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Mais uma transexual brasileira é assassinada na Itália

Quatro dias de investigações ininterruptas levaram a polícia de Milão a identificar e a prender, nesta sexta-feira (24), o acusado pelo assassinato da transexual brasileira Manuela De Cassia (Emanuel Alves Rabacchi), de 48 anos, morta com mais de 85 facadas. O crime ocorreu na manhã da segunda-feira (20), no apartamento da vítima, um bilocale, na Via Plana, perto da Piazza Firenze, em Milão, onde ela exercia a profissão de prostituta. O autor, segundo os investigadores, trata-se de um italiano, bancário de 42 anos, cliente que frequentava há cinco anos a casa de Manuela – um sujeito, aparentemente, normal. 

O corpo de Manuela, que tinha dupla cidadania e vivia na Itália há 20 anos, foi encontrado pelos bombeiros, após serem acionados por vizinhos que, no início da tarde, sentiram um forte cheiro de gás vindo do apartamento.  A intervenção dos soldados revelou o horror: no corpo seminu de Manuela havia sinais de várias facadas. A arma do crime não se encontrava no local. 

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Os policiais que prenderam o acusado o descreveram como uma pessoa "normal", com um emprego formal, uma família a apoiá-lo e uma companheira estável. Mesmo em seu passado, não foi encontrado nada de particularmente anômalo: algum registro policial por dirigir embriagado e nada mais. Nunca um comportamento violento, jamais uma atitude que atraísse a atenção. No entanto, aquele homem "normal", numa manhã de sangue e loucura, seria capaz de agir como um assassino cruel, inclusive disposto a explodir um prédio inteiro para garantir a própria impunidade. Esse homem foi identificado como Cristian L., italiano, 42 anos, empregado em um banco milanês, noivo de uma mulher dois anos mais nova. Ele foi levado, na manhã desta sexta-feira (24) para a prisão em San Vittore, suspeito dos crimes de assassinato e de massacre.

O assassino traído pelo chinelo

O trabalho dos carabinieri da equipe de investigação começou imediatamente, a partir da análise das câmeras de vigilância do condomínio e do bairro. O único "estranho" a entrar no edifício e depois sair era um homem de 40 anos vestindo shorts, camisa e, acima de tudo, um par de chinelos que tinham a forma que coincidia com uma pegada de sangue que os militares isolaram na cena do crime.

Amigos e colegas de Manuela, imediatamente, deram o nome de "cliente Gallarate", ao homem que a encontrava há pelo menos quatro anos e lhe devia 500 Euros.

As câmeras de segurança viram o "cliente Gallarate" chegar ao prédio, pela primeira vez, na manhã da segunda-feira (20), às 6h03 da manhã e depois sair às 7h49 e seguir às 8h02, em um Renault Clio azul estacionado na Piazzale Firenze, não muito longe. Às 8h10, o mesmo carro retornou praticamente no mesmo estacionamento e, às 8h12, o homem entrou no condomínio, novamente. Desta vez, no entanto, a "visita" foi muito mais curta: o cliente saiu do prédio às 8h35 e em 56 segundos "desapareceu". Para chegar ao carro, apesar de alguns minutos, no entanto, ele faz uma rota diferente da primeira vez, como se tivesse notado as câmeras e quisesse permanecer "invisível". 

Os carabinieri conseguiram capturar alguns números de seu Clio que os levaram a uma mulher, a verdadeira dona do carro, a companheira do suposto assassino.

Nesse ponto, o quadro estava completo, também porque em outro telefone de Manuela - o seu pessoal desapareceu, provavelmente levado pelo assassino -, havia um número armazenado sob o nome de "cliente Gallarate".

A imagem reconstruída pelos investigadores é trágica: Cristian vai pela primeira vez à vítima, eles provavelmente têm um relacionamento e certamente consomem cocaína. Então ele sai, mas menos de 10 minutos depois retorna com intenções decididamente diferentes. O homem entra novamente no apartamento, golpeia a vítima com um punhal na traqueia - provavelmente por isso ela não gritou -, atinge o corpo de Manuela com 85 facadas e quando percebe que tem chinelos manchados de sangue, os limpa, tanto que no corredor e nas escadas não há vestígios.

Então, antes de sair, ele abre os quatro queimadores do gás na cozinha e trava a porta, sem perceber que a janela do banheiro estava entreaberta, o que impediu a casa de ficar completamente saturada de gás e de explodir. 

"O quadro probatório é mais que suficiente - garantiu a promotora pública Laura Pedio. As provas são muito fortes". Também porque na casa de Cristian, atrás da cama, foi encontrado o punhal e um par de sandálias masculinas com traços de sangue, que o suposto assassino havia escondido, mas não jogado fora. Nos últimos dias, o bancário de 42 anos raspou a barba a zero, talvez na expectativa de não ser reconhecido. (Com informações de Milano Today