Distritos Industriais na Perspectiva da Escola Italiana*
Este artigo visa apresentar os distritos industriais e os clusters. O modelo do distrito industrial foi utilizado a partir de 1970 na região do Vêneto, na Itália, para proporcionar crescimento econômico com o fortalecimento de pequenos empreendedores, reunidos em consórcios ou cooperativas. Os distritos industriais na Itália valorizaram a micro e pequena empresa, e com isso revolucionaram a economia do país nos últimos 20 anos.
Lá os pequenos negócios respondem por 60% do PIB (Produto Interno Bruto). A Itália é uma referência mundial na formação de distritos industriais de pequenas empresas. Somados chegamos a 200 em todo o país, 21 somente na região da Lombardia, cuja capital é Milão. Esta região conta com 770.000 micro e pequenas empresas, fabricando 29% dos produtos manufaturados na Itália. O setor permitiu que a Itália substituísse gradativamente as importações ao mesmo tempo em que aumentava sua fatia no mercado internacional. Observaremos paralelamente as teorias clássicas da localização.
1. Distritos Industriais
O papel dos distritos industriais ou sistemas industriais localizados (SILs) no desenvolvimento econômico tem sido amplamente discutido nos mais diversos países, tendo em vista o desenvolvimento proporcionado por vários destes distritos industriais.
Porter (1993), realizou estudo sobre a vantagem competitiva das Nações, analisando os distritos industriais da Itália, dos Estados Unidos, Alemanha, Suécia, Suíça, Japão, Coréia, Reino Unido, testando diversas hipóteses, no sentido de buscar a razão do desenvolvimento destas regiões.
Poucas foram as similaridades encontradas de forma marcante entre estas nações, mas uma série de diferentes perspectivas, que depois de analisadas, apresentam possibilidades diversas, representando fator diferenciador nas comunidades estudadas.
A certeza da necessidade de inovação, competitividade e produtividade aliada a perfis gerenciais constantemente atualizados e com excelente capacidade criativa e de liderança, foram os temas mais citados e que se mostraram eficazes.
A defesa da hipótese de que a Prosperidade Nacional não é algo herdado, mas resultado do esforço criativo humano e que a competitividade de um país depende da capacidade da industria de inovar e melhorar, em razão de pressões e desafios com valoração maior à criação e assimilação do conhecimento, não sendo capaz de competir em todos os setores, em busca de um ambiente doméstico, progressista, dinâmico e desafiador.
Assim podemos buscar esclarecer distritos industriais, como aqueles distritos que surgiram hierarquizados e integrados regional ou nacionalmente, também chamados pelos geógrafos, de localidades centrais, como fruto do capitalismo, onde se concentra ou existe um determinado domínio de um modo de produção.
Estas redes de localidades centrais podem apresentar características diferentes em sua estrutura, algumas possuem uma cidade central e a ausência de outros centros de igual importância, mas de outros intermediários; outros se caracterizam por forte semelhança com o modelo de Christaller.
Como é possível observar, o tema deste artigo será o estudo do desenvolvimento econômico focado nos distritos industriais, buscando discutir as possíveis vantagens e desvantagens econômicas, de crescimento, de influencias na comunidade e na organização familiar visando a sustentabilidade das localidades e dos entornos em que se localizam.
2. Conceituação
O conceito de distrito industrial foi descrito por Marhsall (1890) para caracterizar as concentrações de pequenas e médias empresas localizadas ao redor das grandes industrias nos subúrbios das cidades inglesas. Assim não será incorreto dizer que os distritos industriais ingleses eram constituídos por aglomerações de grandes, pequenas e médias empresas inter-relacionadas em microrregiões geográficas, produzindo bens em larga escala para atendimento do mercado interno e externo.
Alfred Marshal, em seu conceito de distrito industrial, demonstrava que a produção em larga escala das grandes empresas, também pode ser obtida por várias pequenas empresas concentradas num território recorrendo a um único mercado de trabalho local, com habitantes que apresentem características culturais semelhantes, assim o conceito marshaliano repousa na noção de adequação perfeita entre as condições requeridas por um processo produtivo organizado e com características sócio-culturais fortes.
