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Gramsci em debate no RJ

O Centro de Filosofias e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro -UFRJ realiza, no dia 5 de maio, uma mesa-redonda com o tema “Atualidade de Gramsci”. Participam do encontro os professores Carlos Nelson Coutinho (UFRJ), Alvaro Bianchi (UNICAMP) e Virginia Fontes (UFF).

O evento acontece no auditório do CFCH, localizado na Avenida Pasteur, 250 – Campus Praia Vermelha. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail cncoutinho@editora.ufrj.br ou pelo telefone 3873-5141.

Nascido ao norte da ilha da Sardenha, em 1891, o filósofo, jornalista e cientista político Antonio Gramsci morreu em Roma, em abril de 1937.

Quem foi Antonio Gramsci

Por Holgonsi Soares, Prof. Ass. Depto.de Sociologia e Política - UFSM-

"Qualquer livro é útil para leitura. Em qualquer livreco pode-se encontrar alguma coisa de válido. Tudo consiste em dar uma finalidade às próprias leituras e no saber tomar apontamentos". Preso em 08.11.1926 , devido suas atividades políticas de oposição ao regime fascista, Gramsci escreveu inúmeras cartas à família. Este trecho da Carta n.o 61, de 22.04.1929, que expressa uma questão de método, mostra-nos a abertura, o arejamento, de sua estrutura mental. Em suas cartas encontramos a diversificação de suas leituras e escritos, que eram sobre temas de história, educação, filosofia, política, literatura, lingüística comparada, psicologia, etc. Sabia que o conhecimento de um contexto histórico concreto só é possível a partir de teias de relações nas quais nada pode ser desprezado, e que o contrário resulta em "autoritarismo e doutrinação ideológica rançosa e estúpida"(Gramsci).

Dessa forma,Gramsci foi um intelectual que teve a relacionalidade como princípio norteador de seu pensamento político-filosófico. Por exemplo, quando ele trabalha a noção de "bloco histórico", estrutura/superestrutura são igualmente determinantes. Assim, fugiu do economicismo mecanicista e também do idealismo. A relação perspassa todo o seu instrumental analítico-teórico, ou seja, as categorias de bloco histórico, hegemonia, intelectuais, sociedade civil e política, teoria ampliada do Estado, todas encadeadas dialéticamente.

Por ser um homem que pensava em termos de relações, seu entendimento sobre as formações sociais era global. Escrevendo sobre o fordismo, reconhece explicitamente que a homogeneidade, a padronização e as economias e empresas de escala são símbolos "inseparáveis de um modo específico de viver, de pensar e de sentir a vida"(Gramsci), e não apenas da esfera econômica. Esta visão de mundo refletia em sua prática política, e como Deputado e Secretário do Partido Comunista Italiano sempre pregou a busca dos elementos revolucionários e inovadores "onde quer que se evidenciassem: no operariado,mesmo não sendo comunista, no sofrido homem dos campos do sul da Itália, e nos intelectuais e artistas mais vivos e inteligentes mesmo sendo liberais"( In: Nosella). Sua compreensão ampla das coisas e sua luta contra o que ele chamava de "monótona repetição dos velhos e gastos chavões teórico-políticos", nunca foram entendidas pela ala mesquinha e sectária do Partido (qualquer semelhança hoje, não é mera coincidência).

Tudo isso marcou sua indispensável contribuição à área educacional (formal e informal). Gramsci chamou a atenção da escola, para que a mesma "não hipotecasse o futuro dos alunos; nem obrigasse suas vontades, inteligências,consciências e informações a se moverem na bitola de um trem com estação marcada", e sempre foi contra o "abstratismo didático e doutrinário"( In: Nosella). Almejava a formação "onilateral" do homem (integral, técnica e política). Seu método de ensino para o 2.o grau e Universidade, consistia "na investigação, no esforço espontâneo e autônomo do discente, e no qual o professor exerce apenas uma função de guia amigável"(Gramsci).

Antonio Gramsci foi um homem que sempre lutou contra a ortodoxia, o autoritarismo, a fragmentação... sempre tendo como idéia central a questão: "como podemos nos tornar livres?". Seu referencial teórico e sua prática política foram marcados pelo pluralismo, pela flexibilidade, pela relação entre as aparentes disparidades e pela busca da autonomiado homem. Lição que deveria ser aprendida pelos atuais políticos, educadores, líderes sindicais, enfim, pela sociedade em geral. Faleceu em 27.04.1937, aos 46 anos de idade, vítima de tuberculose e derrame cerebral. Mesmo na prisão e sofrendo todo tipo de privação, não teve o apoio dos chamados "companheiros" que também estavam presos. Motivo? A "companheirada" era ( ou ainda é?) tradicional, autoritária, e tinha(?) uma visão unilateral do mundo. (Texto publicado originalmente no jornal A Razão)