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Starlink, por que o acordo com a Itália é conveniente

Por Marco De' Francesco 

O Governo Meloni está interessado em um acordo com Elon Musk para o uso da rede Starlink. Até o momento, a constelação da SpaceX inclui mais de 7.000 satélites, que se tornarão 12.000 nos próximos anos. Dois objetivos para a Itália: reduzir a exclusão digital, acelerar o plano Itália a 1 Giga e garantir comunicações seguras para os militares. A oposição é contra, mas há poucas alternativas. E há implicações importantes para a indústria: a Starlink pode ser a base para o desenvolvimento de novas tecnologias e aplicações avançadas nas áreas militar e de segurança global. O papel da SpaceX.

Em um contexto de crescentes ameaças à segurança cibernética e de infraestrutura, a Itália não pode ignorar soluções como a Starlink, o sistema criado pela Space X de Elon Musk. Sua rede de satélites garante conectividade segura, resiliente e global, essencial para proteger comunicações estratégicas e dar suporte a operações militares. Além disso, representa um ativo fundamental para a indústria e para as tecnologias b2b, que exigem conexões confiáveis e inovadoras para operar de forma eficaz e competitiva.

Por que dizemos isso com tanta confiança? E como funciona a Starlink? Qual é o plano de negócios por trás disso? E como a indústria aeroespacial global e europeia está mudando? Com quais implicações para o mundo italiano da indústria e da tecnologia? Neste artigo, tentaremos fornecer orientações para responder a todas essas perguntas.

Nos últimos anos, dois fenômenos transformaram profundamente a abordagem dos Estados à Defesa e à segurança nacional. Por um lado, o caso Houthi demonstrou como grupos terroristas deram um salto quântico, usando drones e explosivos caseiros para conduzir ataques devastadores de longo alcance. A capacidade de combinar tecnologia acessível, programação simplificada e táticas assimétricas prejudicou infraestruturas críticas, como as rotas comerciais do Mar Vermelho. Por outro lado, o recente ataque de Israel ao Irã destacou uma vulnerabilidade insidiosa: a capacidade de cegar a rede de computadores terrestres de um estado, tornando-o incapaz de se defender. Israel, ao paralisar as comunicações da República Islâmica com ataques cibernéticos antes do ataque, mostrou que a guerra moderna também é travada com silêncio digital imposto ao inimigo.

Neste ponto, os Estados mais conscientes somaram “dois mais dois”, descobrindo que estão completamente expostos a estas ameaças: é necessário adotar soluções resilientes, como as redes de satélites, para proteger as comunicações e as infraestruturas críticas. Isto é particularmente relevante para a indústria aeroespacial, um setor estratégico que desempenha um papel central no desenvolvimento de sistemas avançados de comunicação e segurança. Assim, nos últimos dias, surgiram contatos entre o governo Meloni e a SpaceX, empresa aeroespacial fundada por Elon Musk que criou a Starlink – que consiste em uma constelação já operacional de mais de 7.656 satélites em órbita baixa. Eles garantem conectividade segura, invulnerável e sempre disponível e têm múltiplas aplicações militares e de segurança, representando assim uma mudança de paradigma na gestão de operações de campo.

Além disso, o objetivo da SpaceX com a Starlink é criar uma rede global de internet de baixa latência, para conectar até as áreas mais remotas do planeta e reduzir a exclusão digital. Não só isso: essas tecnologias se encaixam em um contexto mais amplo de inovação digital, abrindo oportunidades também para tecnologias b2b que exigem conexões confiáveis e seguras, como o gerenciamento de infraestruturas críticas, logística avançada e plataformas de nuvem. Ainda, a Starlink pode dar suporte à indústria italiana melhorando a eficiência dos processos de produção, permitindo o controle remoto de sistemas e acelerando a adoção de tecnologias como IoT e automação. Em suma, para a Itália uma solução ao seu alcance, imediata e de baixo custo: estamos falando de um acordo de cinco anos de 300 milhões por ano. O que são elas em relação à segurança do país? Nada.

O ponto de Andrea Stroppa, o contato de Musk na Itália

De fato, de acordo com o cientista da computação e contato de Musk na Itália, Andrea Stroppa, "no setor aeroespacial, nos últimos anos, a Itália financiou a União Europeia com uma média de cerca de um bilhão de euros por ano diretamente, além de mais outros indiretamente. Terceiro maior contribuinte líquido. € 18 bilhões gastos no sistema de navegação por satélite Galileo e no programa de observação da Terra Copernicus". Todas essas considerações não foram suficientes para aplacar a raiva dos comentaristas. Com rapidez, foi colocada em movimento a máquina do criador de absurdos opinativos, que dispõe de legiões de intérpretes pouco informados e bastante tendenciosos.