Para Becattini (1999), temos que distrito industrial é uma entidade socioterritorial caracterizada pela presença ativa de uma comunidade de pessoas e de uma população de empresas num determinado espaço geográfico e histórico.
Todos os conceitos não descartam que o trabalho é o elemento central da relação de sucesso dos distritos, e é através dele que a humanidade tem satisfeito suas necessidades.
3. Diferentes Teorias de Industrialização e Localização
O processo de transformação do território pelo homem, vem sendo estudado há séculos, na busca de um entendimento de como este se processa.
Sabemos que a apropriação do valor caracteriza-se pela tomada de posse, em proveito particular, de parcelas de espaço e de materiais produzidos pela comunidade territorial. Assim se verifica o domínio e apropriação da diversidade natural e constrói-se a diferenciação entre comunidades territoriais, assim como a diferenciação interna desta comunidade.
A Teoria de Johann Heinrich von Thünen (1783-1950), a cujo quadro denominou de o estado isolado, tratando a localização industrial partindo de um centro de mercado, em cujo entorno se verifica uma região agrícola homogênea com propriedades físicas semelhantes em todas as direções. Esta interpretação ficou conhecida como anéis de Thünen".
A teoria da localização de Alfred Weber (1868-1958) concentrou seus estudos de localização industrial, tomando por base a análise de custos com o transporte e o dos deslocamentos e da mão-de-obra, que chamou de "forças aglomerativas". Estes fatores podem ser vistos a partir das curvas com o mesmo nível de custos, chamadas de isodapanas.
A teoria dos lugares centrais de Walther Christaller (1893-1969), formula em 1933 e que nas décadas de 60 e 70 foi incorporada a nova geografia, afirma que os espaços territoriais economicamente mais ativos se organizarão segundo um princípio de centralidade, assim a centralização seria observada como uma tendência natural. Bens e serviços estão nos núcleos urbanos. As barreiras naturais ou a infra-estrutura adequada de comunicação é fundamental para determinar uma maior ou menor centralidade de produtos ou de uma cidade.
Lösch (1906-1945), formulou a Teoria das Regiões Econômicas que utiliza a suposição de uma planície homogênea, com igualdade de renda, de gostos, de economia de escala para produção de bens, população igualmente distribuída pelo território, as firmas acrescem aos preços, os custos de transporte, considera a minimização dos custos, como também a maximização de lucros. Estabelece a concorrência entre as cidades para disponibilizar produtos para o maior número possível de lugares, o faz a formação de um modelo hexagonal, pois o cada centro faz o atendimento de uma área circular.
4. O Modelo dos Distritos Industriais
O desenvolvimento da Itália após a Guerra intrigou experts1 e observadores quanto à formação de vários distritos industriais (com entre 60 a 100 empresas), resultando em exportações positivas nas áreas de tecidos, vestuário, calçados, azulejos e móveis, fabricados nestes distritos.
O intrigante foi que pequenas unidades, desfavorecidas quanto à possibilidade de comércio e de estruturas obtinham acesso a crédito e ao mercado externo, gerando lucros e empregos.
Enquanto as grandes empresas perdiam terreno para os concorrentes estrangeiros, as pequenas empresas, em contradição aos economistas, estavam em processo de ascensão.
Estudos em outros países como Espanha, França, Alemanha e Estados Unidos trouxeram o mesmo resultado favorável.
O fenômeno do desenvolvimento econômico local focado nos distritos industriais, a exemplo do que se verificou na Itália, não parou de despertar interesse de muitos observadores internacionais, tendo sido identificados diversos outros distritos em outros continentes, dentre estes destacamos por relevância o Vale do Silício, na Califórnia; Cholet, Vale do Rio Arve, Oyonnax e Thiersna, na França; Baden-Württemberg na Alemanha.
