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Terremoto em Nápoles e Campi Flegrei, a terra volta a tremer

Depois do sismo de magnitude 4,4 registrado na noite de 20 de maio de 2024 na zona de Campi Flegrei, perto de Nápoles, o golfo de Pozzuoli, voltou a tremer na manhã desta quarta-feira (22/05). Tendas de acolhimento foram montadas na capital napolitana, além disso, 46 famílias já haviam sido retiradas de suas casas no comune de Pozzuoli, de 76 mil habitantes, após os abalos sísmicos registrados desde a última segunda-feira (20/05).

O novo choque sentido pela população ocorreu nesta quarta-feira (22/05), às 8h28, após a trégua noturna. A magnitude foi de 3,6, registrada pelo Istituto Nazionale di Geofisica e Vulcanologia (INGV) a 4 quilômetros de profundidade. O tremor foi sentido nos andares superiores de vários bairros de Nápoles e nos municípios mais próximos da zona afetada.

Das 19h51 do dia 20 de maio até a 00h31 da terça-feira, 21 de maio, aproximadamente 150 tremores foram registrados preliminarmente e 15 ao longo da manhã, sendo o tremor mais forte dos últimos 40 anos, de magnitude 4,4, sentido na tarde da terça-feira (21/05). As fiscalizações realizadas evidenciaram apenas pequenos danos nas edificações e nenhum ferimento havia sido foi relatado.

Campi Flegrei, vulcões e terremotos

Os Campi Flegrei são uma vasta área vulcânica na Campânia, a oeste da cidade de Nápoles e do seu golfo, que ocupa uma área de aproximadamente 450 km2, desde a ilha de Procida até grande parte da cidade de Nápoles. A área Flegrei inclui os municípios de Nápoles, Pozzuoli, Quarto, Marano, Bacoli e Monte di Procida.

Tal como os outros vulcões da região da Campânia, os Campi Flegrei formaram-se porque estão localizados numa área caracterizada pela distensão da crosta terrestre. A crosta vai se alargando e criando uma descompressão profunda, com derretimento das rochas. 

Segundo especialistas, os terremotos dos Campi Flegrei decorrem principalmente uma crise bradissismica, ou seja, possui uma série de eventos associados, incluindo a subida de gás das profundezas da terra. À medida que o magma se move, ele libera o gás. A erupção é teoricamente provável, visto que o Vesúvio entrou em erupção setenta vezes nos últimos 15 mil anos. Mas este não seria um perigo iminente porque não haveria sinais, por enquanto, de que isso venha acontecer. 

Mauro De Vito, diretor do Observatório Vesúvio, afirma que a elevação dos terrenos “é um dos aspetos que monitorizamos com mais atenção. Não, no momento não detectamos nenhum ponto crítico." No entanto, as análises de gases estão “destacando um aumento nas temperaturas e pressurização do sistema hidrotérmico superior. Os valores do gás emitido equivalem a 4.500 toneladas de CO2 por dia em algumas localidades. É um valor importante”. 

A erupção mais antiga dos Campi Flegrei, da qual existem evidências claras, remonta a 40-39.000 anos atrás. “Foi a erupção mais violenta na zona do Mediterrâneo nos últimos 200.000 anos. Os materiais libertados estão presentes em toda a área com espessuras de dezenas de metros, mas também foram encontradas cinzas na Bulgária e em algumas zonas da Rússia", afirma Roberto Isaia do INGV

600 mil pessoas

Segundo o geólogo e comunicador científico Mario Tozzi, o problema reside em maior parte na ocupação dos Campi Flegrei: “É como se milhares de pessoas estivessem sentadas num supervulcão e em vez de o manterem sob controle e atenção, o que fazem? Nele constroem um hospital, um autódromo, uma base militar, uma cidade de 80 mil habitantes. Aconteça o que acontecer, há um problema". Uma área que deveria ter se tornado um grande parque natural é, em vez disso, “habitada por 600 mil pessoas. E ainda há pessoas que continuam a vir aqui porque é um lugar esplêndido. Então não venha me contar a história do estado maligno. A verdade é que eles não deveriam ter vindo morar lá, as pessoas não deveriam ter ficado lá”.

Sob controle

A atividade dos Campi Flegrei é constantemente monitorada através de parâmetros físicos e geoquímicos. A rede de monitoramento mede a sismicidade, a deformação do solo e o material emitido. "Os dados são recolhidos pelo centro de vigilância onde é feita automaticamente uma análise inicial, seguida de uma segunda, detalhada, realizada por analistas dos vários setores. A rede sísmica é composta por cerca de 35 estações, fixas e móveis, que medem a velocidade e a aceleração do solo”, explica Danilo Galluzzo, do INGV.