Bento XVI: humanidade vive parodoxo
O Papa Bento XVI recebeu, na manhã desta quinta-feira (24), no Vaticano, os participantes da 33ª Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Falando a 450 delegados dos 188 países-membros da FAO, Bento XVI lembrou que "toda pessoa tem o direito de ser livre da fome".
Os participantes da conferência da FAO estão em Roma para aprovar o novo estatuto da organização. O evento está em curso na capital italiana até o próximo sábado. O Papa aproveitou o encontro, para demonstrar seu "sincero apreço" pela atividade da FAO, com votos de que a experiência acumulada pelo organismo possa sugerir métodos "para afrontar com sucesso, a fome e a pobreza".
"A humanidade vive, neste momento, um dos paradoxos mais preocupantes: por um lado, se alcançam novos e positivos avanços no campo econômico, científico e tecnológico; mas por outro, se constata o crescimento da pobreza."
Segundo o último levantamento da FAO, existem mais de 850 milhões de pessoas famintas no mundo, sendo que a maioria esmagadora delas vive nos países em desenvolvimento. E quem mais sofre com a fome são as crianças. Cerca de 6 milhões de jovens mal nutridos morrem todos os anos.
Lembrando que os conflitos só pioram as condições de vida dos mais necessitados, o Santo Padre fez questão de elogiar o empenho da FAO em usar o diálogo como forma de lutar por melhores condições de desenvolvimento e segurança alimentar.
"A FAO, nestes anos, escolheu abrir novos horizontes na atividade de cooperação, encontrando no diálogo entre as culturas, um meio capaz de favorecer as condições de desenvolvimento e segurança alimentar. Hoje, mais do que nunca, existe a necessidade de instrumentos capazes de vencer as recorrentes tentações de conflito entre diferentes visões culturais, étnicas e religiosas. "
Por isso, lembrou o Pontífice, é necessário "fundamentar as relações internacionais sobre o respeito ao cidadão e sobre o recíproco acolhimento dos povos na única família humana".
"O verdadeiro progresso é somente aquele que garante a dignidade do ser humano em sua totalidade e propicia ao povo dividir seus recursos espirituais e materiais para benefício de todos."
Nesse contexto, Bento XVI observou que os povos indígenas são freqüentemente vítimas de "apropriações indébitas". O Pontífice ressaltou ainda que, enquanto alguns países são submetidos ao controle internacional, a opinião pública fecha os olhos para outros conflitos étnicos e tribais que condenam à fome e expõem milhões de pessoas ao risco da morte.
"Esses conflitos _ disse o Papa _ registram a sistemática eliminação de vidas humanas, a expulsão de pessoas de suas terras, as quais são obrigadas a fugir de uma morte inevitável e passam a viver em condições precárias nos campos de refugiados."
Outra preocupação do Santo Padre manifestada à FAO foi a questão agrária: Bento XVI convidou os países-membros da organização a discutir a reforma agrária e o desenvolvimento rural.
"Trata-se de uma questão antiga, para a qual a Igreja sempre voltou suas atenções, preocupando-se em particular com os pequenos agricultores. Talvez um caminho a seguir seja o de assegurar às populações rurais os recursos e instrumentos indispensáveis, a começar pela formação e educação junto a estruturas organizativas que auxiliem a pequena empresa agrícola familiar e as formas cooperativas."