Ao realizar um estudo mais aprofundado destes casos, Porter (1993), durante quatro anos, analisou dez diferentes países, seus interesses ficaram na Dinamarca, Alemanha, Itália, Japão, Coréia, Singapura, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos, já que estes são responsáveis por 50 das exportações mundiais de 1985.
Estes principais setores exportadores de cada país são: a aeronáutica e o cinema dos Estados Unidos; as indústrias de automóveis e de produtos químicos na Alemanha; os semicondutores e vídeos compactos no Japão; serviços bancários e farmacêuticos na Suíça; calçados, têxteis e azulejos na Itália.
Em busca de encontrar e analisar as hipóteses que seriam responsáveis pelo desenvolvimento de um país, Porter (1993), avaliou:
a) Seriam as taxas de câmbio e os juros altos praticados por um país aliados a um déficit do governo responsável pela falta de crescimento
b) A existência de mão-de-obra barata e abundante são garantias para tal
c) Abundância de recursos naturais são garantias de sucesso
d) A base de qualquer sucesso empresarial de um país esta diretamente ligado as suas políticas de incentivo
e) Grandes empresas fazem o destaque dos distritos e países
f) São praticas gerenciais e relações trabalhistas que respondem pelo sucesso de uma localidade
Todas as alternativas levantadas apresentam-se como corretas para alguns países e totalmente sem sentido para os demais, inviabilizando qualquer hipótese isoladamente, contudo cada uma delas têm um pouco de verdade, a competitividade esta alicerçada a capacidade de inovação através de novos designs2, novos produtos, abordagens de marketing e métodos de treinamento para utilização de tecnologias inovadoras, que nem sempre são idéias novas, mas aquelas que nunca foram postas em prática.
Becattini (1999) afirma que a simbiose entre atividade produtiva e vida comunitária são o que qualifica a originalidade de um distrito industrial.
A produção pelo modelo não fordista (rede ou distrito) adquire caráter predominante no nordeste da Itália e na Europa do Arco Alpino principalmente por três motivos, o primeiro é que se mostra mais adequado à globalização (entendida como aquela fase em que o mercado fica cada vez mais aberto e imprevisível, não completamente controlável pelas empresas monopolistas" ou oligopolistas); a segunda condição requer criar um jogo de equipe e uma maior participação dos empresários e dependentes em diversos níveis, assegurando inovações mais rápidas em toda a cadeia, riscos menores, tempos inferiores para a comercialização do produto e custos mais baixos para a reestruturação do sistema em caso de choques externos; e na terceira condição, os participantes da cadeia do valor não precisam dispor de grandes capitais para seguir o percurso de desenvolvimento que leva ao sucesso em maior escala, na distribuição do lucro total.
A simbiose entre empresas e comunidade local gera possibilidade de cooperação competitiva entre aquelas e potencializa a criação de externalidades3 positivas (= efeito gerado numa atividade qualquer e pode ser positiva quando desejada, ou negativa quando indesejada).
O modelo de desenvolvimento dos distritos industriais italianos, fundamentados nas redes de pequenas e médias empresas (PMEs) tem sido apontadas como um dos meios possíveis e desejáveis de superação do modo fordista de produção4 (Corò, 2002 Empresários e Empregos).
Alguns autores utilizam o termo Cluster como forma de indicar Distritos Industriais.
Cluster´s são grupo de indústrias conectadas por compradores e fornecedores especializados ou relacionados por tecnologias e habilidades(Porter, 1990 e 1994);
Concentração setorial e espacial de firmas(Schmitz & Nadvi, 1999);
Aglomeração significativa de firmas em uma área especialmente delimitada que possui uma clara especialização produtiva, na qual o comércio entre elas é substancial (Altemburg & Meyer-Stamer, 1999);
Lins(2000), incorpora outros elementos, considerados importantes, além da especialização e proximidade geográfica, tais como a presença de relações inter-firmas a jusante e a montante, a mentalidade cooperativa(sem deixar de ser competitiva), a dotação de bases institucional e de serviços que amparam as atividades produtivas locais e identidade sócio-cultural.
