Inspirado em Monteverdi, Secconda Prattica se apresenta em BH
Belo Horizonte (ORIUNDI) - Inspirado no movimento musical e filosófico desenvolvido no início do período barroco, com uma proposta de um discurso musical e composicional criado pelo compositor italiano Claudio Monteverdi, que colocava a voz solista como uma característica importante, contrastando com o discurso musical polifônico da Renascença, o Grupo Secconda Prattica volta a se apresentar nesta quarta-feira (18), em Belo Horizonte. A exibição ocorre, no ambito do projeto Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais, a partir das 12h30min, no Conservatório de Música da Universidade. O evento tem entrada franca e apresenta em seu repertório canções inglesas do período renascentista. Veja, abaixo, texto sobre a importância de Monteverdi.
Secconda Prattica ensemble é um grupo de estudos e práticas interpretativas em Música Antiga. O repertório abrange o período renascentista (1500-1650), barroco (1650-1780), chegando ao clássico (1780-1850). O trabalho tem a direção, criação e coordenação de Liz Xavier professora de canto do Cefar.
Oriundo de um trabalho didático, de ensino e performance, desenvolvido na Escola de Música do Centro, o grupo é constituído por alunos dedicados ao estudo e prática da música erudita e, especificamente, ao estudo do canto lírico. O nome Secconda Prattica é inspirado no movimento criado pelo compositor Cláudio Monteverdi.
No decorrer de quatro anos, esse grupo vem realizando atividades didáticas e eventos que contribuíram para o desenvolvimento técnico, informativo e artístico dos alunos, bem como entretenimento cultural para a comunidade. Desde 2004, tem apresentado vários recitais nas salas Juvenal Dias e João Ceschiatti do Palácio das Artes, Conservatório de Música da UFMG, Centro de Cultura de Belo Horizonte, Auditório da Associação Médica, dentre outros.
Os recitais, em seu contexto, apresentam uma temática desenvolvida cenicamente, onde a escolha do repertório é criteriosa, tornando a pesquisa uma prática necessária. O grupo vem também realizando estudos técnicos específicos da interpretação vocal, além de outros sobre estética, estilo e fundamentos históricos da interpretação musical dos períodos seiscentista e setecentista.
Os recitais exigem ainda o desempenho cênico, sendo necessário um estudo da literatura, lingüística, dramaturgia, artes plásticas, que estejam co-relacionados com a proposta de cada concerto. O grupo conta ainda com a participação de músicos convidados especialmente para cada evento.
Cefar
Criado em 1986 pela Fundação Clóvis Salgado, o Centro de Formação Artística é formado pelas escolas de Música, Dança e Teatro. A cada ano, cerca de 350 alunos recebem conhecimentos e experiências artísticas e pedagógicas profissionalizantes, de aproximadamente 60 professores. A área de Música do Cefar tem como objetivo preparar os alunos técnica e artisticamente para ingressarem em uma escola superior de música ou em um conjunto de nível avançado, seja coro ou orquestra.
A área de Música é ainda considerada uma das melhores do Estado, e vários alunos que passaram pelo Cefar têm seu lugar garantido na Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, assim como no Coral Lírico. Cumprindo seu papel de escola preparadora de músicos, o Centro mantém vários conjuntos que atuam em concertos e apresentações: coro, grupo de sopros, grupo de percussão, Big Band e Orquestra Jovem.
Serviço
Evento: Grupo de Música Antiga do Cefar
Projeto Quarta Cultural da UFMG
Data: 18/06 quarta-feira - Horário: 12h30
Local: Conservatório de Música da UFMG (Av. Afonso Pena, 1534, Belo Horizonte)
Entrada franca
Informações: 3236-7400
Claudio Monteverdi
Claudio Monteverdi é sem sombra de dúvida o mais importante compositor europeu da primeira metade do séc. XVII. Nasceu em Cremona, e aí adquiriu a sua formação musical como menino cantor no coro da catedral de Cremona, tornando-se um hábil organista e violinista, e publicando aos dezasseis anos o seu primeiro volume de madrigais .Entran, depois, ao serviço do duque de Mântua como violinista. Foi nesta condição que acompanhou o duque nas suas incursões militares, e em Florença contactou com as primeiras montagens de ópera aí feitas.
O grande mérito de Monteverdi na História da Música foi no domínio da ópera, uma vez que ele sedimentou os parâmetros que orientam a construção de uma ópera e que permaneceram, em linhas, gerais até hoje.
Acontece que nas primeiras óperas florentinas ainda não havia uma modelação eficaz das personagens, e o que Monteverdi revolucionou neste campo foi a introdução de recitativos mais expressivos, e de árias que se adequavam melhor a estados psicológicos vividos pelas personagens. Esta inventividade culmina em "Il Ritorno d'Ulisse in Pátria", e principalmente em "L'incoronazzione di Poppea", onde escrita poética do libretto é inteiramente subjugada à interpretação que Monteverdi faz do libretto.
A ópera passa com Monteverdi de um estado em que era pouco mais do que uma "colagem" da música com o teatro, a uma construção uniforme e modelada.
A sua obra compreende toda uma panóplia de géneros que vão desde música religiosa, madrigais, à ópera, e que primam pela originalidade de formas e ideias. Com efeito, Monteverdi é um compositor ainda mais peculiar, na medida em que durante toda a sua vida inovou a música que compunha. Ouvir a sua primeira grande ópera, "L'Orfeo", depois "Il Ritorno d'Ulisse", e "L'incoronazzione", a sua ultima obra, notamos grandes diferenças, nomeadamente no domínio da modelagem das personagens.
Mas aquelas obras que Monteverdi mais trabalhou ao longo da sua vida foram aquelas que tomavam a forma de madrigal. O madrigal era um género musical proveniente da Itália renascentista, e eram geralmente poemas de temática amorosa, cuja música se destacava pela sua expressividade de acordo com o próprio poema. Devido a esta expressividade, estes madrigais prestavam-se certas vezes a pequenas cenas operáticas (madrigais cénicos). Ao todo, Monteverdi editou oito livros de Madrigais, mais um nono, editado postumamente, em 1651.
Os madrigais de Monteverdi destacam-se pela sua escrita expressiva, e por uma novidade que os separava dos madrigais quer de épocas pouco anteriores, quer de muitos madrigais compostos por outros compositores da época: a sua escrita em pouco se diferencia da escrita que Monteverdi aplicava à ópera. Os seus melhores madrigais são sem dúvida os madrigais cénicos, e a sua obra prima neste domínio é "Il combatimento di Tancredi e Clorinda".
No campo da música sacra, Monteverdi é principalmente lembrado pelas suas "Vésperas" de 1610, ou "Vespero della Beata Virgine", estreadas na basílica de São Marcos, em Veneza. Nesta obra, é curioso que se encontra um género de composição que em todo faz lembrar a Lully, na medida em que na sua escrita encontra-se a pompa digna de uma ópera (principalmente no "Deus in auditorium"), e a ligeireza, elegância e expressividade de um madrigal, em partes como o "Nigra sum" ou "Pulchra est". (Musica Antiga.com)
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