Andrea Stroppa com Elon Musk, no Coliseu, em recenete visita a Roma Foto: @cb_doge no X

Alguns comentaristas levantaram preocupações sobre se é apropriado confiar a Elon Musk e à Starlink dados relacionados à segurança nacional. Contudo, essa preocupação parece infundada. Em primeiro lugar, a alternativa imediata é a rede fixa, atualmente controlada pelo fundo americano Kkr, o que não eliminaria a questão do envolvimento estrangeiro. Além disso, sistemas como a Starlink são projetados desde o início para colaborar com governos, garantindo-lhes sigilo e acesso exclusivo aos dados, respeitando altos padrões de segurança.

SICRAL (Sistema Italiano de Comunicações Reservadas e Alarme), desde 2001, assegura as comunicações militares por satélite e as ligações estratégicas e tácticas no território nacional Foto: aresdifesa.it

Outros mencionaram “alternativas” de satélite à Starlink, como o projeto europeu Iris² e o sistema italiano Sicral, que, no entanto, sofrem com atrasos operacionais e limitações tecnológicas que atualmente os tornam não competitivos. O Iris², projetado para garantir autonomia estratégica para a UE, tem um custo estimado de € 10,6 bilhões e uma data operacional de 2030, muito distante para atender às necessidades imediatas. Da mesma forma, o SICRAL, embora crucial para as comunicações militares italianas, está focado em uma área específica e não tem o alcance global da Starlink, com o próximo lançamento previsto para apenas 2030.

Outros ainda confundem o significado do possível acordo: ele não tem valor civil, mas estratégico-militar. Não se trata de cobrir a largura de banda perdida em Civitaluparella. E não compete com redes nacionais italianas como a Open Fiber, que desenvolve infraestrutura de fibra óptica para o território, ou a Sparkle, que gerencia redes internacionais e cabos submarinos. Por outro lado, a rede de satélites da SpaceX representa um complemento estratégico, fornecendo conectividade quando a infraestrutura terrestre pode ser vulnerável. Essa abordagem fortaleceria a resiliência geral das comunicações italianas, integrando-se aos sistemas existentes para garantir maior segurança e continuidade operacional.

Starlink: a rede global de internet via satélite da Spacex conectará até as áreas mais remotas do planeta com operações de baixa latência

Quem é a SpaceX e o que ela faz: tudo sobre a visionária empresa aeroespacial de Elon Musk, criadora do revolucionário projeto Starlink e outras inovações como foguetes reutilizáveis, missões espaciais e programas para a exploração de Marte.

A Space Exploration Technologies Corporation, comumente conhecida como SpaceX, é uma empresa aeroespacial americana sediada na SpaceX Starbase em Boca Chica, Texas, perto da cidade de Brownsville

A SpaceX, fundada em 2002 por Elon Musk, é uma empresa aeroespacial privada com o objetivo de revolucionar as viagens espaciais, tornando-as mais acessíveis e sustentáveis, e abrindo caminho para a exploração interplanetária. A SpaceX, lembra o Times, atingiu recentemente uma avaliação de cerca de US$ 350 bilhões, tornando-se a startup privada mais “valiosa” do mundo. Agora, embora o projeto Starlink, com sua rede global de satélites de internet, seja um dos mais conhecidos, a SpaceX está envolvida em inúmeras outras áreas inovadoras.

Uma das vantagens do Starlink é que ele tem latência significativamente menor do que os satélites geoestacionários tradicionais.

Entre seus principais projetos estão os foguetes Falcon 9 e Falcon Heavy, veículos de lançamento reutilizáveis que reduziram drasticamente o custo dos lançamentos espaciais, e a cápsula Dragon, usada para transportar cargas e astronautas para a Estação Espacial Internacional (ISS). A SpaceX é uma parceira ativa da NASA, e sua Crew Dragon foi fundamental na restauração dos voos espaciais humanos dos Estados Unidos.

O projeto mais ambicioso, no entanto, é o Starship, um foguete totalmente reutilizável projetado para missões à Lua, Marte e além. A Starship faz parte do programa lunar Artemis da NASA e será o veículo que retornará os astronautas à superfície lunar, com o objetivo de longo prazo de estabelecer uma base estável em Marte e tornar a humanidade uma espécie multiplanetária.

