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Italiano Alberto Trentini segue preso na Venezuela

Em meio às tensões diplomáticas entre a Venezuela e o Ocidente, o caso de Alberto Trentini, um trabalhador humanitário italiano de 45 anos natural de Veneza, continua a mobilizar as autoridades italianas. Detido há mais de nove meses em Caracas, Trentini permanece atrás das grades enquanto outros cidadãos com laços italianos foram recentemente libertados com restrições. Essa situação reflete o uso de prisioneiros como peões no xadrez geopolítico liderado por Nicolás Maduro, envolvendo Washington, a União Europeia (UE) e até a gigante energética italiana Eni.

No último domingo, o governo venezuelano anunciou a liberação de Américo De Grazia e Margarita Assenzo, ambos com dupla cidadania ítalo-venezuelana, junto com outros 13 presos políticos. De Grazia, ex-deputado venezuelano, e Assenzo, ex-funcionária da prefeitura de Maracaibo, não estão em prisão domiciliar formal, mas enfrentam proibições de deixar Caracas e obrigações de comparecer ao tribunal. O anúncio veio não das autoridades oficiais, mas de Henrique Capriles Radonski, líder opositor que desafiou Maduro em eleições passadas e representa uma fração da oposição que não aderiu ao boicote nas urnas de julho de 2024.

Alberto Trentini foi preso, em 15 de novembro de 2024, por funcionários do Serviço Administrativo de Identificação, Migração e Estrangeria (SAIME), e levado para as autoridades da Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) com destino final em Caracas.

O Ministério das Relações Exteriores italiano (Farnesina) celebrou o resultado, atribuindo-o ao trabalho diplomático sob o comando do ministro Antonio Tajani. Parlamentares como Fabio Porta e Pier Ferdinando Casini expressaram satisfação, mas reiteraram a urgência na liberação de Trentini. "Este é um passo positivo, mas Alberto ainda sofre. Precisamos de ações concretas", afirmou Porta em comunicado recente.

A diferença crucial reside na cidadania: De Grazia e Assenzo são ítalo-venezuelanos, e sua liberação atende a uma lógica interna de Maduro para acalmar tensões domésticas e opositores moderados. Trentini, por outro lado, é um "ítalo-italiano" puro, coordenador de campo da ONG Humanity and Inclusion, desde outubro de 2024. Ele foi detido em novembro do mesmo ano sem acusações formais, em uma operação que a família descreve como arbitrária. Trabalhando em missões humanitárias para ajudar vulneráveis no país, Trentini se tornou, segundo analistas, uma moeda de troca internacional.

Maduro parece aguardar concessões da Itália para soltá-lo. Fontes diplomáticas indicam que o líder venezuelano condiciona a liberdade de prisioneiros estrangeiros ao reconhecimento da legitimidade das eleições de julho de 2024 – uma decisão que cabe à UE como bloco. Além disso, há o imbróglio econômico envolvendo a Eni (Ente Nazionale Idrocarburi), que reivindica € 2,1 bilhões em créditos da estatal petrolífera venezuelana PDVSA. "Maduro usa Trentini como alavanca para negociações com Roma e Bruxelas", explica um especialista em relações internacionais.

O contexto global agrava o drama. Os Estados Unidos enviaram uma esquadra naval para combater o narcotráfico na região, dobrando a recompensa por Maduro e evocando paralelos com a queda de Noriega no Panamá. Países como Holanda, França, Trinidad e Tobago, Guiana, Equador e Paraguai apoiam a operação de formas variadas. Em resposta, Maduro mobilizou simbolicamente 4,5 milhões de "milicianos" – número que coincide com o total de funcionários públicos – e invocou o bloqueio naval anglo-germânico-italiano de 1902, quando um caudilho venezuelano ofereceu renúncia e libertações para evitar invasão.

A família Trentini, em um comunicado emocionado divulgado em 24 de agosto, expressou alegria pelas libertações recentes, mas cobrou urgência: "Alberto está preso há mais de nove meses sem visitas. Cada dia adicional causa sofrimento intolerável. Confiamos no Ministério das Relações Exteriores e no enviado especial para ações concretas". Em julho, Trentini falou por telefone com a família pela primeira vez, afirmando estar bem e recebendo cuidados necessários, o que aliviou preocupações, mas não resolveu o impasse. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) concedeu medidas cautelares em janeiro de 2025, e mobilizações crescem, com apelos de Veneza e ONGs como Humanity & Inclusion.

Para a comunidade ítalo-brasileira, esse caso ressoa profundamente. Muitos descendentes de italianos na Venezuela enfrentam crises semelhantes, e o destino de Trentini destaca os riscos humanitários em regiões instáveis. A Itália nomeou um enviado especial em julho para monitorar presos, sinalizando compromisso. No entanto, enquanto o jogo diplomático prossegue, Trentini passa seu 46º aniversário (em 10 de agosto) na prisão, longe de casa.

A esperança reside em negociações aceleradas. "Não podemos permitir que humanitários sejam reféns de política", diz a mãe de Trentini. A revista acompanha o caso e apela à solidariedade ítalo-brasileira para pressionar por sua liberação imediata.