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Gravura Peregrina: os caminhos da arte de Maria Bonomi

Gravura Peregrina é o título da exposição, aberta no  sábado (11), na Pinacoteca do Estado de São Paulo, dedicada a artista Maria Bonomi, nascida na Itália em 1935, em Meina, mas que desenvolveu sua criatividade artística ao vir morar no Brasil. A  mostra, com 150 obras, é uma retrospectiva  que faz emergir a trajetória da produção da artista, e poderá ser visitada até 7/12.

Com curadoria da historiadora de arte Ana Maria Belluzzo, a exposição ainda apresenta vídeos realizados por Walter Silveira, que revelam o método de trabalho de Bonomi. Além disso, a mostra a mostra apresenta obras em bronze, madeira e xilogravuras.

A arte pública marca um ponto de inflexão na trajetória de Bonomi, que ainda se notabilizava mais pela atuação como gravadora e cenógrafa. Bonomi já realizou mais de 40 obras de arte nessa vertente, instaladas no Brasil e no exterior. A maior parte delas está na cidade de São Paulo. A mais recente,  “Etnias do Primeiro e Sempre Brasil” – um painel de 50 metros de comprimento que apresenta a história dos índios brasileiros –, instalado na passagem subterrânea entre o memorial da América Latina e a estação Barra Funda do Metrô, foi inaugurada no fim de janeiro. Bonomi é taxativa: “Para mim existe sobretudo arte pública, desconfio das outras formas de arte. Principalmente nos dias de hoje”.

Sólida e durável, a arte pública permanece, “mesmo que seja na memória de quantos a vivenciam. Ela se opõe à transitoriedade, porque se torna referência: não pode ser frívola”, explica. Além de humanizar espaços vazios, a arte pública, segundo Bonomi, é uma provocação ao olhar e um ato de solidariedade que cria um referencial para a população. A proposta é ocupar o espaço urbano com painéis e esculturas que atraiam o olhar dos transeuntes, instaurando a percepção, o devaneio ou a reflexão. Assim, Bonomi quer formar o olhar do público anônimo, instigar – pela percepção visual – multidões que poucas chances têm de fruir emoções artísticas.

Natural de Meina, aldeia localizada às margens do lago Maggiore, Maria Bonomi teve sua infância marcada pela II Grande Guerra. Seu pai, engenheiro militar, lutou no conflito e, por volta de 1942, sua casa foi ocupada pelo exército nazista e transformou-se em um centro de operações de guerra. A mãe Georgina, brasileira, preocupada com a situação, decide regressar à terra natal. Desde cedo, a ascendência artística de Bonomi lhe rende a presença em importantes círculos culturais de São Paulo e do Rio de Janeiro, além da participação em momentos importantes da história das artes da capital paulista, a exemplo da criação da Bienal Internacional de Arte, com a qual, aliás, sempre manteve uma relação marcada por controvérsias.

A artista ítalo-brasileira realizou sua primeira mostra individual em São Paulo, em 1956. Nesse ano, recebe bolsa de estudos da Ingram-Merrill Foundation e estuda no Pratt Institute Graphics Center, em Nova York, com o pintor Seong Moy (1921). Em paralelo, cursa gravura com Hans Müller e teoria da arte com Meyer Schapiro (1904 - 1996), na Columbia University, também em Nova York. De volta ao Brasil, freqüenta a Oficina de Gravura em Metal com Johnny Friedlaender (1912 - 1992), no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, em 1959. No ano seguinte, em São Paulo, funda o Estúdio Gravura, com Lívio Abramo, de quem é assistente até 1964.

A partir de meados dos anos 70, finalizou os primeiros trabalhos de arte pública, produzindo obras de grandes dimensões, usando materiais como concreto, solo-cimento e metal, concebidas para ocupar grandes espaços urbanos. Em 1999, defendeu a tese de doutorado intitulada Arte Pública. Sistema Expressivo/Anterioridade, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP.

Entre os prêmios que conquistou em mais de 50 anos de carreira, destacam-se: Melhor Gravador Nacional, na VIII Bienal de São Paulo, 1965; Prêmio Theadoron, na V Bienal de Paris, 1967; Prêmio do Júri Internacional na XV Bienal Internacional de Gravura de Liubliana, 1983; e o 42º Prêmio Santista - Gravura, pela Fundação Bunge, 1997.