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Naufrágios que marcaram a emigração italiana para a América do Sul

De 1860 a 1924, mais de cinco milhões de emigrantes italianos partiram dos portos do Mediterrâneo em busca de um futuro promissor, mas muitos deles não chegaram ao destino desejado. Provocados, muitas vezes, pelas condições precárias das embarcações e por armadores inescrupulosos, os desastres e naufrágios de barcos italianos e europeus foram sucedendo-se ao longo deste período da história.  

Foram muitos os navios que transportaram milhões de pessoas em suas viagens transoceânicas; destas, muitas para embarcar vendiam o pouco que possuíam, na esperança de fazer fortuna para um dia poder voltar à Itália.

Os passageiros dos navios que navegavam diretamente para a América do Sul eram principalmente emigrantes das regiões agrícolas do norte da Itália. Quem podia pagar uma passagem ia para a América do Sul, onde a integração era certamente mais fácil. A cultura sul-americana era de fato muito próxima da italiana, assim como a observância religiosa, e havia menos dificuldades de linguagem. Os emigrantes do Veneto e do Friuli privilegiavam o Brasil, enquanto a Argentina era o destino prioritário dos oriundos do Piemonte. 


Principessa Mafalda, em cartão-postal da Navigazione Generale Italiana

A Principessa Mafalda, que em 1927 era ainda a embarcação carro-chefe da Marinha comercial italiana, depois de ter desembarcado milhares de pobres num incessante pingue-pongue, na rota para Buenos Aires, encontrava-se reduzida a péssimas condições. Apesar disso, em 11 de outubro de 1927, o navio partiu mais uma vez de Gênova.


O Principessa Mafalda foi construído em 1908 para o Lloyd Italiano, nos estaleiros de Riva Trigoso, perto de Gênova. Posteriormente, com a fuão da empresa, passou a pertencer ao Navigazione Generale Italiana (NGI)

Após três dias, a embarcação entrou no Atlântico, embora os motores tivessem parado oito vezes, enquanto ainda navegava no Mediterrâneo. Levava por volta de 1300 passageiros, de vários lugares do mundo, principalmente italianos. Também havia brasileiros, uruguaios, argentinos, iugoslavos, austríacos, húngaros e suíços: pouco mais de 60 na primeira classe, 80 na segunda, quase 1000 passageiros na terceira e cerca de 300 tripulantes. A embarcação chegou às águas brasileiras, próximo ao litoral do estado da Bahia, em 25 de outubro, onde afundou levando à morte 385 pessoas, muitas delas comidas por tubarões.


Naufrágio do navio italiano Sirio na costa leste da Espanha: o resgate (Desenho de A. Beltrame). La Domenica del Corriere

Ainda mais trágico, vinte anos antes, havia sido a tragédia do Sirio, um navio mercante italiano que partiu de Gênova para a América do Sul. Em 4 de agosto de 1906, na costa leste da Espanha, o tempo estava bom, o mar calmo, quando o navio se chocou repentinamente contra uma rocha. Os danos foram gravíssimos, mas o naufrágio total teria ocorrido somente 9 dias depois, com a embarcação rachando-se ao meio.


Benedito Calixto, Naufrágio do Sírio, 1907

Todos no navio, entretanto, poderiam ter sido salvos, porém a evacuação caótica e desesperada foi decisiva para a morte de 292 imigrantes com destino ao Brasil, Uruguai e à Argentina. Na verdade, o número de vítimas teria sido ainda maior, chegando a quase 500 mortos. Os imigrantes, majoritariamente famílias camponesas, quase todos acompanhados de numerosas crianças pequenas, desconheciam o mar. Além disso, poucas pessoas sabiam nadar naquela época e o capitão foi o primeiro a abandonar o navio. Passageiros foram arremessados para fora do barco, com ou sem coletes salva-vidas, quando a água começou a inundá-lo.

Os naufrágios do Sirio e da Principessa Mafalda receberam alguma atenção da opinião pública: aquelas tragédias eram grandes demais para serem ignoradas. Porém toda a emigração italiana, desde o início dos anos 1900, foi cheia de desastres. Como o do Ortigia, que afundou na costa argentina, em 24 de novembro de 1880, e deixou 239 emigrantes calabreses e molises, no fundo do mar. 


Sudamerica  entrou no porto de Las Palmas de Gran Canaria, procedente de Buenos Aires e com destino a Gênova. O maior desastre naval da história das Ilhas Canárias

No início da manhã de 13 de setembro de 1888, o Sud America I, zarpou em 26 de agosto de Montevidéu e carregado com cerca de 300 passageiros, entrou no porto de Las Palmas, no arquipélago espanhol das Canárias. Às 6 da manhã foi abalroado pelo vapor francês La France, com destino à América do Sul. O impacto causado pela proa do La France abriu um rombo na lateral do Sud America I que afundou em meia hora a 15 metros de profundidade. Apesar de estar a apenas 600 metros da costa, 81 passageiros, a maioria imigrantes italianos retornando para a Itália, do Uruguai e do Brasil, e 6 tripulantes morreram no desastre.

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