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O confronto entre a arte e o homem moderno na perspectiva de La Greca, o filho de Vincenzo e Tereza

O confronto entre arte e o homem moderno é o mote para o ciclo de palestras “(Des)encontros com a Modernidade”, promovido pelo Museu Murillo La Greca, em Recife. O evento busca abrir espaço para reflexões sobre a forma pela qual o embate entre artista e modernidade emerge das obras do pintor, filho mais jovem de um casal de italianos que se conheceu no Brasil.

As apresentações iniciaram na última quinta-feira (17) sob o tema “Panorama da Modernidade”, com o professor da UFPE Antonio Paulo Resende. No dia 24, é a vez do artista e pesquisador Raul Córdula explorar o tópico “Paisagem”. Natália Barros, professora do Colégio de Aplicação, traz a lume a palestra “Retrato e auto-retrato”, em 8 de maio. No dia 15 do mesmo mês, Carolina Ruoso, mestranda da UFPE, versa sobre o “Colecionismo”.  Mila Targino, doutoranda da universidade, aborda o tema “Fotografia e Modernidade” em 22 de maio. O fechamento do ciclo fica por conta de Joana D´Arc de Souza Lima, também doutoranda, no dia 29, com a palestra “Murillo La Greca e o Novecento Italiano”.

O ponto de partida dos colóquios é a exposição “Uma Escrita em Si”, que agrupa 60 telas e três coleções homônimas às palestras do ciclo. O acervo reúne pinturas, desenhos e fotografias, uma das grandes paixões do artista, e pode ser visitado, gratuitamente, de terça à sexta-feira das 9h às 12h e das 14h às 17h, e, ao sábados, durante o turno da tarde.

Murillo La Greca

Mais jovem dos 12 filhos de Vincenzo La Greca e Teresa Carlomagno, italianos que se conheceram no Brasil, Murilo La Greca (1899 – 1985) é um descendente que delineou, com traços definitivos, seu nome entre os mais proeminentes artistas nacionais. O interesse pela arte brotou ainda na infância, vivida em Palmares. Passou a pintar regularmente com doze anos e, aos dezoito, deixou o Recife e foi estudar no atelier dos irmãos Bernadelli, no Rio de Janeiro.

Mas foi no berço de seus pais que La Greca completou sua formação artística. Entre 1919 e 1925, residiu em Roma, onde se matriculou em três escolas de arte, sob os auspícios de seu irmão mais velho, José La Greca, que financiava suas viagens. Na volta ao Brasil, em 1926, conquistou o reconhecimento de seus conterrâneos, angariando premiações em diversos salões nacionais.

Durante sua segunda estada no Rio de Janeiro, La Greca chegou a dividir apartamento com outro renomado artista brasileiro de sangue italiano; Cândido Portinari. A despeito da amizade, o estilo distanciava os dois pintores na arte; La Greca desprezava as obras de Portinari por não se enquadrarem aos parâmetros da arte clássica.

Tornou-se professor da Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde conheceu e se apaixonou pela aluna Sílvia Decusati, também de origem italiana. Em 1936 eles casaram e foram morar na Itália, onde La Greca dedicou-se ao estudo dos afrescos. De volta ao Brasil, um mês antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial, ele recebeu o convite para pintar os afrescos da Basílica de Nossa Senhora da Penha, no bairro de São José, no Recife.

Na capital pernambucana, exerceu atividade de professor da Escola de Belas Artes, instituição que ajudou a formar. Nesta época teve seu trabalho desprestigiado por gerações de artistas mais jovens, seguidores das novidades preconizadas pelas vanguardas modernistas, o que o fez afastar-se das lides artísticas por muito tempo. Apesar disso, esse foi o período em que ele produziu alguns de seus trabalhos mais famosos, como Primeira aula de Medicina, encomendado pela Universidade Federal de Pernambuco.

Com a morte da sua esposa em 1967, seu ritmo de produção diminuiu consideravelmente. Sílvia era para ele uma verdadeira companheira de profissão, consagrando-se como musa inspiradora ao ser retratada em diversos de seus quadros.

Em homenagem à esposa, o pintor idealizou, com o apoio da prefeitura de Recife, o museu que foi criado no mesmo ano de sua morte, 1985, o Museu Murillo La Greca. Comportando um acervo de 1.400 desenhos, com técnicas de fusain, crayon, pastel e sanguínea, o museu ainda possui discos, livros e mobiliários expostos em caráter de longa duração em quatro das oito salas de exposição. Há também 160 pinturas, entre paisagens, retratos e impressionistas e cartas, trocadas com Portinari e Giacometti. Foi nesse acervo que La Greca deixou sua marca inconfundível; a diversidade de sua obra artística e a aproximação com a arte contemporânea.