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As origens da identidade romana

O latinista e historiador francês Pierre Grimal (1912-1996), ao longo de seus estudos para a obra A Civilização Romana, coleta o que poderia ser alguns dos melhores fundamentos sobre o real segredo da soberania romana no mundo conhecido que duraria um milênio. Nada tão complicado assim: “Entre todos os milagres que contribuíram para fazer de Roma o que ela foi, o mais surpreendente talvez tenha sido aquele que permitiu que a língua dos camponeses latinos se tornasse, em poucos séculos, um dos instrumentos de pensamento mais eficazes e mais duradouros que a humanidade jamais conheceu”... e eis o latim.

A língua latina é o resultado de uma longa evolução iniciada há milênios dentro da comunidade indo-européia, mas que lograra dar um salto entre os séculos VI e II a.C. Esta conclusão havia sido reforçada já no século XIX pelo filólogo alemão Franz Bopp, quando afirma que o latim, assim como muitas línguas asiáticas e européias, pertenceria ao grupo das línguas ditas “indo-européias” . A partir daí, é inevitável imaginar até onde poderia uma língua se desenvolver e alcançar um nível ideal de compreensão e expressão, a serviço da saciedade de todas as aspirações de um grupo social. Para tal, a expressão “fórmula encantatória”, usada por Grimal quando define o tipo de pensamento deliberado que viria a alicerçar e modelar o idioma latino, aqui, não parece nenhum exagero. Daí viria a prosa latina neste jogo de precisão total e ritmo onde subordinação e hierarquia são elementos-chave que conduzem a um racionalismo intelectualizado que mira, em primeira instância, ao que qualquer civilização sempre procurara atingir: aliar qualidade de vida à superação e dominação, como veremos. 

Notar que, bem antes do latim, a língua cultural na Itália era o grego – viera, sobretudo, na esteira da conquista da Macedônia em 168 a.C. - e que a poesia nacional reinava absoluta nos meios literários até o advento da prosa latina. Tais exercícios de inflexões - que escapam a muitas línguas modernas - impõem distinções ao espírito que o obrigariam a pensar melhor. Também teriam tomado parte neste processo a língua política, moldada pela redação dos textos jurídicos e dos relatórios das sessões do Senado, assim como os relatos históricos e “as exigências da vida política”, que impunham aos homens de Estado a obrigação de falar em público, fosse nos complicados debates no Senado, fosse para lidar com as massas reunidas diante dos Rostros, ou, ainda, na persuasão de um júri, numa causa judicial. Aí está: a necessidade de persuadir, começando-se por apresentar aos auditores todos os aspectos de um pensamento, resumindo-o numa breve fórmula suscetível de ser guardada “profundamente arcaicas helênicas, que passavam forte impressão de autoridade. Interessantes as notas em que o autor nos adverte” no espírito. À esta época, na prosa eloquente já se unem as duas qualidades da frase ciceriana: a gravitas (ou seriedade) e o número – com uma rigidez natural próxima a das estátuas que, antes de uma imitação vulgar, cada obra em Roma estaria mais para uma adaptação dos modelos gregos à realidade de cada região italiana, e com suas peculiaridades genuinamente nativas, em maior ou menor grau.

Panteão (em latim: Pantheon), em Roma, encomendado durante o reinado do imperador Augusto (27 a.C.–14 d.C.) e reconstruído por Adriano (r. 117–138) por volta de 126. Imagem: Reprodução Internet.

Uma outra expressão tão fundamental para se compreender este processo serão as sátiras - obras em prosa e versos e de métrica tão diversa quanto permitia a imaginação do poeta -, que conheceram enorme sucesso, uma criação verdadeiramente romana. E foi neste gênero que Horácio inventara uma subcategoria, a sátira horaciana, uma conversa sensata, mais preocupada com a perfeição formal. E, ainda aí, podemos achar traços do antigo realismo italiano, o sentido da vida levado por vezes à caricatura, e a vontade de instruir o leitor, de lhe indicar a via do bom senso. É a Horácio que se atribui a tentativa de expressão de certos sentimentos na literatura romana, a alegria de viver, os tormentos e os prazeres do amor, a felicidade: uma sensibilidade muito aguçada para com a experiência da vida. Ele quer a chave para o mistério divino contido no universo. E, em conseqüência desta experiência, faz-se intérprete da vida religiosa em Roma. Em contrapeso a toda a popularidade das atividades puramente literárias – a poesia, a história, a composição de obras filosóficas -, a eloquência vinha como o melhor meio de servir a pátria. É graças a Cícero que a formação do orador tornara-se objeto quase único da educação romana, sua “doutrina coerente da eloqüência, como instrumento de pensamento”. Junto a Quintiliano - que começara a ministrar um ensino oficial, custeado pelo Imperador – Cícero abraçara a idéia de que só o pensamento justo, sincero e amadurecido conduziria a uma persuasão duradoura.