A SpaceX também é líder em lançamentos comerciais, fornecendo serviços de transporte de satélites e cargas úteis para empresas, governos e organizações científicas ao redor do mundo. Também lançou missões de turismo espacial, como a Inspiration4, e está desenvolvendo ainda mais esse setor com o projeto Polaris.

Por fim, a SpaceX colabora com o Departamento de Defesa dos EUA em projetos militares, como o transporte global rápido via Starship, e contribui para desenvolvimentos tecnológicos como o Hyperloop, um sistema de transporte ultrarrápido. Com sua visão inovadora, a SpaceX está transformando o cenário aeroespacial: a ideia é levar a humanidade em direção a um futuro onde o espaço será mais acessível e habitável.

Starlink, o projeto revolucionário da SpaceX para garantir cobertura global contínua de comunicações de internet de alta velocidade, com o objetivo de implantar uma constelação de 12.000 satélites para conectar até as áreas mais remotas do planeta

Até o momento, a SpaceX já colocou satélites em órbita a uma altitude média de aproximadamente 550 quilômetros, com 224 lançamentos. Esses não são dispositivos isolados, mas parte de uma rede dinâmica capaz de se comunicar por meio de links de laser avançados, uma tecnologia que permite uma transmissão de dados rápida e confiável. Eles têm um design compacto, que permite o transporte de vários dispositivos em um único lançamento, graças aos foguetes Falcon 9 acima mencionados. Eles são equipados com sensores de navegação estelar personalizados, que permitem detectar estrelas para determinar com precisão sua posição e orientação. Este sistema garante o posicionamento ideal em órbita, o que é essencial para a transmissão de dados. Além disso, as antenas de matriz em fase integram diferentes bandas de frequência (Ku, Ka, E) para fornecer conectividade estável e rápida aos usuários em terra. A propulsão é fornecida por um sistema de íons de argônio, o que garante alta eficiência, permitindo que os satélites atinjam sua órbita operacional, realizem manobras e desorbitem com segurança ao final de sua vida útil. A energia é fornecida por painéis solares duplos e baterias de alta capacidade, que fornecem energia suficiente para todas as operações, incluindo cargas úteis e manobras em órbita. Para controle de atitude, cada satélite tem quatro rodas de reação, que oferecem alta confiabilidade operacional e permitem orientação precisa para maximizar a eficiência da transmissão e o gerenciamento orbital.

Para acessar essa rede, os usuários devem comprar um kit fornecido pela empresa, que inclui uma antena parabólica de aparência futurista chamada “Dishy McFlatface”. Este dispositivo foi projetado para ser plug-and-play, o que o torna fácil de instalar. Uma vez configurada, a antena se conecta automaticamente aos satélites, proporcionando velocidades de download de até 200 Mbps, com o plano premium chegando a 1 Gbps. Além disso, a Starlink supera um problema típico dos serviços tradicionais de comunicação espacial: latência. Como os satélites Starlink estão em órbita baixa, ela é significativamente menor que a dos geoestacionários: cerca de 25 ms, em comparação com mais de 600 ms.

O serviço está atualmente disponível em mais de 60 países e está se expandindo rapidamente. A versatilidade da Starlink a torna uma solução útil para reduzir a exclusão digital em ambientes desafiadores: de comunidades rurais a vilas remotas, de ilhas isoladas a navios em mar aberto.

Um desafio são os custos. O preço inicial do kit e a assinatura mensal podem ser proibitivos para alguns segmentos de usuários, principalmente em países em desenvolvimento. No entanto, à medida que o serviço se expande e a tecnologia avança, espera-se que esses custos diminuam gradualmente, tornando o Starlink mais acessível.

Starlink: Um ativo estratégico para defesa e segurança global em um mundo cada vez mais conectado e perigoso

Starlink como uma solução estratégica para governos e militares: reduzindo a dependência de infraestruturas terrestres vulneráveis e garantindo comunicações seguras e confiáveis, mesmo em cenários críticos.

Para governos e militares, a Starlink representa uma solução estratégica para reduzir a dependência da infraestrutura terrestre, que geralmente é vulnerável a ataques. Redes de fibra óptica, por exemplo, podem ser facilmente danificadas por sabotagem, enquanto satélites geoestacionários, embora forneçam ampla cobertura, são caros para substituir e mais lentos para fornecer uma resposta imediata em caso de mau funcionamento. A Starlink, por outro lado, oferece redundância operacional significativa, melhorando a confiabilidade e a segurança das comunicações estratégicas.

