400 cidadanias italianas de brasileiros sob investigação
Os policiais da Compagnia di Portogruaro tentam localizar 400 brasileiros que, entre 2018 e 2019, obtiveram o reconhecimento da cidadania "iure sanguinis", no comune de San Michele al Tagliamento, na Província de Veneza.
Após a denúncia realizada pelo comune, foram constatadas fraudes contra o Estado italiano, realizadas por uma organização criminosa. As informações são do jornal italiano Il Gazzettino, em matéria publicada no último sábado (22).
As investigações ainda estão em andamento. Os militares da Unidade Operacional da Compagnia, que tem à frente o tenente Marco Geminiani, com a coordenação da promotoria pública de Pordenone, estiveram na prefeitura de San Michele para pesquisar, nas listas de moradores do município, todos os brasileiros que obtiveram a cidadania, nos últimos dois anos. A denúncia feita pelo comune teve o apoio da polícia local.
Em suma, 400 brasileiros teriam obtido a cidadania italiana por meio do exercício de práticas ilícitas, com grande rotatividade no município. A organização criminosa, segundo os investigadores, teria embolsado cinco mil euros por cada brasileiro e, em geral, o golpe teria garantido um ganho ilegal de 2 milhões de euros.
Chamou a atenção das autoridades locais o fato de todos os brasileiros terem residido na cidade de 12 mil habitantes, sem que ninguém jamais os tivesse visto.
Segundo o jornalista que assina a matéria do jornal Il Gazzettino, Marco Corazza , “este é o primeiro caso em Veneza, mas esquemas semelhantes foram descobertos na maior parte da Itália”. E ele continua: “Prova disso é que os brasileiros representam 85% dos processos de reconhecimento da cidadania, pelo direito de sangue, apresentados na Itália”.
Identificado um primeiro suspeito
Os investigadores chegaram a um primeiro suspeito. Trata-se de um funcionário público do cartório do município de San Michele al Tagliamento. Embora ele tenha sido citado no processo de investigação por ato devido, é considerada a possibilidade dele ter sido enganado pelos malfeitores.
Dos 400 casos instruídos, 290 já foram verificados. Destes, mais de cem já teriam emigrado para Alemanha, França e Holanda. Enquanto isso, novos detalhes emergem da investigação coordenada pelo promotor-chefe de Pordenone, Raffaele Tito, e conduzida pelos carabinieri da Unidade Operacional da Compagnia di Portogruaro, juntamente com agentes da polícia local.
O mecanismo
Apenas duas casas para acomodar 400 brasileiros, em 24 meses: esses são os números que se tornaram suspeitos para os investigadores. Os dados foram levantados pela polícia da cidade, a cargo do delegado William Cremasco.
Parte dos 400 brasileiros teria se hospedado numa casa, localizada no centro de San Michele, e a outra, em Bibione, na área litorânea da cidade.
"Começamos com um controle interno" - explica o prefeito de San Michele, Pasqualino Codognotto - "e as verificações puramente administrativas nos fizeram suspeitar. Decidi, portanto, que os controles sobre residências e cidadania deveriam ser estendidos. Depois que descobrimos os números, resolvemos denunciar tudo à autoridade judicial".
Conclui a matéria do Il Gazzettino: "Essa é uma prática já desmascarada em outros municípios italianos, que remonta a diferentes organizações, com um faturamento de € 5.000 por pessoa. Em San Michele, se a fábrica for confirmada, o faturamento seria de 2 milhões de euros entre 2018 e 2019".
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