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Qual a origem do povo italiano?

Podemos falar de “italianos” antes da unificação da Itália? Quando os italianos surgiram? A resposta não é tão óbvia quanto parece.

Iniciando pela península, no princípio o nome Itália indicava apenas uma parte da Calábria, no sul do país, conhecida como “terra dos Vituli ou Viteli”, uma população indígena chamada pelos gregos de "povo dos bezerros", adoradores de uma divindade em forma de touro. 

Nas lendas, aparece um herói homônimo, Italo, rei de Enotria que deu seu nome à região, conforme relatado por Antioco de Siracusa (século V a.C.)   na obra Sull’Italia, mais tarde citado na Geographia de Estrabão, em Aristóteles e em Dionísio. O nome acabaria indicando toda a península até o Rubicão (Emilia-Romagna) e, na época de César e Augusto, também até o Vale do Pó - regiões da Lombardia, Veneto, Piemonte e Emilia-Romagna.

Em alguns casos, a tradição essencialmente grega do nome Itália é defendida pela hipótese de sua expansão do sul para o norte: os gregos teriam gradualmente aplicado o nome "Itália" a uma região cada vez mais ampla, até a época da conquista romana, quando foi estendido a toda a península.

O nascimento da Itália, mas não dos italianos

Augusto, fundador do Império Romano, imperador de 27 a.C. até sua morte em 14 d.C

Com Augusto, nasceu a Itália como unidade geográfica, cultural e administrativa, mas também os italianos? 

Na verdade, não. Para a era romana falamos de itálicos, exatamente como indicamos os antigos habitantes do Nilo como egípcios (e não egipcianos). Os itálicos eram cidadãos romanos que habitavam a península (e as ilhas, desde a época de Diocleciano - imperador romano de imperador romano de 284 a 305), ainda não eram italianos, mas já eram diferentes de suas raízes etruscas, celtas, gregas, samnitas, sabinas, oscas, lígures e latinas. 

O surgimento da etnia italiana pode ser situado por volta dos séculos X e XI, após um longo período de assimilação e conflito entre as populações germânicas e latinas, a plena afirmação do cristianismo católico e o desenvolvimento do chamado homo economicus medieval. 

O Império Bizantino foi a continuação do Império Romano na Antiguidade Tardia e Idade Média

Francos, normandos, bizantinos, dominações diferentes e estranhas que, no entanto, reconhecem uma coerência geográfica e social às várias partes da península itálica. 

Por fim, foi Dante quem, no século XIV, definiu a singularidade territorial, cultural e linguística da Itália, que, a partir de então, idealmente permaneceria inalterada. 

É correto chamar os ancestrais medievais de italianos?

Depende do que queremos dizer: se nos referimos à sua origem geográfica comum ou à sua identidade cultural mais ampla, podemos fazê-lo, mas se nos referimos à sua filiação política e social, é melhor especificar a área de origem. Assim, chamaremos Cristóvão Colombo de italiano, se quisermos nos referir à sua área geográfica de origem, ou de genovês, se nos referirmos à sua cidadania. 

Fazemos o mesmo com Sócrates, a quem chamamos de grego ou ateniense, dependendo de qual aspecto dele queremos definir. 

Quando surgiram os italianos? Quais são as origens étnicas dos italianos?

A Itália é um país geneticamente interessante, tendo em vista a sua localização, no centro da importante artéria que é o Mediterrâneo. Por isso, desde os tempos mais remotos, chegaram à Itália populações vindas de todos os lados e, em menor, mas não desprezível, também do Norte, já que os Alpes nunca foram uma barreira intransponível. 

Foram os gregos antigos que tiveram o maior impacto genético no sul da Itália. Do século VIII a.C. Os gregos estabeleceram colônias ao longo das costas da Campânia, Calábria, Basilicata, sul da Puglia e Sicília (exceto a ponta ocidental) no que conhecemos como Magna Grécia. 

Os gregos também colonizaram a Ligúria e a Riviera Francesa, onde fundaram Nice (que foi uma cidade italiana até 1860) e Marselha, e mantiveram contatos com o nascente empório genovês. Os fenícios (região do atual Líbano, Síria e norte de Israel) e cartagineses (Norte da África) também estabeleceram bases na Ligúria. 