Com um número impressionante de satélites já em órbita e planos ambiciosos de expansão, a Starlink está a caminho de dominar a órbita da Terra nos próximos anos Foto: SpaceX

A meta da SpaceX é implantar pelo menos 12.000 satélites operacionais nos próximos anos; mas o potencial de expansão é ainda maior, até 42 mil, garantindo cobertura global contínua.

O coração do Starlink está na sua arquitetura distribuída mencionada anteriormente: mesmo que um ou mais satélites fossem comprometidos, o sistema continuaria a operar sem interrupção.

Starlink como aliado para operações militares: controle em tempo real, coordenação estratégica e proteção avançada de comunicações em cenários de guerra

Quanto às aplicações militares, vale destacar o controle em tempo real de drones e sistemas autônomos de vigilância e ataque: graças à sua velocidade e latência reduzida, o Starlink permite o monitoramento direto desses instrumentos, essenciais para operações de vigilância, reconhecimento ou intervenção. Em segundo lugar, a coordenação de operações militares complexas em ambientes críticos: a rede permite o compartilhamento de dados em tempo real entre unidades de campo e centros de comando, melhorando a eficiência, a precisão e a pontualidade das decisões estratégicas. O ponto mais importante, no entanto, é a proteção avançada das comunicações com sistemas de criptografia e defesa cibernética: com a introdução de tecnologias avançadas de criptografia, a Starlink garante que as comunicações permaneçam protegidas de interceptação ou interferência inimiga, um aspecto essencial em cenários de guerra ou segurança cibernética. conflitos.

O papel crucial da Starlink na gestão de emergências globais e crises humanitárias: comunicações estáveis e rápidas para garantir alívio, coordenação e suporte em cenários críticos

Além de aplicações militares, o Starlink é um trunfo na gestão de emergências. Durante o conflito na Ucrânia, por exemplo, a rede forneceu comunicações estáveis tanto para as forças armadas ucranianas quanto para civis em áreas onde a infraestrutura de rede havia sido completamente destruída.

Em caso de desastres naturais, como terremotos, tsunamis ou furacões, o Starlink pode ser rapidamente implantado para restabelecer as comunicações, facilitando a coordenação de operações de socorro e suporte logístico. Essa capacidade de se tornar operacional em um tempo muito curto e em condições extremas o torna um recurso insubstituível para lidar com crises globais, sejam elas causadas por conflitos, desastres naturais ou interrupções graves na infraestrutura tradicional.

Perspectivas futuras: Starlink como um pilar para o desenvolvimento de novas tecnologias e aplicações avançadas no setor militar e de segurança global

A SpaceX já está trabalhando em versões avançadas de seus satélites Starlink, que podem integrar tecnologias de ponta para expandir ainda mais suas aplicações no setor de defesa e segurança global. Mas que inovações são esperadas?

Em primeiro lugar, ferramentas avançadas de guerra eletrônica, capazes de interferir ou bloquear as comunicações inimigas, aumentando a superioridade estratégica em campo. Segundo, conexões ultra seguras com tecnologias de criptografia quântica, para garantir a máxima proteção de informações confidenciais. Por fim, satélites dedicados e personalizados para fins militares específicos, capazes de responder às necessidades operacionais específicas com maior eficiência e precisão.

Atualmente, a concorrência italiana e europeia não parece capaz de oferecer as mesmas garantias que a Starlink, em termos de segurança e defesa.

O projeto europeu Iris² é atormentado por atrasos crônicos e oferece cobertura mais limitada do que a Starlink

O já citado projeto Iris² (Infraestrutura para Resiliência, Interconectividade e Segurança por Satélite) é a iniciativa europeia que visa criar uma constelação de satélites para garantir conectividade segura e de alta velocidade, tanto para governos como para empresas e cidadãos da União Europeia. Com o investimento mencionado, o projeto prevê a implantação de aproximadamente 290 satélites em órbitas baixas e médias.

De fato, anunciado em 2022, o Iris² foi concebido precisamente com vista a reforçar a autonomia estratégica dos países da UE no setor das comunicações por satélite: em suma, deverá constituir a “resposta” europeia à Starlink. No entanto, o projeto sofreu atrasos significativos e aumentou os custos em comparação às estimativas iniciais. O início dos serviços, inicialmente previsto para 2027, foi adiado para 2030, enquanto o orçamento estimado em 6 bilhões de euros subiu para os níveis mencionados.

