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Crescem os apelos para libertar jornalista sequestrada no Iraque

Os apelos para a libertação da jornalista Giuliana Sgrena, seqüestrada em Bagdá há quase duas semanas, se multiplicaram na Itália em meio ao debate político sobre a presença militar no Iraque.

Depois da divulgação na quarta-feira de um vídeo em que a repórter do Il Manifesto implora ajuda e pede "o fim da ocupação" no país árabe, os italianos estão divididos entre a angústia por seu destino e a esperança por comprovar que Sgrena continua viva.

O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, disse após a transmissão da dramática gravação que há "razões fundamentadas" para o otimismo, e essa mesma linha é mantida pelo companheiro de Sgrena, Piero Scolari, a quem a jornalista se dirigia diretamente no vídeo para pedir ajuda.

Em um discurso televisionado, Scolari mostrou hoje sua esperança em que o seqüestro chegue ao fim em breve e deixou transparecer que poderia haver contatos com os seqüestradores: "É evidente que esse vídeo é um sinal que diz: vamos negociar", disse.

Até pouco tempo considerava-se a possibilidade de que o objetivo dos seqüestradores era apenas conseguir um resgate em dinheiro. No entanto, a mensagem política do vídeo levantou o temor de que, como em seqüestros anteriores, o destino da refém dependa de uma chantagem política a qual o governo não tem intenção de ceder.

O fato da gravação ter sido divulgada horas antes de o Parlamento dar o sim à prorrogação da missão italiana no Iraque contribuiu para aumentar o drama do caso e reacender a polêmica sobre a intervenção estrangeira no país árabe.

Em entrevista publicada hoje pelo Il Manifesto, o líder opositor Romano Prodi mostra novamente sua oposição à intervenção armada no Iraque e lembra que, no vídeo, Sgrena denuncia a guerra e suas conseqüências sobre a população iraquiana.

No entanto, reconhece que "a discussão sobre o Iraque é como todos os debates: concentra-se no jogo político, esquecendo um povo que sofre". Ele também faz um apelo para que todos os partidos "mostrem um desejo compacto" de salvar a jornalista.

Da mesma forma manifestou-se o líder dos Democratas de Esquerda (DS), Piero Fassino, que admitiu as "diferenças evidentes entre a oposição e a maioria" diante da situação iraquiana, mas pediu que todos os partidos "diminuam o tom que a discussão sobre o Iraque tomou nas últimas horas".

O governo italiano, fiel aliado de Washington, mantém desde meados de 2003 cerca de 3.000 soldados nos arredores de Nassiriya, em meio às críticas - mais ou menos duras - da oposição de centro-esquerda e à condenação taxativa de partidos como a Refundação Comunista e os Verdes.

Neste sentido, o coordenador político dos Verdes, Paolo Cento, disse que "libertar Giuliana Sgrena da odiosa chantagem de seus seqüestradores é uma prioridade que buscamos com a máxima unidade", mas "retirar os soldados italianos do Iraque (...) é outro objetivo que é preciso buscar com determinação".

A própria Sgrena era contra a presença militar no Iraque, da mesma forma que seu jornal, o esquerdista Il Manifesto, que organizou vários atos para exigir a libertação da repórter.

O principal ato é uma grande manifestação prevista para o próximo sábado em Roma com o lema "Vamos libertar a paz", e que já foi tomada pela polêmica depois que o coordenador do governante Forza Itália, Sandro Bondi, adiantou que não vai participar considerando que é organizada pelo setor mais radical.

"Toda a iniciativa ganhou uma conotação política que, mais que unir, divide", disse Bondi hoje, acusando o líder da Refundação Comunista, o veterano Fausto Bertinotti, de estar por trás do suposto caráter radical do ato.

"É a manifestação de Bertinotti; tenho certeza de que a esquerda moderada não confunde as razões prioritárias para a libertação de Giuliana Sgrena com a luta política de retirada das tropas", concluiu Bondi.