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Primeiro encontro entre Bento XVI e representantes judeus

O Papa Bento XVI comprometeu-se a continuar promovendo a reaproximação da Igreja Católica com o povo judeu e pediu o prosseguimento do trabalho de memória sobre a Shoah, durante um encontro com os representantes da comunidade judaica mundial nesta quinta-feira no Vaticano.

O Papa Joseph Ratzinger reservou sua primeira audiência com uma delegação religiosa não-cristã a 25 representantes de diversas tendências do judaismo religioso e leigo.

Logo após sua eleição como Papa, Bento XVI havia afirmado a vontade de "dar prosseguimento ao diálogo" e de "reforçar a colaboração" com a comunidade judaica.

Nesta quinta-feira, o ex-cardeal alemão acolheu seus convidados de uma forma "ainda mais calorosa" que o havia feito seu predecessor João Paulo II, grande artesão da reconciliação entre a Igreja Católica e o judaismo, destacou o rabino David Rosen, diretor internacional dos assuntos inter-religiosos no American Jewish Comittee.

Liderada pelo rabino americano Israel Singer, presidente do Comitê judeu internacional para as consultas religiosas, a delegação era integrada, entre outros, pelo presidente do Congresso judaico mundial, Edgar Bronfman, e o presidente da Aliança israelita universal Ady Steg.

Em uma breve intervenção em inglês, Bento XVI deu continuidade à declaração "Nostra Aetate" do concílio Vaticano II, que exortava a "uma maior compreensão entre cristãos e judeus" e lamentava "as manifestações de ódio e de anti-semitismo".

"Neste início de meu pontificado, quero assegurar que a Igreja segue firmemente comprometida a desenvolver este aspecto fundamental", declarou o Papa.

"Meus antecessores Paulo VI e principalmente João Paulo II realizaram progressos significativos no desenvolvimento das relações com o povo judeu" depois do concílio Vaticano II, acrescentou Bento XVI. "Minha intenção é trilhar o mesmo caminho", ressaltou.

"A recordação do passado permanece para as duas comunidades (judaica e cristã) um imperativo moral. Este imperativo deve incluir uma reflexão contínua sobre as questões históricas, morais e teológicas levantadas pela experiência da Shoah", sustentou o ex-cardeal alemão.

"Em um mundo de ódio e de medo, onde os governos fracassam em proporcionar segurança aos povos, as esperanças se voltam para os homens de fé", considerou anteriormente Israel Singer.

O encontro desta quinta-feira "confirma o firme compromisso do Papa com o desenvolvimento das relações com o povo judeu", comentou David Rosen. Os que temiam a eleição deste Papa alemão "não conheciam o cardeal Ratzinger", afirmou.

Rosen lembrou que o Papa havia escrito no jornal do Vaticano, o Osservatore Romano, em 2000, um texto sobre Abraão, o ascendente dos crentes judeus e cristãos, "indo mais longe que João Paulo II, expressando seus sentimentos profundos".

Indagado por jornalistas sobre uma eventual beatificação do Papa Pio XII, Rosen declarou que não cabia às organizações judaicas "dizer à Igreja Católica quais são seus santos", e recordou que o papel de Pio XII durante o período do nazismo vem sendo objeto de um debate entre historiadores.

"Porém, muitos judeus interpretariam uma beatificação de Pio XII como um ato de insensibilidade intencional", avisou.