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Europa ainda necessita de uma alma, afirma Jacques Delors

"… se os governos resolverem falar da Europa como se estivessem no Congresso de Viena, há dois séculos, não há nada a fazer". 
 
Deputado ao Parlamento Europeu entre 1979 e 1981, e Presidente da Comissão Europeia entre 1985 e 1994, Jacques Delors acompanhou de perto a queda do muro de Berlim e o processo de reunificação alemã. No dia 7 de Outubro, após a sessão solene no hemiciclo de Bruxelas, Delors falou  sobre alguns dos desafios com que a União Europeia se confronta atualmente. "A anti-pedagogia não vem das instituições europeias, mas sim dos governos nacionais", garante Delors.

Era o Presidente da Comissão Europeia durante o processo de reunificação alemã. Qual foi o seu papel nesta "aceleração da história"?

JD: Os acontecimentos de 1989 poderiam ter desencadeado, se não uma guerra mundial, pelo menos confrontos sangrentos e um período de instabilidade. A forma como o processo decorreu não teria sido possível sem Gorbatchev, que foi muito criticado posteriormente, George Bush pai, Kohl e Lothar de Maizière. Os chefes de estado e de governo da Comunidade aceitaram muito rapidamente a ideia de que os alemães de Leste faziam parte da Europa. Eu era o Presidente da Comissão Europeia, tinha o direito de iniciativa e o papel de guardião dos Tratados. Empenhei-me, desde 1988, em chamar a atenção para os problemas existentes e, a partir da queda do muro de Berlim, em explicar que os alemães de Leste tinham o seu lugar na Europa. Fui criticado por algumas pessoas, mas penso ter contribuído para esse movimento histórico.

Jacques Delors: "A Europa continua a necessitar de uma alma"

Teve receios sobre a integração da República Democrática da Alemanha na Comunidade Europeia?

JD: Sim. O balanço final é positivo, mas um homem com a minha responsabilidade deve ter receios. Não havia garantias de que o processo corresse bem. Muitos alemães ocidentais manifestavam grande entusiasmo em ajudar o Leste e muitos dirigentes da RFA estabeleceram empresas na ex-RDA, cuja economia se encontrava em muito más condições. Apesar de o processo ainda não estar concluído, considero que a Alemanha fez um bom trabalho ao longo destes 20 anos.

Poderão os ensinamentos da reunificação alemã ajudar a Europa a dar resposta aos desafios actuais, designadamente no que se refere à integração de novos Estados-Membros?

JD: A situação atual á bastante diferente. Os acontecimentos de 1989 permitiram, por um lado, a abertura à reunificação alemã e, por outro, a abertura ao alargamento da Europa. Penso que aquilo que se passou na Alemanha teve uma forte carga emocional para os alemães ocidentais. No que se refere a outros países, sempre defendi o alargamento, mas trata-se de uma questão diferente. Talvez o método não tenha sido o melhor, mas se eu estivesse no poder também o teria facilitado. Falta, entre os europeus, uma verdadeira compreensão do legado deixado pelos "pais da Europa", e não apenas dos interesses comuns. É necessário manter essa chama acesa. Afirmei, uma vez, que "a Europa necessita de uma alma". Essa afirmação pode ter chocado alguns crentes, mas foi no sentido laico que o afirmei. A Europa continua a necessitar de uma alma.

Afirmou hoje, perante os eurodeputados, que graças ao Parlamento Europeu a democracia pluralista e viva não é um conceito vão, mas sim uma realidade. Como é que a Europa poderá reatar com os cidadãos uma relação muitas vezes descrita como inexistente?

JD: Relembrei que a democracia europeia existe e que é graças ao Parlamento Europeu, por exemplo, que a directiva sobre a liberdade de serviços foi reequilibrada e aprovada. No que se refere aos 27 governos, quantos é que falam dos trabalhos do Parlamento Europeu? Quantos explicam aos cidadãos que existe uma verdadeira democracia na Europa? Nenhum. A anti-pedagogia não vem das instituições europeias mas sim dos governos nacionais.