As causas dos atrasos são diversas. Primeiro, o processo burocrático de seleção de contratantes atrasou o processo de tomada de decisão, com disputas internas adicionando ainda mais complicações. Em segundo lugar, os custos subestimados na fase inicial do projeto exigiram financiamento adicional, aumentando o ônus econômico e retardando o progresso do programa.

Esses obstáculos levantaram dúvidas sobre a capacidade da UE de competir efetivamente com as operadoras tradicionais, como a Starlink, que parece ter uma vantagem tecnológica. Apesar disso, a União Europeia considera o Iris² um elemento estratégico crucial para garantir a soberania tecnológica e proteger suas infraestruturas de comunicação de interferências ou dependências externas.

Govsatcom: Um passo estratégico para a comunicação via satélite europeia, mas com limitações operacionais e visão de curto prazo

O programa Govsatcom é uma iniciativa da União Europeia para garantir comunicações via satélite seguras e resilientes para missões governamentais e de segurança. No entanto, ao contrário de outros projetos ambiciosos como o Iris² ou redes privadas como a Starlink, a Govsatcom não planeja lançar uma nova constelação dedicada. Em vez disso, ela se baseia no uso de capacidades existentes fornecidas por operadores de satélite europeus credenciados e por sistemas já operacionais em países membros.

Essa escolha nos permite oferecer soluções de curto prazo, evitando os custos e tempos de desenvolvimento necessários para construir uma rede completamente nova. Em teoria, essa estratégia permite a entrega rápida de serviços seguros, aproveitando a infraestrutura estabelecida. No entanto, esta abordagem também tem limitações significativas que podem prejudicar a competitividade e a eficácia do programa a longo prazo.

Por exemplo, as capacidades disponíveis podem não ser suficientes ou adequadas para enfrentar desafios futuros, como o uso crescente de tecnologias avançadas por atores não estatais ou a ameaça de ataques cibernéticos. Além disso, o uso de infraestruturas heterogêneas, muitas vezes gerenciadas por operadores privados, pode deixar margens de vulnerabilidade: uma constelação dedicada permite maior controle e gerenciamento mais centralizado.

O projeto italiano Sicral pode ser complementar a uma grande rede como a Starlink: parece muito limitado para “viver sozinho”.

O supracitado Sicral (Sistema Italiano de Comunicações Confidenciais e Alarmes) é o sistema de telecomunicações militares por satélite italiano, projetado para garantir comunicações seguras, resilientes e eficientes para as forças armadas nacionais e parceiros da OTAN. É uma infraestrutura estratégica essencial para a coordenação de operações militares, apoio logístico em campo e comunicações entre bases, navios, aeronaves e unidades móveis.

Atualmente, o sistema é baseado em três satélites principais: o primeiro, o Sicral 1, lançado em 2001, que já está próximo do fim de suas operações; em segundo lugar, o Sicral 1B, operacional desde 2009, que ampliou as capacidades do primeiro satélite; finalmente, o Sicral 2, lançado em 2015, nascido da colaboração entre Itália e França. Este satélite é o mais avançado da rede e fornece serviços às forças italianas e francesas, além de contribuir para as operações da OTAN.

O satélite Sicral 2 foi lançado há 10 anos, em 2015. O programa inclui o lançamento de mais dois satélites, com um custo estimado de 10,6 bilhões de euros e uma data operacional definida para 2030.

O futuro do sistema se concentrará no projeto Sicral 3, uma nova geração de satélites projetados para substituir os mais antigos e melhorar ainda mais a capacidade e a segurança das comunicações. O programa inclui o lançamento de dois satélites, Sicral 3A e Sicral 3B, com um investimento total estimado de aproximadamente 3 bilhões de euros. Esses satélites serão essenciais para integrar o sistema italiano às infraestruturas da OTAN e garantir a soberania tecnológica no campo das telecomunicações militares.

O sistema Sicral é o resultado da excelência industrial italiana. Sua construção envolve empresas como a Thales Alenia Space, joint venture entre a Thales e a Leonardo, responsável pela construção dos satélites, e a Telespazio, também joint venture entre a Leonardo e a Thales, que administra o segmento de controle terrestre.

A Starlink não pode comprometer o desenvolvimento das redes de comunicação italianas. E, em qualquer caso, o possível acordo entre o governo e a Spacex não tem qualquer influência nessas atividades.