Dentre os cases de sucesso espalhados pelo mundo destacamos: Cluster de vinícola da Califórnia, Estados Unidos (Porter, 1998); Cluster de produtos florestais na Suécia e Portugal. (Porter, 1998); Clusters Florestais na Finlândia (Galvão, 2000); Clusters nos Estados Unidos Vale do Silício (Galvão, 2000).
A vantagem competitiva dos distritos não esta na concentração casual de PMEs 5, mas na presença de uma rede de atividades fortemente integradas e capazes de gerar identidade e motivação aos atores envolvidos.
Para se transformar de uma aglomeração setorial em distrito industrial autentico seriam necessárias três fases distintas: contaminação onde o território já dotado de uma matriz produtiva e institucional satisfatória passa a estabelecer uma relação de troca com o ambiente externo, seja através das instituições que apresentem legitimidade perante o tecido produtivo, seja por empresários ou brokers 6 que desempenhem uma função de grupos de atores que se tornarão massa crítica; incubação que privilegia a formação de grupos de atores que se tornarão massa crítica que nesta fase, a presença de grandes empresas e de programas de qualificação pode ser bastante eficaz para a formação da massa critica que dê sustentabilidade à fase de desenvolvimento posterior; que chamamos de big bang, ou seja, chegamos ao processo consolidador e dinâmico no qual se acentua, através da imitação, a competição no interior do território, que agora tem agentes que tendem a desenvolver projetos empreendedores próprios, integrados às atividades da comunidade.
5. A Terceira Itália
Para os especialistas italianos, o estado de espírito prevalece nos distritos industriais é baseado num desabrochar pessoal, o individualismo e o sentimento comunitário do desenvolvimento se fundem harmoniosamente no distrito industrial.
Para sua eficácia os processos produtivos do distrito se apresentam fracionados, obtendo-se uma sinergia entre atividade produtiva e vida cotidiana que parecem constituir o traço dominante deste, assim como o laço que une os pequenos produtores aos mercados externos , depende também daí a perenização e renovação regularpara o exterior dos excedentes, ainda dependem também da capacidade de impor uma imagem, o distrito não é um fenômeno exclusivamente local, mas também uma reestruturação do mercado que o quer reconhecido como importante pelos intermediários especializados nos produtos deste distrito.
Analisando o papel dos tecelões de Prato e os buyers8 na Toscana é a coexistência singular de concorrência e de solidariedade entre as empresas do distrito, já que a cooperação entre os membros virá em prol da melhoria do próprio distrito.
Distrito industrial é um grande complexo produtivo, onde a coordenação de diferentes fases e o controle da regularidade do funcionamento não dependem de regras pré-estabelecidas, a exemplo da grande empresa privada ou públicas, mas no apostar em economia de escala ligada ao conjunto dos processos produtivos sem perder, todavia, graças a segmentação desse processo, sua flexibilidade e adaptabilidade frente aos diversos acasos do mercado.
Há estudiosos que incluem no estudo dos distritos industriais, áreas industriais de pequenas empresas regidas por uma ou várias grandes empresas; outros incluem na categoria dos distritos, zonas urbanas com concentração de pequenas empresas de todo o gênero, com funções determinadas nas diferentes fases de um processo produtivo. Assim um bairro industrial apresenta analogias com os distritos estudados, acarretando uma interação dos aspectos produtivos e socioculturais.
Os setores mais sujeitos ao agrupamento foram: vestuário em número de dezesseis, móveis em número de doze, calçados com onze e têxtil com cinco.
