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Roma em mim*

Roma se instala em mim
Com seus anjos de pedra e asfalto,
Igrejas de nuvens
E seculares pátios de ouro e cansaço.
Me toma por inteiro
De permanente e antigo desejo,
E despeja sobre minha cabeça
O sol insuportável de oitocentos impérios.
Nega ao meu corpo cansado
A sombra refrescante de árvores frondosas,
Que hoje são ruínas.
Desvia de minha língua esturricada
A água de infinitas fontes
E exclui de minha vista exangue
O espelho de águas imaginárias
E castelos inatingíveis.
Eis Roma dentro de mim,
Como se nos pertencêssemos:
O céu a velar ciprestes,
Cidade marrom e babélica,
Imundo e esverdeado carpete
A borrifar sorvetes pelas escadarias,
Em meio às gentes desnorteadas.
Roma em mim,
Olhos eternos a repousar entre mistério e beleza,
Âmago de amor e passarela de pombos,
Ensangüentados e agonizantes.
Roma em meu corpo com seus toldos coloridos,
Suas freiras apressadas,
Colunas de mármore e prata
Sobre meus ombros de menino enamorado.
Roma secretamente em meus lábios,
A destilar pecados e revelações.
Roma nua, Roma noturna,
Roma alada sobre rios de eternidade,
Roma escorrendo de mim
Como o amor que explica
Toda uma existência,
E que alimenta meus sonhos e minha vida,
Com noites de infinita Poesia...

*Por Benilson Toniolo, poeta e escritor - benilson@hotelserradaestrela.com.br