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Eu sou branco e de olhos azuis

Por Plínio Mioranza*

Eu sou branco e de olhos azuis, Senhor presidente! Sim, Senhor Presidente, eu sou de sangue Alpino. Fui trazido nas veias do meu bisavô oriundo das fronteiras itálicas, cenário de batalhas sangrentas que duraram dezenas de anos. Meu bisavô, nascido nos confins de Belluno, forjou o caráter e construiu uma personalidade ímpar na terra dos césares, dos tribunos, da liberdade!

O meu bisavô, Senhor Presidente, na fronteira da pobreza e a miserabilidade, em vez de fazer movimentos para angariar favores à custa dos outros, comprou a terra do governo brasileiro em l883 e a pagou em data marcada pelo tesouro brasileiro em l893. Era branco e de olhos azuis. Não era preto e nem índio. Não construiu um desastre onde se estabeleceu em Nova Veneza, Rio Grande do Sul. Pelo contrário, lutou para sobreviver ao abandono de todos os governos. Venceu com as próprias forças. E eu estou aqui, herdei dele a cor branca e os olhos azuis, Senhor Presidente.

Não me envergonharei da cor da minha pele e do azul dos meus olhos. São meus, Senhor Presidente, e me orgulho deles e da minha origem. E nem por isso desprezo as outras etnias, nem mesmo os mais diferentes. Não as culpo pelas desventuras próprias e dos outros que estão tomando conta do país.

Senhor Presidente, existia por aqui um andarilho amante de produtos etílicos e dizia que se fosse pelos índios, o Brasil estaria curtindo a selva e a ignorância. Seria alvo da rapina e o deleite do turismo predador mundial.

A ignorância não consegue criar riqueza, Senhor Presidente. A leitura e os bancos escolares aceitam indivíduos de todas as idades e engrandecem as pessoas que os freqüentam. Não as diminuem, Senhor Presidente.

Transitei por todos os bancos escolares da graduação disponíveis às minhas próprias custas, resultado do meu próprio trabalho. Não me vanglorio da minha origem humilde. Os sábios reconhecem sem espalhar aos quatro ventos a origem e o esforço de cada um, Senhor Presidente. Os que dependem do meu trabalho, que são mais de meio milhar, se sustentam com seu próprio esforço. E se orgulham do que fazem. Não são bolsistas, Senhor Presidente, são trabalhadores da primeira hora. Aqui não se classificam pessoas pela cor da pele ou cor dos olhos. Todos são pessoas que carregam o respeito aos iguais e desiguais.

Senhor Presidente, continue defendendo todos os brasileiros, independente da cor da sua pele e do colorido dos seus olhos. O Senhor é o Presidente do Brasil.

Eu chego à conclusão que o Senhor é um bom detetive. Chame a polícia e prenda todos os brancos de olhos azuis, inclusive eu, e a crise terá outros contornos. Sem esquecer que o Senhor continuará sendo o Presidente dos Brasileiros, eleito também por alguns de pele branca e de olhos azuis, menos eu.

*Plínio Mioranza – Empresário
plinio@mp.com.br