As origens itálicas da cultura latina jamais seriam postas a escanteio. Aquilo que Grimal denomina como “tendências profundas da raça”, o gosto pelo realismo, a curiosidade universal pelo ser humano – mesmo o lado mais aberrante -, o desejo de tornar os homens sempre melhores, e a exaltação de Roma como um centro com destino de ser a pátria de todos os povos – aí comenta Tito Lívio - são marcas em todo o curso da escrita romana. Mas a beleza também deve surgir com uma função de ordem no mundo. Nesta parte, faz-se uma conexão com a obra de Lucrécio que, segundo o mesmo, parece nunca ter tomado plena consciência de que sua poesia emanava diretamente da intuição metafísica: algo que jamais se limitaria a simples encadeamento de conceitos.

Ainda no tempo de Cícero e César apareceria a escola dos poetas novos, ou alexandrinos, os quais quiseram dotar Roma de luxo novo, da poesia / poema, as “volúpias da arte pela arte”. Um dos méritos da adoção da poesia, inclusive, foi o de atenuar o impacto das guerras civis – As Geórgicas de Virgílio, uma colaboradora da revolução augustana que tratava da filosofia da própria natureza e das relações do homem para com ela. Em A Eneida, o mesmo Virgílio demonstra a ambição de revelar a lei secreta das coisas e mostrar que o Império era resultado necessário de uma dialética universal, “fase última dessa lenta ascensão para o Bem”. Para o historiador, aí Roma lograra encontrar sua Ilíada, uma verdadeira exaltação – e convite - para a formação e amadurecimento de um espírito pátrio e de uma identidade moldada nos maiores valores da moral e da religião tradicionais. Nesta obra, Virgílio, educado na filosofia epicurista, se refere a lenda de Enéias de Tróia, que, fugido de sua cidade, saqueada e incendiada, alcança a Itália onde dará origem ao povo romano. Epopéia erudita, o poema quer dar aos romanos uma ascendência não-helênica, caracterizando a cultura latina como genuína, jamais tributária da Grécia. Algo parecido viria, apenas, com A Farsália (ou A Guerra Civil) de M. Aneo Lucano, no período de restauração do Senado. A obra, ao abordar as guerras civis travadas entre os generais Júlio César e Magno Pompeu na segunda metade do século I a.C., não obteve o efeito que se pretendia, mas se perpetuara como fonte de inspiração moral e testemunho da grandeza romana, apesar das acusações de decadência. E podemos concluir que a epopéia sempre se mantivera fiel a pensar os grandes problemas da cidade e do mundo, enquanto a poesia latina nunca deixara de reconhecer que as formas mais elevadas do pensamento romano invariavelmente conduziriam à meditação e à oração.

Estoicismo e Império

Segundo o Prof.Dr.Geraldo J. Ballone da PUC de Campinas, das ideologias mais marcantes no pensamento romano pós-Cícero, identificamos as doutrinas estóicas, gregas, tal qual o epicurismo e o ecletismo. A escola estóica, fundada por Zenão de Cício (336-264 a.C.), propunha uma imagem do universo segundo a qual tudo que é material é como um ser vivo, e onde haveria o pneuma, “cuja tensão explicaria a junção e interdependência das partes”. No todo, o universo seria tal qual um corpo vivo com alma (um “sopro ígneo”). Para Zenão, esta alma é a razão e, por conseguinte, o mundo seria um todo racional - a racionalidade cósmica, que o rege, se revelaria na idéia de ciclo. Assim, a “Razão Universal”, ou Logos, barraria no universo lugar para o acaso ou a desordem. Enfim, para a humanidade, o que mais importa é seguir estritamente a Natureza, que vem a ser a própria Razão Universal, tomando seu destino, sem paixões, e “conservando a serenidade em qualquer circunstância, mesmo na dor e nas adversidades”.

