já identificaram cerca de 16 mil descendentes dessa cidade europeia. “Esse número aumenta a cada dia devido ao interesse dos próprios descendentes, que buscam pelos sobrenomes das famílias em nosso site”, afirma Antônio Folquito Verona, que foi o coordenador do encontro e autor das pesquisas.
De 1891 a 1895, cerca de 300 famílias saíram dessa cidade rumo ao Brasil. “Diferentemente da maioria dos imigrantes italianos, que eram trabalhadores rurais, esses eram operários da indústria têxtil”, relata Verona, que também é professor da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), campus de Assis.
A maioria dessas pessoas era empregada da fábrica de tecidos Lanifício Rossi. “Após uma série de greves e conflitos trabalhistas, cerca de 13% da população daquela cidade italiana emigrou, boa parte dela para o Brasil, Suíça e EUA, além da Austrália.”
Para Angelo Trento, do Memorial do Imigrante , e professor aposentado da Università degli Studi di Napoli “L’Orientale, um dos maiores especialista em imigração italiana para o Brasil, uma das razões para o país ter se tornado um destino recorrente era que o governo brasileiro pagava a passagem. Outro fator, ainda mais decisivo, eram as correntes migratórias, que são os fluxos de pessoas da mesma cidade que vão para um lugar e influenciam outros a irem também. “Isso facilitava a ida do emigrante porque representava a possibilidade de apoio e cooperação do outro lado do oceano.”.
Trajetória
Para identificar as famílias, a partir de 1990, o professor Verona passou a reunir dados da prefeitura de Schio e da província de Vicenza, em Vêneto, além de arquivos do Lanifício Rossi. Ele cruzou as informações obtidas com as existentes no Memorial do Imigrante, no Arquivo Municipal de São Paulo e no Arquivo do Estado de São Paulo. Também consultou documentos em outros estados e contou com financiamento do município de Schio para a realização de pesquisas na Itália e no Rio Grande do Sul.
Das mais de trezentas famílias que saíram da cidade italiana rumo ao Brasil, 157 ainda não tiveram a identificação de seus destinos e locais de desembarque. Entre as identificadas, a maior parte se instalou em São Paulo, mas poucas puderam continuar no ofício de tecelão. A maioria foi empregada nas lavouras de café, que tinham grande necessidade de mão-de-obra.
O segundo destino escolhido por esses imigrantes foi o Rio Grande do Sul, corrente que vai dar origem a Galópoles, um vilarejo da cidade de Caxias do Sul. No local foi criada a Cooperativa Industrial Têxtil, mais tarde transformada no Lanifício São Pedro. “A instalação de uma tecelagem em meio ao ambiente rural ocasionou um movimento que, mais tarde, tornaria Caxias do Sul o conhecido pólo industrial dos dias atuais”, diz Verona.
O Rio de Janeiro também foi um destino importante, sobretudo o distrito de Cascatinha, na cidade de Petrópolis. Dados de 1906 informam que, no local, a Companhia Petropolitana, única fabricante de tecidos de seda no Brasil naquela época, empregou 1.100 funcionários, quase todos italianos. “Muitos imigrantes de Schio foram contratados porque detinham um conhecimento sobre a indústria têxtil que os demais italianos desconheciam, por serem, em sua maioria, trabalhadores rurais”, relata o professor.
Uma minoria dos imigrantes foi para Minas Gerais e para o Espírito Santo. O isolamento territorial e o distanciamento das demais famílias que vieram da Itália dificultaram a localização de registros que apontem quais atividades econômicas esse grupo desenvolveu.
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