A maior parte dos distritos industriais se concentra no Centro-Nordeste da Itália: 15(quinze) na região de Marche, 14(quatorze) na região do Vêneto, 11(onze) na região sul da Lombardia, 9(nove) na Emilia-Romagna, 8(oito) na Toscana, 2(dois) no Piemonte, 1(um) no Friouli-Venezia-Giulia e outro nos Abruzos. Sendo que dentre esses os mais notáveis exemplos são: Bielle, no norte da Itália (lã), Busto-Arsízio, perto de Milão (máquinas-ferramenta), Como, nos arredores de Milão (seda e outras fibras); Valenza Po e Arezzo, na Itália (joalheria); Valência, na Espanha (revestimento cerâmico); Florença, na Itália (sapatos e bolsas de couro);. Na Emilia-Romagna funcionam, entre outros, os clusters de queijo parmesão (Parma), presunto de Parma (Parma), revestimento cerâmico (Sassuolo), carros esportivos (Modena), têxteis (Ravenna), vinho lambrusco (Modena), confecções (Carpi), máquinas agrícolas (Modena e Reggio), máquinas para madeira (Carpi), estofados (Forli).
Estudos em outros países mostraram que a organização eventual do processo sob a forma de distrito depende menos do produto comercializável que das características do processo de produção. Cases de sucesso espalhados pelo mundo: Distrito Industrial de Malhas de Algodão de Tiruppur, no Sul da Índia; Distrito Industrial de Mármore e de Granito, de Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, Brasil; Distrito Industrial Têxtil de Herning-Ikast e de Movelaria de Salling, em West Jutland, Dinamarca; Distritos Industriais de Bens de Capital de Baden-Württemberg, na Alemanha; Distritos Industriais de Calçados do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul, Brasil (Galvão, 2000 - IPEA); Lyon, na França (seda); Vale do Silício, na Califórnia (software, telemática); Londres, na Inglaterra (banking e seguros); Caldas da Rainha, em Portugal (cerâmica de mesa); na Alemanha, Heildelbertg, Frankenthal, Offenbach e Würzburg (máquinas gráficas); Cleveland, nos EUA (manufatura de precisão); Vale de Sonoma, na Califórnia (vinho); Hollywood, em Los Angeles (cinema de entretenimento); Madison Avenue em Nova Iorque (publicidade); Boston, nos EUA (equipamentos médicos).
Vale ressaltar a relação existente entre o grupo das regiões italianas, que no pós-guerra tiraram proveito do processo de industrialização, e por grau de industrialização entendemos a relação entre os assalariados da indústria manufatureira e os residentes, assim afirmamos que a proliferação das pequenas unidades e sua concentração em sistemas territoriais impulsionou a industrialização do que chamamos de Terceira Itália.
A importância dos distritos não foi imediata, sofreu preconceitos de mentalidades enraizadas no que se refere a leis que regem o crescimento econômico, a idéia de uma expansão fundada sobre micro empresas, segundo economistas é uma ilusão estatística, em fenômeno efêmero, uma regressão e muitos rejeitaram a idéia de que a proliferação das empresas pudesse refletir mais que uma simples descentralização e pudesse criar empregos autênticos.
Outro obstáculo, amparado na teoria econômica dominante, é oriundo da indiferença demonstrada pelo teórico da economia no concernente a aspectos territoriais que escapam a esfera dos custos de transporte e dos mecanismos de localização. A recusa ao padrão por um conceito de sistema econômico local paralisava os estudos a cerca dos distritos.
Graças a intervenção de alguns experts da universidade de Toscana, da Emilia e da Marche, diretamente envolvida no fenômeno dos distritos industriais fez a resistência acadêmica, política e sindical ficar parcialmente enfraquecida.
Pesquisas empíricas sobre os distritos resultaram no reconhecimento de que a virtude e a contribuição das elaborações conceituais e teóricas contemporâneas estão ligadas ao reconhecimento da diversidade e da variabilidade das formas do progresso industrial.
A literatura sobre os distritos industriais reside no fato de que a história e a geografia são determinantes, que uma teoria elaborada no vazio e depois adaptada a partir da realidade social, passa por perigosas deformações de interpretação.
