A amante judia de Mussolini: do poder ao isolamento
Mesmo tendo sido sua amante durante 20 anos, em novembro de 1938, quando lançou uma campanha anti-semita, Benito Mussolini nada fez para protegê-la. Assim, entre os milhares de judeus que foram marginalizados da sociedade italiana e tiveram de partir, estava uma mulher culta e refinada, filha de uma rica família judia de Veneza, considerada por muitos a mulher mais poderosa da Itália fascista, que se aproximara do Duce para escrever a sua biografia e pelo seu intenso interesse em política.
Desejosa de deixar para trás uma Europa prestes a entrar em guerra, Margherita Sarfatti, que em 1934 havia sido recebida na Casa Branca pelo presidente Roosevelt, tentou entrar nos Estados Unidos. Porém, graças ao amante, tinha se tornado uma pessoa não bem-vinda. Afinal, fora uma das figuras plenamente identificada com o regime, nunca havia prestado atenção em suas raízes, mas na Itália fascista não era mais que uma mulher judia. Desse forma, o destino a encaminhou para a América Latina, mais especificamente para a região do rio da Prata, onde viveu sete anos entre o Uruguai e a Argentina.
Essas e outras tantas nuances desse personagem histórico pouco lembrado pelas versões oficiais da história estão sendo detalhadas em uma biografia lançada em Buenos Aires, justamente na semana em que na Itália se comemorou o Dia da Memória, em homenagem às vítimas do holocausto. "El Amor Judío de Mussolini - Margherita Sarfatti, del Fascismo al Exilio", de autoria do jornalista e advogado argentino Daniel Gutman, narra a história de uma mulher que passou dos círculos mais poderosos do regime ditatorial ao exílio.
Protegida por figuras da cultura como Victoria Ocampo, Jorge Romero Brest y Emilio Pettoruti, Sarfatti, a ex-amante de Mussolini pode desfrutar, especialmente em Buenos Aires, de uma rica vida intelectual e foi uma aguda observadora da realidade política e social da Argentina. Também seguiu, como destaca matéria do jornal O Clarin. Com angústia as tragédias de seu povo na Itália. Uma irmã sua foi deportada para Auschwitz.
Redigido tendo como base extensas coleções de cartas pessoais e de documentos rastreados em arquivos da Argentina, Uruguai, Itália e Estados Unidos, o livro faz uma cuidadosa reconstrução do clima daqueles anos e traz de volta o drama de uma época, através de uma história pessoal real e apaixonante. Segundo Paolo Colussi,
"la vita di Margherita Sarfatti può essere disegnata come un'ampia parabola che sale lentamente verso l'alto, sempre più in alto, fino a quando comincia a scendere, prima in modo incerto, ma poi rapidamente e bruscamente fino all'umiliazione e all'isolamento quasi assoluto".
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