Produtos geneticamente modificados dividem Europa
Alimentação da população mundial, manutenção da agricultura dispondo de poucos recursos hídricos e alterações climáticas. Estes foram alguns dos temas debatidos pelos peritos reunidos numa audição pública subordinada ao tema "Biotecnologia: Perspectivas e Desafios para a Agricultura na Europa", realizada esta semana no Parlamento Europeu. Os eurodeputados ouviram os peritos falar sobre riscos e culturas geneticamente modificadas, incluindo a delicada questão da coexistência.
A audição realizada pela Comissão da Agricultura do PE reuniu peritos de diversos Estados-Membros, num debate sobre o futuro das culturas geneticamente modificadas (CGM) na agricultura européia. Apesar de os estudos indicarem que a maioria dos cidadãos da UE é contra as CGM, a biotecnologia aplicada à agricultura não é nada de novo. De acordo com alguns dos peritos presentes, há milênios que o homem manipula a evolução das plantas. Jussi Tammisola, ministro finlandês da Agricultura e das Florestas, apresentou algumas das novas potencialidades oferecidas pelas culturas geneticamente modificadas: melhores colheitas, plantas mais resistentes e nutritivas, luta contra a fome.
Existem, por outro lado, preocupações com as alterações irreversíveis na biodiversidade e com o impacto na saúde humana, apesar de não existirem provas de efeitos adversos na mesma. A experiência europeia com CGM é extremamente limitada. São apenas duas as espécies de milho geneticamente modificado comercializadas na Europa, sobretudo em Espanha.
Confiança dos consumidores
"A maioria dos consumidores tem muita dificuldade em encontrar vantagens nas CGM " explicou o perito irlandês Ewen Mullins. Existe uma desconfiança generalizada em relação à engenharia genética, apesar de os "antigos métodos serem muito menos seguros do que a tecnologia genética atual", referiu Tammisola. A falta de confiança por parte dos consumidores deve-se, em parte, ao "mistério" que envolve o trabalho dos investigadores nos laboratórios, disse a Malgorzata Korbin, do Instituto de Investigação de Pomologia e Floricultura da Polônia.
A eurodeputada irlandesa Mairead McGuinness (Grupo do Partido Popular Europeu e dos Democratas Europeus) afirmou, por outro lado, que "os cientistas têm o dever de sair dos seus laboratórios mais vezes e explicar as suas atividades aos cidadãos em geral". Para o eurodeputado polaco Witold Tomczak (Grupo Independência/Democracia), "os cientistas falham no exercício da humildade".
Uma das questões que se coloca tem a ver com a contaminação e com a possibilidade de coexistência de CGM e outras. É necessário gerir essa coexistência, nomeadamente através do isolamento e de distâncias mínimas entre culturas. De acordo com Leopold Girsch, da Agência Austríaca para a Saúde e a Segurança Alimentar, "a Áustria não vai autorizar produtos com possíveis efeitos adversos. O nosso principal objetivo é a protecção dos consumidores".
Lucien Hoffman, diretor científico do Centro de Investigação 'Gabriel Lippmann' referiu que o Luxemburgo tem a tradição de se opor à autorização de culturas geneticamente modificadas e "optou por uma abordagem restritiva, tendo em consideração o princípio da precaução, protegendo as culturas convencionais e orgânicas, bem como a biodiversidade". Hoffman referiu ainda que "Luxemburgo poderá permanecer um país sem CGM, uma vez que nem os próprios agricultores as solicitam".
Para o eurodeputado finlandês Kyösti Virrankoski (Grupo da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa), "o Parlamento Europeu não pode enfiar a cabeça na areia. Já consumimos produtos geneticamente modificados e temos que assegurar a continuidade da agricultura na Europa. As CGM são uma ferramenta numa caixa de ferramentas. A investigação torna-se, portanto, vital."
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