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Portinari na internet e para todos

Projeto  viabiliza acesso universal à obra de um dos principais pintores do Brasil, filho de imigrantes venetos.

Pesquisador das áreas de engenharia de telecomunicações e de matemática, João Candido Portinari, filho de Candido Portinari, o filho de imigrantes italianos que se tornou um dos principais artistas brasileiros, deixou a carreira acadêmica de lado há 35 anos, quando decidiu se dedicar integralmente a um projeto grandioso: localizar, digitalizar e catalogar as mais de 5 mil obras de seu pai.

O Projeto Portinari conseguiu disponibilizar em forma digital praticamente toda a obra do artista. De acordo com João Candido, a iniciativa é uma forma de corrigir uma consequência perversa da importância e do reconhecimento da obra de seu pai: com a maior parte de seus quadros dispersa em coleções privadas de todo o mundo, o pintor que dedicou sua vida a retratar o povo tem sua obra inacessível ao público geral.

Depois de 20 anos de pesquisas, qualificadas por João Candido como “um verdadeiro trabalho de detetive”, toda a obra foi catalogada. Nos últimos 13 anos, o Projeto Portinari tem divulgado a obra do pintor por todo o Brasil, realizando exposições itinerantes em comunidades afastadas, com foco especial nas crianças.

Outro  passo do projeto também é grandioso:  o retorno ao Brasil, temporariamente, a obra Guerra e Paz: dois painéis de 14 metros de altura que foram concebidos especialmente para a sede das Nações Unidas, em Nova York.

Com a sede passando por uma grande reforma, o Projeto Portinari conseguiu a guarda dos dois painéis até 2013. A obra, concluída em 1956, foi a última de Portinari e causou sua morte. Durante os cinco anos em que trabalhou nos painéis de 140 metros quadrados, o pintor já estava intoxicado pelo chumbo das tintas a óleo. Ele morreria no início de 1962 em decorrência do envenenamento.

Considerada pelo próprio Portinari como sua melhor obra, os painéis de Guerra e Paz serão apresentados em dezembro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, cidade onde foram apresentadas ao público brasileiro por uma única vez antes de serem embarcados para os Estados Unidos, há 53 anos. Em seguida, serão submetidos a uma restauração que poderá ser acompanhada pelo público, em processo que levará alguns meses. Após o restauro, passarão por diversas cidades, acompanhados de 120 estudos preparatórios executados por Portinari entre 1952 e 1956.

No dia 21 de outubro uma exposição com reproduções das 25 obras de Portinari que ilustram o Relatório de Atividades FAPESP 2009 foi inaugurada na sede da Fundação, em São Paulo.

Candido Portinari

Cândido Portinari (1903 – 1962), nascido numa fazenda de café no interior de São Paulo, foi um dos mais bem sucedidos artistas nascidos no Brasil.

Segundo dos doze filhos de Baptista Portinari e Dominga Torquato, ambos italianos da região do Vêneto, Portinari consagrou-se como um pintor habilidoso e profícuo. Com cerca de cinco mil obras, alcançou uma projeção internacional igualada por poucos, e há quem diga, nenhum outro artista brasileiro. Menções honrosas e condecorações no exterior, como a Legião de Honra francesa, ou títulos como o Prêmio Guggenheim de Pintura, marcaram a extensa carreira artística do expoente da pintura.

No Brasil, o reconhecimento à contribuição de Portinari à arte não é menos desvelado. Além das homenagens em vida, o artista persiste no imaginário popular e na concretude de exposições e obras erigidas em seu nome, a exemplo do Museu Casa de Portinari, instalado na antiga residência do pintor, em sua terra natal, Brodowski, São Paulo. Na Internet, é possível conhecer a fundo sua história e o imenso acervo de quadros, expostos na forma de uma exposição virtual em www.portinari.org.br

A infância sofrida em meio à vida insalubre das lavouras, compartilhada com tantos outros imigrantes, deixou registros indeléveis na alma e no trabalho de Portinari. Em 1947, sabatinado pela Tribuna Popular, disse: “Desde menino tenho vivido o drama dos retirantes. Lembro-me da seca de 1925, as grandes levas, aquela miséria. Essas recordações, a que se acrescentam novos contatos com a gente aqui do interior de São Paulo, fazem os temas destes quadros. Como deixar de fixar aquilo que fez parte da minha vida, e a minha esperança de ver uma vida melhor para os homens que trabalham na terra?”.

Portinari voltou ao Brasil para registrar imagens ligadas ao povo e foi quem melhor retratou a
identidade do trabalhador brasileiro, foi cultuado por muitos de seus contemporâneos. Mário de Andrade, por exemplo, considerava que o amigo era a mais útil e exemplar aventura de arte que já se viveu no Brasil. Foi reconhecido nacional e internacionalmente, virou tema de livros e mostras dentro e fora do País.

Além de desenhos, pinturas e gravuras, Portinari destacou-se com seus painéis e murais. Alguns exemplos são o Conjunto Arquitetônico da Pampulha e os painéis que decoram o edifício-sede da Organização das Nações Unidas, ONU, em Nova York. A produção de Portinari, ao longo da vida, é estimada em aproximadamente cinco mil obras.

Projeto Portinari