O senador do PD Francesco Boccia repetiu mais uma vez na televisão: o que acontecerá com a Open Fiber e a Sparkle se o acordo entre o governo Meloni e a SpaceX se concretizar? É um mantra entre os oponentes, mas é baseado em uma deturpação flagrante dos fatos. Repetimos também a Boccia: o possível acordo diz respeito a questões estratégico-militares, não civis. O satélite não compete com a fibra. Isso também é demonstrado pelo fato de que já hoje os italianos, públicos ou privados, podem instalar a antena parabólica de Musk sem ter que esperar pelo pacto entre o executivo e o magnata americano. A Starlink já tem 55 mil clientes na Itália.

É preciso dizer que as empresas italianas mais importantes do setor de telecomunicações têm diferentes estruturas de propriedade que refletem a crescente influência de investidores e fundos de investimento estrangeiros. O apelo à italianidade parece fora de lugar.

A Open Fiber, que desenvolve infraestrutura de fibra óptica, é 60% detida pela Cassa Depositi e Prestiti (Cdp), uma instituição financeira estatal italiana sob o controle do Ministério da Economia e Finanças. A participação restante, equivalente a 40%, é detida pela Macquarie Asset Management, um fundo de investimento australiano que adquiriu sua participação em 2021. A Open Fiber é considerada um ativo estratégico pelo governo italiano, especialmente por seu papel fundamental no desenvolvimento da rede nacional única e na expansão da infraestrutura digital do país.

A Fibercop também lida com fibra óptica e, até recentemente, era controlada em 58% pela Tim. Somente em 1º de julho de 2024, a Tim concluiu a venda de sua rede fixa e atividades de atacado, denominada NetCo, para o fundo de investimento americano Kkr. O acordo, avaliado em até 22 bilhões de euros, ajudou a Tim a reduzir significativamente sua dívida. A transação previu que os ativos da NetCo fossem transferidos para a FiberCop; Posteriormente, a Kkr, por meio de sua empresa Optics BidCo, adquiriu o controle total da FiberCop.

Atualmente, a FiberCop e a Open Fiber concluíram o cabeamento de aproximadamente um terço dos 3,4 milhões de instalações, mas continuam atrasadas na conexão de 450 mil intalações localizadas nas áreas mais isoladas.

A Sparkle, por outro lado, é atualmente uma subsidiária da Tim, a principal empresa de telecomunicações italiana. A Sparkle opera redes internacionais e cabos submarinos, representando um centro importante para conexões globais. Atualmente, a Tim é considerada uma empresa de capital aberto, com controle acionário mais fragmentado: o principal acionista é a Vivendi, empresa francesa, que detém 23,7% das ações, enquanto o restante é distribuído entre fundos de investimento e pequenos acionistas. No entanto, o futuro da Sparkle também está prestes a mudar.

A Tim iniciou um processo de venda da Sparkle para um consórcio composto pela CDP, que adquiriria uma participação de 70%, e pela Asterion Industrial Partners, um fundo de investimento em infraestrutura que controlaria os 30% restantes. Espera-se que esta transação seja concluída até janeiro de 2025, com decisões importantes esperadas nas próximas reuniões do conselho da Tim.

Quanto ao panorama restante das telecomunicações que operam no Bel Paese, ele se apresenta como um mosaico ainda mais complexo e fragmentado, onde a presença de players estrangeiros domina o cenário e poucas entidades mantêm propriedade italiana.

No segmento de operadoras de telefonia móvel, por exemplo, a WindTre é totalmente controlada pela gigante chinesa Hutchison, enquanto a Iliad, que fez grande sucesso com sua entrada no mercado italiano, é uma empresa francesa. A recente fusão entre a Fastweb e a Vodafone mudou ainda mais o cenário, colocando o controle da segunda maior operadora italiana nas mãos da empresa suíça Swisscom.

Nesse contexto já dominado por players estrangeiros, o governo italiano está pressionando para integrar essas soluções de satélite com fibra óptica, e a Lombardia será a região pioneira desse modelo. Foi aberto um concurso de 6,5 milhões de euros para operadoras internacionais como a Starlink, com o objetivo de desenvolver um sistema complementar para conexões em áreas de difícil acesso.

De qualquer forma, segundo analistas da Mediobanca Research, uma solução híbrida que integre satélites e fibra óptica poderia acelerar a implementação de conexões rápidas, já que os satélites podem complementar outras infraestruturas digitais.

Fonte: industriaitaliana.it