Maquete da Roma antiga. Os Fóruns Imperiais e o Fórum Romano. Imagem: Reprodução Internet.

Quando Nero torna-se imperador a 54 d.C., o escritor e filósofo Lucius Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.), o moço – cuja obra literária e filosófica ainda será tida como modelo do pensador estóico durante o Renascimento, e inspiradora da tragédia na Europa -, converte-se em seu principal conselheiro e tenta orientá-lo para uma política justa e humanitária. Por algum tempo, exerce influência benéfica sobre o imperador, mas aos poucos se vê obrigado a adotar atitudes de complacência . Foi a gota d’água para que viesse a ser ferozmente criticado pela tímida oposição à tirania e sua pretensa acumulação de riquezas, incompatíveis com o estoicismo. Enquanto oficialmente defensor desta filosofia, Sêneca estava “certo de deter a verdade”, ao que ardia em “desejo de convencer os outros e de os elevar à sua sabedoria, único meio de que o homem dispõe para atingir a felicidade”. Apesar dos bons resultados com o povo na cadeira de orientador estóico enquanto ligado ao jovem Nero, sua escola literária não duraria muito, pois no tempo de Vespasiano caberia a Quintiliano “reencaminhar a juventude para o respeito aos bons princípios”. E, expõe Grimal, que, neste ponto é já condenada a literatura latina. Entretanto, ainda no período de Nero, teríamos o ótimo - mas hoje incompleto - Satiricon de Petrônio, representando o melhor do velho realismo latino, onde há um quê de espírito livre que contempla o espetáculo do mundo e despreza tudo que for convenção.

Com o fortalecimento do Império, Roma se vê aberta às influencias do Oriente, o quê “desconcerta” os escritores, cuja visão do mundo parecia “estreita”. Neste contexto surge Os Anais de Tácito, sobre os governos de Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Tácito aplica para a história deste período, a dinastia júlio-claudiana, elementos das velhas categorias de quando Roma ainda era quase uma vila – haveria, aí, um certo anacronismo: defende os valores “republicanos” mesmo sabendo que o regime imperial era uma necessidade, posição confortável na ótica do latinista. Tendo como pano de fundo esta “orientalização” da cultura romana sob a égide do Império – até certo ponto, uma “helenização” -, uma única obra que poderia ser tratada como autenticamente latina ainda respira, As Metamorfoses de Apuleio (125-164), apesar da livre utilização de vários apelos gregos, como o próprio título. A obra nos conta as peripécias do jovem Lúcio que, para se transformar em pássaro vale-se de uma poção mágica. Entretanto, após ter trocado de poção, transforma-se em asno. Depois de enfrentar muitas situações críticas - e fabulosas - recupera sua forma humana pela intervenção de Ísis. Notar que o próprio Apuleio era suspeito de praticar feitiçaria. Também é deste aquele que parece ser o único romance da Antigüidade completo que chegou até nós, a fábula de Amor e Psiquê, uma alegoria sobre a união mística, que entrelaça o grotesco, o terrificante, o obsceno e o absurdo. O tema desta seria retomado muitos séculos depois em partes no Decameron de Boccaccio, no Don Quixote de Cervantes, e no Gil Blas de Alain Le Sage. 

As artes eternas

Seguindo a tendência desta enorme sensibilidade e da procura pelo erudito na parte literária da Roma antiga, em relação às artes o tempero foi o mesmo. Após a predominância da influência etrusca na arquitetura do Lácio ao final do século VI a.C., notamos uma arte com caráter cada vez mais evidente de liberdade em relação ao que a cultura helênica pudesse, até ali, ter emprestado. Assim, o santuário passa a ser sempre construído num terraço elevado (o podium), ao qual se acessava por uma escada construída à frente da fachada – provavelmente devido à crença de que a divindade deveria mirar de frente seu devoto: isto era inovação. Neste período arcaico os templos são revestidos de terracota, com ornamentos em relevo e pintados de cores vivas. A parte decorativa parece ser do jônico e, embora se atinja certo nível de real beleza, o prédio em si é construído grosseiramente; a pedra é utilizada somente nas colunas e na base do que não se confundem com as formas gregas. Os motivos da decoração se inspiram em imagens helênicas, com um interesse especial pelos motivos dionisíacos, os sátiros e bacantes, e também pelas formas vegetais, tratadas com “profundidade e leveza”.

