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A língua de Dante

La lingua di Dante: come si parlava nel medioevo?

Por ocasião do Dantedì 2021, ano em que foi celebrado o aniversário de 700 anos da morte do Grande Poeta italiano Dante Alighieri, Chiara Torrisi, formada em Arqueologia e história antiga, publicou em seu STORIA TRA LE PAGINE, um belíssimo post sobre a língua de Dante. A autora é a italiana Valentina Iosco, proprietária do Instagram @ioedante, especialista em Filologia Moderna, que discorre sobre a Florença medieval através das palavras, cuja parte do texto traduzimos e apresentamos a seguir.

Boa leitura.

Que língua era falada em Florença entre os séculos XIII e XIV?

Crescimento econômico e afirmação do vernáculo (volgare)

A cunhagem do fiorino em 1252 e a batalha da Meloria em 1284 são dois eventos que sancionam o início da supremacia de Florença sobre o território toscano. A indústria da lã é ladeada por inúmeras outras atividades manufatureiras e artesanais, organizadas em torno de uma estrutura nuclear denominada empresa.

A expansão da atividade mercantil confunde-se com a afirmação do vernáculo italiano: era essencial ao comerciante saber ler e escrever no volgare para gerir os seus negócios e ao mesmo tempo ter um conhecimento básico do latim para poder ler atos notariais. Impossível não pensar na passagem em que Leon Battista Alberti (Genova 1404 - Roma 1472) afirma que «é ofício do comerciante» ter sempre «caneta na mão» e «mãos tingidas de tinta».

Latim, língua da cultura. E o volgare?

Em Florença, tiveram um papel fundamental na possibilidade de acesso à cultura, uma parte dos frades dominicanos de Santa Maria Novella e os franciscanos de Santa Croce . Um outro ponto de referência foi constituído por juízes e notários, que mediavam diariamente duas culturas e duas línguas: o latim e o vernáculo.

Qualquer sentença, decisão pública e ato privado é escrito somente em latim, que é a língua da lei, assim como no tempo de Dante o latim também é a língua da Igreja, da cultura e das universidades. O tabelião escreve em latim e na sua frente encontra pessoas que não conhecem esse idioma, mas precisam de escrituras notariais, como no caso de casamentos e testamentos. Acontece que o notário lia em latim, mas depois traduzia para o vulgar. A atividade de mediação e tradução dos notários estende-se também aos textos literários, tanto que entre os séculos XIII e XIV são os "vulgarizadores" por excelência: traduzem obras latinas para as pessoas que conhecem e usam apenas o vernáculo (volgare).

Dante cresceu e formou-se em Florença na segunda metade do século XIII quando a cidade «a cidade estava em plena expansão econômica e social e o vernáculo, favorecido pela alfabetização crescente, se afirmava a todos os níveis, tanto no uso prático quanto nos usos literários» (Manni 2013: 27).

A língua de Dante e a origem do italiano

A linguagem da Divina Comédia: dos latinismos ao volgare

Dante dobra o meio expressivo com maestria para exprimir a realidade em qualquer nível, da concretude violenta do Inferno, à luminosidade beata do Paraíso. Dialetalismos não faltam nos inúmeros diálogos, que além de caracterizar a origem das almas, enriquecem o léxico do poema. Vejamos três exemplos, um para cada cantica, de inserções aloglotas e latinismos:

Issa

«[…] ché più non si pareggia ’mo’ e ‘issa’»
Inferno XXIII, v. 7

Significa 'agora' e é um advérbio de tempo que vem do latim ipsa ora. Na época em que Dante escreve, é uma forma tipicamente lucchesa, que conota a origem de Bonagiunta de Lucca.

Giuggiare

«e io la cheggio a lui che tutto giuggia»
Purgatorio XX, v. 48

Giuggiare é um galicismo que significa 'julgar': em francês jugier e em provençal jutjar. É pronunciado por Hugh Capet, rei da França que viveu entre 941 e 996, que pede vingança daquele que tudo julga, que é Deus.

Plenilunio

«Quale ne’ plenilunïi sereni»
Paradiso XXIII, v. 25

O termo 'plenilunïi' eleva a expressão «luna tonda» presente no canto XX do Inferno. É um composto do latim de plenus «cheio» e luna «lua».

A riqueza lexical de Dante, que inclui os termos mais concretos e cotidianos como "ghiottone" (comilão), "muffa" (mofo) e "sudore" (suor), para chegar a latinismos eruditos como "laco" e "tralucare", deixou uma marca indelével em nossa cultura linguística e história.

Leia aqui o artigo na íntegra (em italiano)