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A crise do governo e as alianças políticas na Itália

O fraco apoio ao atual primeiro-ministro Giuseppe Conte.

Por Renata Bueno

Os desdobramentos da crise econômica ocasionada pela pandemia da Covid-19 nos apresentam outro mundo do ponto de vista político. Diversos países em toda a extensão do planeta estão sofrendo com mudanças em alianças políticas e, consequentemente, com o enfraquecimento de seus governos. E na Itália não é diferente. No dia 13 de janeiro, o senador e ex-premiê Matteo Renzi, do partido Itália Viva, anunciou seu rompimento com o governo do primeiro-ministro Giuseppe Conte, dando início a uma segunda crise no país: a governamental. 

O modelo parlamentarista, adotado pela Itália, exige a eleição indireta de um primeiro-ministro para ser o chefe de governo da República Italiana. Em 2018, Conte foi eleito com a maioria dos votos no parlamento, aliado à coalizão entre o Movimento 5 Estrelas, Partido Democrático e Itália Viva. Com a saída de Renzi, surge um desequilíbrio numérico para a sustentação do governo.

A crise governamental no país tem um significado muito específico, que é a falha na relação de confiança entre o chefe de estado e o parlamento. Para confirmar essa desconfiança, na última segunda e terça-feira (18 e 19), ocorreu o voto di fiducia, ou seja, uma votação entre todo o parlamento para demonstrar apoio, ou não, a Conte. O voto de confiança na Câmara terminou com o placar de 321 a 259 a favor do primeiro-ministro e 27 abstenções. Já a disputa no Senado terminou com 156 votos a favor, 140 contrários e 16 abstenções.

Giuseppe Conte continuará no governo? A princípio sim. Contudo, ele atingiu apenas uma maioria simples entre os senadores, visto que a soma dos votos contrários e das abstenções empatam com a maioria a favor. A meu ver, esse descontentamento abstrato por parte do parlamento se dá pela forma que Conte está levando seu governo. Para que reine a democracia, é preciso que o primeiro-ministro utilize seu cargo para se aproximar do parlamento, consultando seus aliados e até mesmo seus opositores. Ainda assim, o atual primeiro-ministro prefere seguir agindo sozinho.

Apesar de não concordar com o governo de Conte, acredito que este não é o momento para uma crise governamental. Ainda assim, a pressão continua, o que pode trazer efeitos negativos para o país neste momento tão crítico. Tempos difíceis exigem união entre todas as forças políticas, e apenas dessa forma a Itália poderá sair desta pandemia com os menores danos possíveis.  

Renata Bueno foi deputada no Parlamento da Itália, representando os italianos residentes no exterior (Circunscrição América do Sul), de 2013 a 2018. Advogada especialista em Direito Internacional, ela é empresária e presidente do Instituto Cidadania Italiana . Ela foi vereadora de Curitiba (PR), pelo partido político PPS, atual Cidadania, eleita em 2009.  

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