Muito pouco se sabe sobre os edifícios da Roma republicana devido a problemas de ordem técnico-arqueológica, mas já temos ciência de que seus habitantes se orgulhavam dos templos ornados de relevos e de estátuas de terracota, o que contrastava com o mármore e o ouro dos templos gregos. A colunata nunca atingira a excelência das do Partenon, mas, quando se desenvolveu a ornamentação dos capitéis e quando, para aligeirar a linha do fuste, se recorreu às caneluras, as colunas conservaram  certa rigidez, assim como uma tendência, por vezes, para uma extrema delicadeza... e raramente conheceram o entasis, esta técnica de amenização da ilusão de ótica provocada numa coluna ao que as duas linhas paralelas do fuste podem parecer encurvar para dentro. Pierre Grimal nos escreve: “... enquanto o Partenon se destina a ser observado de todos os ângulos, o templo romano é, sobretudo, uma fachada. Muitas vezes, a colunata reduz-se a um pórtico anterior ou então, quando é períptero, os pórticos laterais tendem a apagar-se por atingirem uma largura menor que o pórtico frontal, ou por serem substituídos por colunas mais leves ou simples pilastras. O templo é mais decoração da via pública do que um edifício em si, possuidor da sua perfeição própria. Destina-se a integrar-se num fórum ou numa área sagrada, freqüentada por multidões...”.

Colosseo di Nerone. Anfiteatro Flavio. Imagem: Reprodução Internet.

E foi mesmo a partir do Império que vemos os primeiros templos revestidos de mármore e constatamos o triunfo da ordem coríntia. O dórico entra num segmento mais ornamentado (templo de Cori), e o jônico faz-se notar mais pelos capitéis, ainda que num contexto de hibridismo: “Às volutas características vieram juntar-se, na maior parte das vezes, motivos florais que alongam o cesto e se inspiram, visivelmente, nos capitéis coríntios. É para uma ornamentação cada vez maior que evolui a arquitetura romana na arte sacra”. O autor coloca a Casa Quadrada de Nimes como uma boa referência para o coríntio “augustano”. Então, a ornamentação começaria a se sofisticar quando os operários italianos e ocidentais viessem a se tornar mais hábeis com o mármore... e onde o estilo oriental predominaria. Os templos vinham sendo construídos segundo a técnica tradicional da pedra, uma herança helênica. Já no fim da República, tinha desenvolvido-se a do cascalho. As paredes não seriam inteiramente feitas de blocos justapostos, mas de um núcleo central. Tal tipo de construção, mais rápido e econômico, permitiria a seus projetistas e pedreiros todo tipo de “audácias”. E completa: “Com o cascalho, nada mais fácil: uma armação grosseira na qual se introduzia a massa líquida bastava para erigir as abóbadas mais ousadas”. Para o mesmo, isto explicaria em grande parte o caráter monumental dos edifícios imperiais, como as termas e os anfiteatros, ou, em menor grau de exuberância, mas não menos impressionante, os aquedutos e algumas pontes – como a do Gard -, onde tal arquitetura não teria outro fim que não “a própria eficácia da função”.

As primeiras estátuas que ornamentaram os templos em Roma haviam sido fornecidas por oficinas etruscas; ora, ainda dependia-se – e muito – das técnicas e motivos gregos até antes do Império quando a arte romana triunfa ao sofisticar o friso contínuo, que se desenvolve e alcança o estilo do relevo “pitoresco”, o qual se supera na coluna de Trajano. Quando a partir de Augusto se generaliza o trabalho em mármore, temos um notável desenvolvimento – à época de Virgílio e Horácio – de uma arte em relevo que conciliava realismo e graça, e cuja obra-prima é o Altar da Paz, que Augusto dedicaria a Roma no ano 9. No Império a mística imperial forma uma arte que consegue expressar simultaneamente a personalidade do regente e o caráter divino de sua missão. Assim, escultores, por exemplo, ao produzir um busto, mesclavam a apoteose a um rosto real, o rosto da personalidade escolhida. Notar que, quando o retratado era gente comum, às vezes esta representação flertava com o caricato.