Os fenícios, que criaram seu próprio império comercial no Mediterrâneo ocidental, deixaram uma marca genética de alguma importância na Itália apenas na Sardenha. 

Império Romano

Roma, no primeiro século, tornou-se a capital de um vasto e cosmopolita império. A imigração para Roma fez com que a cidade crescesse de uma população de 1.000 para mais de 1 milhão sob o imperador Augusto (27 a.C. – 14 d.C.). 

Aqueles que emigraram para Roma e através da Itália, vieram de todas as partes do império, mas é difícil avaliar qual foi seu impacto preciso na composição étnica da Itália. E embora muitos tenham se dirigido para a Capital, toda a Itália foi atingida por uma forte imigração. 

Idade Média

Nos séculos IV e V, o resfriamento climático forçou populações germânicas e eslavas a migrarem para o sul e oeste e a invadirem o Império Romano em busca de terras mais férteis. Os lombardos e especialmente os godos, além de chegarem à Itália em pequeno número, já eram uma horda heterogênea quando chegaram ao país. 

Os genes dos godos e lombardos foram rapidamente diluídos na população italiana devido ao seu número relativamente pequeno e à sua dispersão geográfica para governar e administrar seu reino. Somente em áreas muito limitadas eles tiveram um impacto étnico mínimo. 

No caso dos lombardos, seus maiores assentamentos estavam em Pavia, Cividale, Trento, Lucca, Spoleto, Benevento. Os godos, além de serem apenas uma pequena parte de origem germânica, quando chegaram à Itália, durante as guerras góticas, é preciso dizer que grande parte do povo gótico foi exterminado tanto pelos bizantinos quanto pelos francos, que aproveitaram a oportunidade para saquear os assentamentos góticos durante a guerra. 

Além disso, no final da guerra, a maioria dos godos sobreviventes abandonou a Itália. Portanto, podemos concluir dizendo que a contribuição dos godos para o DNA dos italianos foi quase nula. A única população germânica que contribuiu de alguma forma para o DNA dos italianos, pelo menos de certas áreas, foram os lombardos, além dos vândalos, mas limitados ao caso da Sardenha.

Entre as contribuições étnicas medievais, a maior foi a dos bizantinos. Algumas regiões nunca estiveram sob o controle dos lombardos, incluindo Sardenha, Sicília, Calábria, sul da Puglia, Nápoles e Lácio. Em todas essas regiões, os bizantinos trouxeram mais linhagens greco-anatólias, que já eram dominantes na época da Magna Grécia. 

Embora os francos tenham conquistado o reino lombardo da Itália no final do século XVIII (774), a contribuição genética franca para a Itália é irrelevante e inquantificável. Eles enviaram apenas alguns oficiais e nobres para a Itália. Além disso, esses oficiais eram em sua maioria galo-romanos ou pelo menos latinos, pois na época o povo franco já estava em um estágio avançado de romanização, auxiliado nisso por sua fé católica comum com os romanos. 

De fato, os francos foram o primeiro povo germânico a se converter à fé católica, o que imediatamente lhes permitiu se fundir com o elemento romano da população, ao contrário de outras populações como os vândalos, visigodos ou lombardos que inicialmente tentaram não se fundir com seus súditos latinos, preservando sua cultura e fé (pagã ou ariana no melhor dos casos).

Logo após a chegada dos francos, os sarracenos invadiram a Sicília, onde estabeleceram um emirado (831-1072). Muitos muçulmanos partiram após a reconquista normanda no século XI. 

Os normandos deixaram uma marca muito mais clara na Sicília. Originalmente vikings dinamarqueses, os normandos receberam um ducado do rei da França em 911. A partir de 999, chamados pelo príncipe de Salerno, os cavaleiros normandos começaram a servir os lombardos como mercenários contra os bizantinos. 

Eles rapidamente adquiriram seus próprios condados e ducados e reunificaram todo o sul da Itália sob seu domínio. Em 1061, eles invadiram a Sicília, que foi completamente conquistada em 1091. O Reino Normando da Sicília foi estabelecido em 1130, com Palermo como capital, e durou até o século XIX.