UIL

O legado de Raffaello Berti, o italiano que deu contornos ao cotidiano de Minas Gerais

Quem circula pelas ruas de Belo Horizonte não terá muita dificuldade em deparar-se com o legado de um italiano nascido em Pisa, em 1900. Suas obras integram de maneira inequívoca o cotidiano da capital mineira e as pessoas circulam, trabalham, divertem-se, e até fazem política e rezam, nelas. Afinal, dos mais de 500 projetos arquitetônicos – e cerca de três mil plantas -  de sua autoria, a maioria foi construída em Minas Gerais. Tanto que não é nenhum exagero afirmar que o perfil de Belo Horizonte tem, de forma indelével, o traço de um homem que já trouxe no nome a inspiração do traço e do contorno: Raffaello Berti, não apenas em razão do resultado prático de seu trabalho como igualmente em termos de influência e formação, pois ele foi um dos fundadores da Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais.

Basta apurar um pouco o olhar para vislumbrar uma obra de Berti em Belo Horizonte. Agora, no entanto, há uma outra oportunidade. Para festejar os 65 anos do Museu Histórico Abílio Barreto (MHAB), comemorados no dia 18 de fevereiro, a Prefeitura local  inaugurou a exposição "Novos acervos - MHAB 2003-2008" nesta quarta-feira (27). E, entre os vários nichos da exposição, o visitante poderá encontrar projetos e objetos de trabalho do arquiteto italiano que chegou ao Brasil  em 1922, para trabalhar na instalação da Exposição do Centenário da Independência do Brasil.

Formado na Accademia di Belle Arti di Carrara, Berti também deixou a sua marca na antiga capital brasileira, onde participou de projetos como o do Jockey Club e da Câmara dos Deputados. Já casado com Aracy Nunes Berti, transferiu-se para Belo Horizonte em 1930, ano em que se tornou um dos fundadores da Escola de Arquitetura da UFMG, onde atuou por cerca de quarenta anos. Dentre seus projetos destacam-se a Prefeitura de Belo Horizonte, a Cúria Metropolitana – Palácio Episcopal, a Santa Casa de Misericórdia, o Minas Tênis Club, o Cine-Teatro Metrópole, Hospital Felício Rocho, Hospital Odilon Behrens, Hospital Vera cruz, Colégio Nossa Senhora de Sion, Colégio Marconi, Colégio Batista Mineiro, Colégio Arnaldo, Instituto Metodista Isabela Hendrix, a Feira Permanente de Amostras e, em Nova Lima, o Teatro Municipal Manuel Franzen de Lima.

No centenário de seu nascimento, comemorado em 15 de abril de 2000, foi lançado o livro Raffaelllo Berti: projeto memória, que reúne parte do acervo dos trabalhos do arquiteto e conta um pouco de sua trajetória. A iniciativa de resgatar para a posteridade a memória de Berti partiu de seu filho arquiteto Mario, que estruturou o trabalho de documentação da obra completa do pai, mas não o concluiu; faleceu antes.

Na verdade, é possível afirmar, em última análise, que a história da arquitetura brasileira não pode ser contada sem dedicar um generoso espaço para Raffaello Berti. A funcionalidade dos seus projetos inegavelmente está associada a uma preocupação hoje um tanto esquecidas: as obras eram idealizadas para durar uma eternidade. Assim como no tempo do império romano.