O mundo de imagens em metamorfose do italiano Piva
Artista italiano radicado no Brasil doou obra ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo
Todas as ações artísticas de Ernesto Piva são determinadas por sua cultura, por sua natureza sensível e emotiva, por seus estados mentais perfeitamente lúcidos. Esses aspectos psicológicos conferem um desenho linear ao seu caráter e às suas produções, à sua reserva de homem.
Em sua obra, prevalece uma grande dignidade na concordância com os temas alegóricos ou universais, que resgatam a função ética do seu agir, descobrindo ainda aquela que pode ser considerada sua constante de base: uma pureza que o guia e o acompanha com empenho e perseverança.
A visualização que o artista nos propõe está próxima da enigmática. Sua alusão se refere, em realidade, ao enigma de um mundo de imagens confiadas a tecnológicas metamorfoses, que multiplicam as dimensões, destacam os valores gráficos e semânticos, ampliam a espessura da bidimensionalidade das matrizes cromáticas e produzem uma possível trama de mensagens, confiando-a ao comportamento da luz no ambiente.
Posteriormente, essa morfologia plástica se desenvolve por extrapolação e o relevo se destaca do plano, até transformar-se em emblemáticas imagens. As cores emitem notas matéricas no silêncio metafísico dessas límpidas "redes de significados".
Em suas obras, entre pinceladas e espatuladas de base longas e harmoniosas, e o traço forte da construção volumétrica , se inserem pontos que possuem, muitas vezes, a dupla função de centro de equilíbrio e de sugestão para criar imagens.
Na obra Paulicéia: Referência 889, doada ao Museu de Arte do Parlamento de São Paulo, a composição cromática, as dinâmicas prospectivas, o jogo de claros e escuros, encontram nesse motivo comum o parâmetro e a plena fusão. Nela se manifesta, sobretudo, a ansiedade da dimensão humana que nas telas de Ernesto Piva está presente como uma exigência urgente e estimulante da maturidade artística.
O artista
Ernesto Piva nasceu em Loreto, província de Rovigo, em 1929. A partir de 1940, dedicou-se à arte, convivendo com importantes artistas italianos, como De Chirico, Bruno Cassinari, De Pisis e outros.
Radicou-se em São Paulo em 1953, onde iniciou sua carreira como ilustrador de cartazes para cinemas e jornais. Durante 35 anos permaneceu na área industrial, atuando mais de dez anos em arquitetura de interiores como designer de móveis e objetos.
Depois de 35 anos de ausência, retornou à Itália para repensar sua atitude frente à arte. Ao regressar ao Brasil, se desfez das suas indústrias e assumiu definitivamente a pintura como seu objetivo principal.
Participou de inúmeras exposições e instalou seu primeiro ateliê na rua Gabriel Monteiro da Silva. Por volta de 1995, transferiu seu ateliê para o Morumbi, onde criou o Centro Ítalo-Brasileiro de Arte, um espaço perfeito para expor sua obra, reunir artistas italianos e brasileiros e coordenar atividades de ensino da pintura.
Possui obras em acervos oficiais e particulares na Itália e no Brasil, inclusive no Museu de Arte do Parlamento de São Paulo.