É frequente ouvir dizer que o projecto europeu está encravado. O que pensa dessa afirmação e qual é a sua visão do futuro da Europa?

JD: Acabo de indicar uma das razões pelas quais o projecto está encravado, mas existem outras. A globalização provoca um certo nacionalismo, até mesmo um certo regionalismo. Além disso, o individualismo ganhou terreno em todas as nossas sociedades, o que prejudica tanto a democracia nacional como a democracia europeia.

Daniel, um dos cibernautas que visitam e participam nos debates lançados no perfil Facebook do Parlamento Europeu, afirmou que "até agora a União Europeia tem sido um projecto do topo para baixo e, para que seja possível uma verdadeira unidade, é necessário que passe a ser um projecto de baixo para o topo. O que pensa desta afirmação?

JD: Não está errada. No início, o projecto foi conduzido com o entusiasmo do pós-guerra e, em seguida, tornou-se um projecto essencialmente elitista, económico. Mas uma vez que a Europa não é uma federação como os Estados Unidos da América, os intermediários responsáveis por dar vida à democracia são os governos nacionais. Só que, se os governos resolverem falar da Europa como se estivessem no Congresso de Viena, há dois séculos, não há nada a fazer. Não é possível fazer a Europa contra os governos, mas os governos não estão entusiasmados com a Europa, estão longe disso.

"l'Europa ha bisogno di un'anima"

"Sono i governi nazionali ad aver perso l'entusiasmo nel progetto europeo" 
 
Sono passati 20 anni dalla riunificazione della Germania, un evento che ieri il Parlamento ha voluto celebrare insieme a Jacques Delors, ex presidente della Commissione europea, e a Lothar de Maizière, il primo ministro della Germania dell'Est eletto democraticamente. Ne abbiamo approfittato per intervistare Delors.
Jacques Delors, francese, uno degli architetti dell'idea "Europa" negli anni Ottanta e Novanta, alla testa della Commissione per quasi un decennio, dal 1985 al 1994. Membro del partito socialista francese, deputato al Parlamento europeo dal 1979 al 1981, presidente del think tank Notre Europe, l'onorevole Delors con i suoi 85 anni è un personaggio che ha ancora molte cose da dire.

Nelle sue parole spiccano l'elogio al "buon lavoro" svolto dalla Germania negli ultimi venti anni e l'esortazione agli Stati membri dell'Europa di oggi ad impegnarsi in una reciproca comprensione per ritrovare un'anima comune. Non manca la preoccupazione per la crisi in cui è precipitato il progetto europeo, minato dagli atteggiamenti spesso egoistici dei governi nazionali, dalla globalizzazione e da un crescente individualismo.

«Onorevole Delors, lei era presidente della Commissione europea al tempo della riunificazione tedesca. Qual è stato il suo ruolo in questa "accelerazione della storia"?»

JD: Gli avvenimenti che si sono susseguiti sempre più velocemente nel 1989 avrebbero potuto portare, se non a una guerra mondiale, a dei conflitti violenti e un periodo di instabilità.

Se non è successo lo dobbiamo a Mikhail Gorbaciov, all'allora presidente degli Stati Uniti George H.W. Bush, al cancelliere tedesco Helmut Kohl e a Lothar de Maizière. Al tempo, io mi trovavo a capo della Commissione europea. Avevo il diritto di iniziativa e ero il custode dei trattati. A partire dal 1988 mi sono sforzato di attirare l'attenzione sui problemi da affrontare e, all'indomani della caduta del muro di Berlino, ho cercato di spiegare che anche i tedeschi dell'Est potevano far parte dell'Europa. Sono stato criticato da alcuni, ma tutto questo ha aiutato a indirizzare la storia nella giusta direzione.