Becattini prefere pensar os distritos como entidades econômicas elementares as quais poderíamos aplicar diretamente as técnicas da análise econômica e a partir das quais poderíamos, também, elaborar uma forma de nova compatibilidade socioeconômica.
Nada nos impede de pensá-los conceitualmente como agregados sociais que nela se formaram espontaneamente e se mantém unidos por forças econômicas, sociais e culturais ainda pouco estudadas.
O sistema de valores e a ideologia que prevalece no distrito constituem uma variável que não pode ser autônoma nem hoje nem amanhã, não dá para pensar que a coesão que mantém os trabalhadores das empresas e os residentes unidos tende a se afrouxar, parece inexorável que cedo ou tarde a convergência atual comece a enfraquecer.
Concebemos o distrito industrial como uma fase de evolução ao longo de uma das diversas vias possíveis da industrialização, suas chances de perenização dependem da evolução dos modos de consumo e das tecnologias de produção.
Enquanto permanecer a favorabilidade ao crescimento dos distritos industriais especializados estes, tenderão a constituir-se como excedentes em relação ao incremento da demanda. As empresas marginais terão dificuldades e provavelmente alguns distritos marginais se desagregarão.
O que é um país competitivo?
Existe um DNA específico nos distritos industriais?
Pode um país ser competitivo em todos os setores? O que funciona bem e por quê?
6. O Caso do Distrito Italiano de Sassuolo e a Produção de Azulejos
No século XIII a cidade de Sassuolo atendia ao mercado local, e no pós-guerra, as necessidades de reconstrução fizeram surgir uma grande demanda por seus produtos.
Em 1955 a cidade contava com 14 empresas e em 1962 já eram 102. Em 1987 a cidade era líder na produção e exportação de azulejos num montante de US 10 bilhões, o que representava 30 da produção mundial e 60 das exportações.
Dificuldades de importação de maquinário (prensas vinham da França e Estados Unidos, a matéria prima do Reino Unido, os fornos da Alemanha), fazem pensar uma indústria local de máquinas, e com a proximidade das grandes empresas automobilísticas (Ferrari, Maserati e Lamborghini), fizeram alguns de seus engenheiros se interessarem criação e produção de fornos e prensas, que em 1970 já era realidade.
Em 1976 chegam novas inovações, são criados consórcios entre a universidade e agências regionais (as ACIs), gerando pesquisas e análise de novos processos. Piemme lança azulejos desenhados por artistas famosos.
Com a crise de energia, foi necessário buscar aperfeiçoar os métodos de queima, que eram de 16h a 20h, agora são de 50min a 55min, o número de funcionários de 225 cai para 90.
A grande rivalidade entre as empresas locais é o fato gerador desta onda de inovações e aperfeiçoamentos.
Surgem lojas de azulejos, em 1985 já somam 7600, em 1988 as vendas já eram de 80, mesmo assim as inovações não param, a demanda interna havia alcançado um grau de maturação, as associações criadas buscavam mercados externos, com investimentos de US 8 milhões na melhoria das vendas, abrem-se escritórios nos EUA (1980), na Alemanha (1984) e na França (1987).
Fácil perceber que o papel da empresa é conquistar e sustentar a vantagem competitiva, criar pressões para a inovação, procurar concorrentes capazes e perigosos que evitem a estabilidade, a dependência e a inércia, detectar sinais de mudanças e reagir antes, trazer pessoas talentosas de fora para gerenciar, formar compradores e fornecedores mais exigentes, ajudando-os a aprimorar e ampliar-se, fomentando a rivalidade doméstica, através de gerentes qualificados em bases do exterior com mobilidade e capazes de localizar bases domésticas eficientes e inovadoras.
Não esquecer que o papel da liderança também sofreu alterações, agora se espera lideranças competitivas, que acreditem nas mudanças, mantenham as empresas energizadas, reconheçam o valor das pressões e desafios, saibam que é necessário sacrificar a vida fácil pelas dificuldades, não serem passíveis ou sobreviventes, mas conquistadores de competitividade internacional contínua.
