Médico é preso acusado por homicídio de pacientes com Covid-19
Clínico de 47 anos, Carlo Mosca era diretor do setor de emergência do hospital público Montichiari, em Brescia, na Lombardia, norte da Itália, onde, no início da pandemia, foram relatadas as mais graves ocorrências de Covid-19. A partir de uma denúncia anônima ao Ministério Público italiano, no final de abril de 2020, os crimes foram comprovados após a exumação dos corpos de duas vítimas.
“Deve-se considerar que Mosca administrou as drogas mencionadas não por intolerável leveza, imprudência ou efeito de imperdoável inexperiência, mas com plena consciência das condições de sua conduta e com vontade de matar” – acusa o gip do Tribunal de Brescia.
Segundo apurado pela investigação, o médico teria administrado propositadamente duas drogas anestésicas (Succinylcholine e Propofol), consciente de que causariam falência pulmonar nos doentes, fragilizados devido à Covid-19. As substâncias usadas são normalmente administradas em pacientes que vão ser intubados ou sujeitos a determinado procedimento cirúrgico.
Prisão domiciliar
Os policiais militares cumpriram ordem de prisão preventiva emitida pelo Juiz de Instrução do Tribunal de Brescia, acatando o pedido do Ministério Público, contra o acusado. Ele foi responsabilizado por ter administrado intencionalmente a pacientes afetados pelo vírus Covid-19, drogas com efeito anestésico e bloqueador neuromuscular, causando a morte de dois deles. O homem encontra-se em prisão domiciliar porque, segundo o juiz de instrução do tribunal de Bréscia, existe o risco de o crime se repetir.
As investigações revelaram, nos tecidos e órgãos de uma das vítimas, a presença de um anestésico e relaxante muscular comumente utilizado em procedimentos de intubação e sedação que, se utilizado fora de procedimentos e dosagens específicas, pode determinar a morte do paciente. Além disso, nos prontuários dos falecidos, objeto de apuração, não constava a administração desses medicamentos (indicados, sim, nos prontuários dos pacientes efetivamente intubados), a ponto de pressupor que o suspeito também cometeu o crime de falsificação em documento público.
As vítimas
Natale Bassi, de 61 anos e Angelo Paletti, de 80 anos, morreram em meados de março. O hospital Montichiari já estava no foco das autoridades de saúde. Numa altura em que os hospitais italianos estavam lotados devido ao enorme número de doentes Covid, a instituição registrava o maior número de mortes nas emergências. Entre os meses de janeiro e março de 2020 foi também identificado um aumento nas encomendas de uma das substâncias suspeitas de terem sido usadas pelo médico.
Mensagens no WahatsApp
Entre as provas que sustentam a acusação, estão mensagens trocadas entre enfermeiros da unidade coordenada por Carlo Mosca, que o definem como "um louco" e denunciam não querer seguir as ordens dadas pelo médico. "O doente vai ser intubado? Não. E ele manda-me dar-lhe anestésicos. É tudo uma loucura. Eu não vou matar doentes para libertar camas!", lê-se numa troca de mensagens, entre duas enfermeiras do hospital.
O médico Carlo Mosca nega todas as acusações.
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