Um ano de Pontificado: Bento XVI quer ser um pastor manso e firme
Nesta quarta feira dia 19, 1º aniversario da sua eleição como chefe supremo da Igreja católica, o Papa Bento XVI, falou para 50 mil fiéis presentes na praça São Pedro para a audiência geral. Na oportunidade, agradeceu, "de coração, a todos aqueles que de varias maneiras, de perto e de longe estão ao meu lado, espiritualmente, com o seu afeto e a sua oração: a cada um peço que continue a ajudar-me e a pedir a Deus que me conceda a graça de ser pastor manso e firme da sua Igreja".
Em matéria publicada pela agência alemã Deutche Welle, Ranty Islam (mr) destaca que " a eleição de Joseph Ratzinger para o mais alto posto da Igreja Católica, em 19 de abril de 2005, fez com que muitos críticos temessem que a instituição sofresse um retrocesso total. "Ratzinger é o braço prolongado da Idade Média", sentenciou um jornal suíço".
O texto do articulista da Deutche Welle continua: "durante mais de 20 anos, Ratzinger dirigiu a Congregação para a Doutrina da Fé, no Vaticano. Nessa função de guardião-mor dos dogmas da Igreja Católica, era especialmente avesso a reformas, diziam os críticos.
Passado um ano de seu pontificado, o coro de protesto dos críticos perdeu força. Desde o início, o papa Bento 16 deixou claro o objetivo de dar continuidade ao trabalho de João Paulo 2º, de fortalecer o ecumenismo e de dar prioridade ao diálogo com os críticos dentro da Igreja, mas também com outras religiões mundiais.
Cristãos ortodoxos elogiam os "sinais positivos"
A avaliação fora da Igreja Católica oscila entre expectativa e supresa positiva. "Na opinião dos cristãos ortodoxos, o novo papa deu sinais positivos em diversas áreas", disse Konstantin Nikolakopoulos, professor de Teologia Ortodoxa Bíblica na Universidade Ludwig Maximilian, em Munique. "O novo papa renunciou ao título de patriarca" um simbolismo utilizado geralmente só pela Igreja Ortodoxa.
Além disso, acrescenta Nikolakopoulos, Bento 16 estabeleceu boas condições teológicas para promover o ecumenismo, com a publicação de sua encíclica. "O papa exige menos uma aproximação da parte da Igreja Ortodoxa. Ele próprio procura ir ao encontro dos ortodoxos. Essa impressão positiva é compartilhada por todos os grupos ortodoxos", garante.
Tradicionalmente, a Igreja Ortodoxa russa sempre foi cautelosa em relação ao Vaticano, explica Nikolakopoulos. "Mas, de fato, multiplicam-se os sinais de que Bento 16 poderá ser o primeiro papa romano a visitar a Igreja russa". A médio prazo, os ortodoxos desejam que a estrutura da Igreja Católica Apostólica Romana se descentralize e se torne mais democrática. "Assim, ela se assemelharia bem mais à estrutura da Igreja Ortodoxa", segundo Nikolakopoulos.
De igual para igual com a Igreja irmã
"O ecumenismo está mais vivo", diz Merawi Tebege, pároco da Igreja Ortodoxa etíope na Alemanha. Na Etiópia, existem tanto igrejas católicas quanto ortodoxas, e elas têm funções bastante semelhantes. A atenção dispensada pelo papa aos cristãos ortodoxos contribuiu para que "as Igrejas irmãs e suas parceiras pudessem manter um diálogo de igual para igual", diz Tebege.
Na América da Sul, os representantes da Igreja destacam que Bento 16 é "um grande teólogo". O receio de que sua linguagem pudesse ser muito complicada para as pessoas não se concretizou, diz o bispo de Bogotá, o cardeal Pedro Rubiano Sáenz. "As mensagens do papa têm significado profundo, mas são formuladas de forma simples. Elas atingem a maioria das pessoas aqui."
Os mulçumanos preferem esperar
"Um ano é muito pouco para se avaliar o trabalho do papa", diz Ayyub Axel Köhler, novo presidente do Conselho Central dos Muçulmanos na Alemanha. A organização acredita que a política do Vaticano terá prosseguimento com o novo papa. "Nós esperamos poder levar a discussão sobre valores adiante", diz Köhler. "O que desejamos é que o papa assuma uma posição mais clara quanto à situação de muçulmanos em países de maioria cristã, como a Alemanha."
Em fevereiro, por conta da crise desencadeada pela publicação das charges do profeta Maomé, o papa Bento 16 mostrou-se compreensivo quanto aos protestos pacíficos. "Fiéis não devem ser alvo de provocações que possam ferir seus sentimentos religiosos", disse.
No mais, o relacionamento do Vaticano com os mulçumanos e com muitos países árabes não teve nenhum papel relevante neste primeiro ano de pontificado, afirma Sonja Hegasy, do Centro Oriente Moderno, em Berlim. "Reina o grande silêncio", acrescenta.
Segundo Hegasy, João Paulo 2º, por sua vez, mostrou seu interesse pelo islã por meio de inúmeras viagens aos países árabes. Caso Joseph Ratzinger venha a ter um pontificado tão longo quanto o de seu antecessor, o panorama poderá se modificar. O seu discurso de incentivo ao ecumenismo e à unificação dos cristãos poderá levá-lo a muitos países onde os cristãos são minoria", conclui o texto de Ranti Islan da Deutch Welle.
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