Papa Francisco frente à imagem de N.S. de Fátima

A oração de Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria

"Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa". Assim começa o texto do Ato de Consagração da Rússia e da Ucrânia, ao Imaculado Coração de Maria, que foi realizado nesta sexta-feira (25), na Solenidade da Anunciação.

O ato foi pronunciado pelo Papa Francisco durante a Celebração Penitencial na Basílica de São Pedro, por volta das 18h30. Ao mesmo tempo, o texto foi lido na Basílica de Fátima e partilhado por bispos e clérigos de todo o mundo, como foi expressamente solicitado por Nossa Senhora de Fátima, durante as aparições aos pastorinhos em 1917.

A oração do Ato de Consagração ao Imaculado Coração de Maria

Ó Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, nós, nesta hora de tribulação, recorremos a ti. Tu és Mãe, nos ama e nos conhece: nada te é oculto do que temos no coração. Mãe de misericórdia, tantas vezes experimentamos a tua providente ternura, a tua presença que traz de volta a paz, porque Tu sempre nos guia a Jesus, Príncipe da paz.

Mas nós perdemos o caminho da paz. Esquecemos a lição das tragédias do século passado, o sacrifício de milhões de mortos nas guerras mundiais. Desconsideramos os compromissos assumidos como Comunidade das Nações e estamos a trair os sonhos de paz dos povos e as esperanças dos jovens. Adoecemos de avidez, nos trancamos em interesses nacionalistas, acabamos inférteis pela indiferença e paralisados pelo egoísmo.

Preferimos ignorar Deus, conviver com nossas falsidades, alimentar a agressividade, suprimir vidas e acumular armas, esquecendo-nos que somos guardiões do nosso próximo e da mesma casa comum. Dilaceramos com a guerra o jardim da Terra, ferimos com o pecado o coração do Pai nosso, que quer que sejamos irmãos e irmãs. Tornamos-nos indiferentes a todos e a tudo, menos a nós mesmos. E com vergonha dizemos: perdoa-nos, Senhor!

Na miséria do pecado, nas nossas fatigas e fragilidades, no mistério da iniquidade do mal e da guerra, Tu, Santa Mãe, lembra-nos que Deus não nos abandona, mas continua a olhar-nos com amor, desejoso de nos perdoar e nos levantar. Foi Ele que nos deu a ti e colocou no teu Imaculado Coração um refúgio para a Igreja e para a humanidade. Pela bondade divina estás conosco e, mesmo nas curvas mais estreitas da história, nos conduz com ternura.

Recorramos portanto a ti, batamos à porta do teu Coração nós, os teus queridos filhos que  todo o tempo não se cansam de visitar e convidar à conversão. Nesta hora escura, venha nos socorrer e nos consolar. Repita para cada um de nós: "Não estou eu aqui, que sou a tua Mãe?". Tu sabes desatar os emaranhados de nossos corações e os nós de nosso tempo. Colocamos nossa confiança em ti. Estamos certos que Tu, especialmente no momento da provação, não desprezas as nossas súplicas e vem em nosso auxílio.

Assim fizestes em Caná da Galileia, quando apressastes a hora da intervenção de Jesus e apresentastes o seu primeiro sinal ao mundo. Quando a festa era transformada em tristeza lhes disse: "Eles não têm vinho" (Jo 2, 3). Repete-o outra vez a Deus, ó Mãe, porque hoje exaurimos o vinho da esperança, a alegria se desvaneceu, a fraternidade se diluiu. Perdemos a humanidade, desperdiçamos a paz. Nós nos tornamos capazes de toda violência e destruição. Precisamos urgente da tua intervenção materna.

Acolha, portanto, ó Mãe, esta nossa súplica.

Liberte-nos da guerra, proteja o mundo da ameaça nuclear. Rainha do Rosário, desperta em nós a necessidade de rezar e de amar. Rainha da família humana, mostra aos povos o caminho da fraternidade. Rainha da Paz, obtenha a paz para o mundo.

O teu pranto, ó Mãe, mova os nossos corações endurecidos. Que as lágrimas que por nós Tu derramastes façam reflorescer este vale que nosso ódio secou. E enquanto o barulho das armas não silencia, a tua oração nos disponha à paz. Tuas mãos maternais acariciem quem sofre e foge sob o peso das bombas. Teu abraço maternal console aqueles que são obrigados a deixar suas casas e seu país. Que o teu Coração entristecido nos mova à compaixão e nos impulsione a abrir as portas e a tomar conta da humanidade ferida e rejeitada.

Santa Mãe de Deus, enquanto estavas debaixo da cruz, Jesus, vendo o discípulo ao teu lado, disse-te: "Eis aí o teu filho" (Jo 19,26): assim confiou cada um de nós a ti. Então ao discípulo, a cada um de nós, disse: "Eis aí tua mãe" (v. 27). Mãe, desejamos neste momento acolher-Te na nossa história. Nesta hora, a humanidade, exausta e perturbada, está sob a cruz Contigo. E precisa confiar a ti, de consagrar-se a Cristo através de ti. O povo ucraniano e o povo russo, que te veneram com amor, recorrem a ti, enquanto o teu Coração bate por eles e por todos os povos mortos pela guerra, pela fome, pela injustiça e pela miséria.

Nós, por isso, Mãe de Deus e nossa, solenemente confiamos e consagramos ao teu Imaculado Coração nós mesmos, a Igreja e toda a humanidade, em modo especial a Rússia e a Ucrânia. Acolha este nosso ato que realizamos com confiança e amor, faça que cesse a guerra cessar, provém ao mundo a paz. O sim brotado do teu Coração abra as portas da história ao Príncipe da paz; confiamos que novamente, por meio do teu Coração, a paz virá. A ti, portanto, consagramos o futuro de toda a família humana, as necessidades e expectativas dos povos, as ansiedades e esperanças do mundo.

Através de ti se derrame sobre a Terra a divina Misericórdia e o doce batido da paz volte a marcar os nossos dias. Mulher do sim, sobre a qual desceu o Espírito Santo, devolve-nos a harmonia de Deus. Sacia a secura do nosso coração, Tu que "sois fonte viva de esperança". Tu teceste a humanidade a Jesus, faz-nos artesãos de comunhão. Percorrestes sobre as nossas estradas, guia-nos pelos caminhos da paz. Amém.