Considerações Finais
Porter (1993) defende como palavras de ordem na realidade atual: as fusões, as alianças, os parceiros estratégicos, a colaboração, e a globalização supra-naciona
Um país jamais poderá ser competitivo em todos os setores, sempre haverá coisas que funcionam bem e outras nem sempre.
Inovação gera oportunidades de mercado, pois como resultado de esforços incomuns, se sustenta na melhoria constante, já que exige ampliação permanente, e inovação que cessa, é empresa que estagna; ou seja, vantagem competitiva nada mais é, que melhoria constante da inovação.
Interessa frisar que além dos aspectos citados, é necessário vender no mundo inteiro, aplicar o marketing internacional, atentar para as instalações de produção, pesquisas em outros países, melhoria de acesso ao mercado, sem esquecer de tornar obsoletas as atuais vantagens para que as mudanças se instalem como algo instantâneo e bem sucedido, assim são condições fundamentais para estes processos, a avaliação dos fatores, da demanda, dos setores de apoio, estratégias, estruturas e rivalidade.
Se a visão deste artigo é correta, será necessário numa perspectiva de médio prazo, um estudo sobre a natureza e as leis de desenvolvimento dos distritos.
O modelo italiano não apresenta uma trajetória peculiar, pois se observada a região do Arco Alpino que inclui Áustria, Suíça, parte da Alemanha, França e Itália além do nordeste italiano, apresenta renda per capta 22% superior à média da União Européia, com taxa de desemprego de 4,6% e emprego industrial taxa de 39,2%.
A pergunta mais freqüente que sociólogos, geógrafos e economistas buscam responder e compreender, para futura replicabilidade:
-Que fatores determinam o sucesso de uma economia tão diversa da prevista nos modelos econômicos ortodoxos e fordistas (grandes empresas, grandes infra-estruturas, grandes cidades e grandes investimentos)
Algumas pesquisas internacionais giram em torno do conceito de que distrito industrial compreende um DNA específico, com partes menores que não podem ser identificadas, assim o resultado, o percurso de agregação ou contaminação produzirá o DNA necessário, não pode ser codificado já que se apresenta como mutante.
O papel do governo não deve ser nem de auxiliar, nem de buscar o livre mercado, pois não é ele que cria setores competitivos. Seu valor esta nas condições do diamante, as empresas envolvem o governo, mas não esperam por ele, pois como todos sabem, em se tratando de política, dez anos são uma eternidade. Aos governos devemos exigir os reforços à competitividade, o encorajar mudanças, estímulo à inovação, a promoção da rivalidade doméstica, cuidar dos sistemas educacionais, de infra-estrutura e assistência médica, a segurança dos produtos e o impacto ambiental, restringir a cooperação entre setores rivais, controlar fusões e aquisições; as empresas devem e podem contribuir com os melhores cientistas e engenheiros, promovendo e objetivando investimentos sustentados, sem a fixação de preços, já que este é um recurso inibidor e estagnador.
Por Lílian Schneider Borges (1) Marcelo Fouquet Rosembrock (2)
1) Formada em Letras pela Universidade Regional de Blumenau em , com Especialização em Turismo e Lazer pelo Instituto Nacional de Pós-Graduação / Universidade Regional de Blumenau em 2000, atualmente mestrando do curso de Desenvolvimento Regional na Universidade Regional de Blumenau. Professor do Centro Universitário Leonardo da Vinci em Indaial, Santa Catarina
2) Formado em Administração pela Universidade Regional de Blumenau em 1998, com Especialização em Turismo e Lazer pelo Instituto Nacional de Pós-Graduação / Universidade Regional de Blumenau em 2000, atualmente mestrando do curso de Desenvolvimento Regional na Universidade Regional de Blumenau. Professor do Centro Universitário Leonardo da Vinci em Indaial, Santa Catarina.
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