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Cidadania italiana: Prefeito bellunese defende limite geracional 

O reconhecimento da cidadania italiana "iure sanguinis" a ítalo-brasileiros e o grande fluxo de trabalho gerado junto aos comunes italianos volta a repercutir na imprensa italiana. O prefeito Camillo De Pellegrin, de Val di Zoldo, na Província de Belluno, no Vêneto, lamenta que os novos cidadãos italianos ao obterem a cidadania não tenham interesse em habitar no município, e nem mesmo na região. Ele argumenta que a cidadania italiana é vista como um lasciapassare, sem nenhuma conexão com a realidade local.

A seguir, acompanhe a matéria publicada no jornal online il Dolomiti (Trentino-Alto Ádige), assinada pela jornalista Alissa Clair Collavo, publicada no último domingo, 09/06/2024.

O município bellunese tem pouco mais de 3 mil habitantes, mas bem mais da metade são “italianos no exterior”. Por semana, chegam centenas e centenas de pedidos. O prefeito Pellegrin: ''A cidadania não deve ser vista como um passe para a Europa e para obter vantagens como cuidados de saúde gratuitos, mas deve estar ligada ao desejo de viver aqui''.

VAL DI ZOLDO. Os pedidos de reconhecimento da cidadania italiana por parte dos descendentes brasileiros dos emigrantes belluneses estão colocando em dificuldade o cartório do município de Val di Zoldo, com pouco mais de 3.000 habitantes, dos quais 1.800 estão registrados no Aire.
Chegam às centenas (mais de 500, o acúmulo de inscrições), tanto que na fachada da prefeitura, em parte por ironia, em parte por provocação, foi hasteada a bandeira do Brasil. “Como município não podemos fazer nada para bloquear os fluxos – explica o prefeito, Camillo De Pellegrin – em vez disso, deve haver uma regra que coloque um limite geracional ao pedido de cidadania”. Uma regra necessária para “acabar com este ‘mercado’ que se assenta num sentimento de pertencimento e de ligação com a Itália que existe, mas que é usado para alimentar um negócio de promoção da cidadania iure sanguinis”.

Uma afirmação forte, acompanhada de um pouco de amargura. “A ligação com o território manifesta-se sobretudo com a vontade de vir viver aqui, precisamos de pessoas que venham integrar a nossa comunidade”, acrescenta, consciente dos benefícios que ter um passaporte italiano pode trazer. A cidadania, portanto, como “um passe para circular livremente na Europa e para usufruir de toda uma série de benefícios, incluindo cuidados de saúde gratuitos”.

De Pellegrin teme que tudo isto possa ser feito em detrimento do “bom conceito que é a imigração e o vínculo que os descendentes podem ter com a Itália e com a história familiar dos seus antepassados”; uma espécie de exploração das origens belluneses. Também têm sido numerosos os apelos ao TAR (Tribunal Administrativo de Roma) – “chegou-nos um ainda hoje", exclama – dado que muitas práticas permanecem inevitavelmente pendentes. Quem tem condições de um suporte legal, recorre a “denúncias por omissões e falta de transcrição de documentos oficiais”, colocando ainda mais pressão sobre o Município.

A cidadania iure sanguinis pode, de fato, ser reconhecida não só administrativamente (através do Consulado Italiano no estrangeiro), mas também judicialmente, uma espécie de via rápida para reduzir o tempo necessário para a emissão de documentos. A questão permanece por agora em aberto “mas precisamos de nos perguntar como gerir esta questão (já existem iniciativas parlamentares) – conclui o autarca – porque é que se deve dar a cidadania antes de vir viver para cá?”.

Il Dolomiti/Alissa Clair Collavo - 09/06/2024
Leia aqui a matéria em italiano