Com um nível de luxo muito alto, voltam-se as atenções para a pintura decorativa. Inicialmente, penduravam em suas casas quadros dos mestres gregos. Entretanto, a partir do século I a.C., criara-se um novo estilo pela técnica do cascalho que possibilitava criar vastas superfícies lisas, próprias para uma decoração pintada. A parede era toda dividida em zonas que recebiam decorações diferentes. Grimal nos dá detalhes de como se produzia arte dentro das casas mais ricas: “Inicialmente, realizaram-se apenas incrustações de mármores de cor - foi aquilo a que se chamou primeiro estilo -, seguindo-se todo um conjunto arquitetural, colunas com estilóbatas, frisos e, entre as colunas, cenas pintadas, inspiradas em quadros célebres” - este estilo era o segundo estilo. Os pintores decidiriam desenhar janelas em trompe-l’oeil (estilo aplicado à pintura que concede efeitos de ilusão de ótica de profundidade, devendo se confundir com a paisagem ambiente), por onde apresentariam composições originais, na maioria, paisagens inspiradas na arte da jardinagem. Junto a este estilo havia-se desenvolvido outro, que tratava a parede como superfície ao invés de tentar eliminá-la: “Cada painel, amplamente desenvolvido, recebia, ao meio, uma paisagem de pequenas dimensões ou, mais freqüentemente, uma figura graciosa, uma amazona, um Arimaspo, cujas curvas harmoniosas se coordenam com elementos arquiteturais fantásticos: colunas irreais, flâmulas, pavilhões de sonho limitando o campo decorativo”. Ainda haveria um terceiro e quarto estilos, de menor importância, ou, pelo menos, não tão conhecidos ainda. Para tal, o teatro teria fornecido certos esquemas de composição: a parede poderia ser concebida como uma fachada de skéné evocando um átrio de palácio, com as suas portas e, “numa perspectiva fugaz, colunatas e arquiteturas fantásticas”. Por fim, conclui afirmando que a idéia, a intenção dos romanos em suas formas de expressão, de uma maneira geral, vinha sendo o de sempre “embelezar o real”, rodeando a vida cotidiana de “maravilha e fantasia”... 

Após glorificar as conquistas do maior império e civilização de todos os tempos, e reivindicar sua justa independência da cultura grega, o autor encerra lembrando-nos que, antes de mais nada, o que se queria em Roma era sonhar. Sonhara-se com um gigante e fizeram o Fórum e o Coliseu. Sonhara-se com dominar o mundo e, mais de dois mil anos depois, ainda vemos todo o planeta direta ou indiretamente vivendo o que os primeiros latinos moldaram como regras pra se viver. Sonhara-se com ser eterno, e nos sentimos tão fugazes quando nos lembramos da rigidez e imponência de seus monumentos e tantas obras. Talvez o maior mérito dos “construtores” de Roma seja, de fato, terem desenvolvido para si uma cultura de magnitude e superação que se sentiram potentes o bastante para brincar com a História e serem donos do tempo.

1. Mas Ernesto Faria, em sua Gramática da Língua Latina, nos observa que “...não tendo permanecido do indo-europeu nenhum documento escrito, nenhuma inscrição, deve-se observar que o indo-europeu, como idioma propriamente dito, não existiu. O que há é um sistema de correspondências entre as chamadas línguas indo-européias. São essas correspondências, portanto, que sugerem a preexistência de uma unidade comum que se convencionou chamar de indo-europeu”.

2. Sêneca chega a redigir uma carta ao Senado onde tentava justificar a execução da mãe de Nero, Agripina (a 59 d.C.), justo a responsável pela ascensão do próprio filósofo quando o nomeia preceptor do filho e o eleva a pretor em 50 d.C.

Prof.Átila Soares

Especialista em Filosofia, História e Antropologia.
https://professoratilasoares.weebly.com/
asoarescf@zipmail.com.br

Referências bibliográficas

BALLONE, G.J. Lucius Annaeus Seneca. In: PsiqWeb: Psiquiatria Geral - Geraldo J. Ballone, Internet, 2001, disponível em http://gballone.sites.uol.com.br/hlp/seneca.html.

FARIA, Ernesto. Gramática da Língua Latina. 2ª ed. rev. de Ruth Junqueira de Faria. Brasília: FAE, 1995.

GRIMAL, P. A Civilização Romana. Lisboa: Edições 70, 1984.