«Ha mai avuto dei timori rispetto all'integrazione della Germania dell'Est nella Comunità europea?»

JD: Sì, certo. Il bilancio finale è stato positivo, ma è inevitabile che una persona al posto mio avesse dei timori. Non ero sicuro che tra i tedeschi dell'Est e quelli dell'Ovest sarebbe andato tutto bene. Tuttavia c'era un forte entusiasmo di molti tedeschi dell'Ovest: volevano aiutare i loro concittadini dell'Est. Molti dirigenti della Germania occidentale scelsero di creare delle imprese nella Germania orientale, dove la situazione economica era terribile.

Nel complesso non tutto è stato ancora fatto, ma credo che la Germania, negli ultimi venti anni, abbia fatto un buon lavoro.

«La riunificazione della Germania ha dato all'Europa una lezione che potrebbe esserle utile nel processo di integrazione dei nuovi Stati membri?»

JD: La situazione oggi è molto diversa da allora. È vero che gli avvenimenti del 1989 hanno aperto la strada sia alla riunificazione tedesca che all'allargamento dell'Europa, ma quello che è successo in Germania ha avuto un fortissimo impatto emotivo sugli europei della parte occidentale. Era ancora l'Europa dei sei grandi Stati, la Germania ne faceva parte.

Per quanto riguarda gli altri paesi ho sempre sostenuto una politica di allargamento, ma è tutta un'altra storia rispetto alla riunificazione tedesca. Forse non è stata messa in pratica nel modo giusto. In ogni caso, se fossi stato al potere, l'avrei incoraggiata.

Tra gli europei ci vorrebbe una vera comprensione reciproca e non soltanto interessi comuni. Bisogna tenere viva questa fiamma. Una volta ho detto che l'Europa ha bisogno di un'anima. Posso aver sconvolto qualche credente, ma io ho pronunciato questa affermazione in senso laico. E oggi l'Europa ha ancora bisogno di un'anima.

«Grazie al Parlamento europeo, una democrazia reale e pluralista non è più un concetto vuoto, ma è una realtà», ha detto ieri (giovedì 7 ottobre) ai deputati europei. Come può l'Europa rinnovare con i suoi cittadini un legame che per molti si è ormai rotto?»

JD: Durante il mio intervento di ieri ho ricordato come la democrazia europea sia qualcosa che esiste realmente. Eppure tra i 27 governi degli Stati membri quanti parlano dei lavori del Parlamento europeo? Quanti spiegano che in Europa c'è una democrazia?

Non c'è ne è nemmeno uno.

L'atteggiamento negativo non viene dalle istituzioni europee, ma dai governi nazionali.

«Il progetto europeo sembra sempre di più in crisi. Cosa ne pensa e qual è la sua visione dell'Europa?»

JD: Uno dei motivi per cui il progetto europeo è in panne è per la globalizzazione che risveglia i nazionalismi, anzi quasi un regionalismo diffuso. In più nella nostra società l'individualismo sta guadagnando terreno e questo fa male sia alla democrazia nazionale che a quella europea.

«Uno dei nostri fan su Facebook ha lasciato un messaggio: "Finora l'Unione europea è stato un progetto imposto dall'alto, ma per una vera unità dovrebbe diventare un processo che parte dal basso". Cosa ne pensa?»

JD: Non ha torto.

All'inizio il progetto è nato sulla scia dell'entusiasmo del dopoguerra, ma si è poi trasformato in un qualcosa di elitario, concentrato sulla parte economica. Per farla semplice: l'Europa non è una federazione come gli Stati Uniti. Per creare una democrazia comune gli intermediari non possono che essere i governi nazionali e se questi scelgono di parlare dell'Europa di oggi come se fossimo ancora ai tempi del Congresso di Vienna, allora non c'è niente da fare.

L'Europa non può essere fatta contro la volontà dei governi nazionali. Purtroppo sono questi ultimi a non mostrare più alcun entusiasmo per il progetto europeo.